Parque eólico de Mucuripe, no Ceará: a estatal Chesfd está 19 meses atrasada em relação aos projetos para construção de linhas de transmissão para parques eólicos (Gentil Barreira/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 6 de fevereiro de 2014 às 13h53.
São Paulo - Enquanto uma seca prejudica a produção de hidroeletricidade no Brasil, 48 parques eólicos permanecem ociosos porque não estão conectados à rede elétrica.
A estatal Chesf, uma unidade da Centrais Elétricas Brasileiras SA, está 19 meses atrasada em relação aos projetos para construção de linhas de transmissão para parques eólicos erguidos por empresas como a Renova Energia SA e a CPFL Energias Renováveis SA.
Os parques, que poderiam alimentar 3 milhões de casas, são parte de um plano do governo para mais que duplicar a energia obtida do vento, da biomassa e de pequenas hidrelétricas até 2022, segundo a empresa de planejamento energético do governo, conhecida como EPE.
Cinco anos depois que o Brasil começou a leiloar contratos para a compra de energia de parques eólicos, o atraso ressalta os desafios que o governo está enfrentando para diversificar a produção, pois as barragens respondem por dois terços do fornecimento nacional.
O mês de janeiro mais seco em 60 anos está drenando os reservatórios das maiores usinas hidroelétricas do país, levantando preocupações de que possam ocorrer blecautes e racionamento de água se as chuvas não chegarem logo.
“Houve uma entrevista de um diretor da Chesf no Fantástico em que ele disse exatamente isso, que a Chesf deu um passo maior do que a perna, mas era assim mesmo, que tinha que dar. A entrevista para mim é um escândalo”, disse José Carlos de Miranda Farias, diretor de estudos de energia elétrica da EPE. “Um escândalo porque é como se fosse natural atrasar”.
Energia não utilizada
Os consumidores ainda têm que pagar pela energia não utilizada mesmo se os parques eólicos permanecem desligados, porque os contratos do governo com as construtoras garantem aquisições mínimas.
Eles estão pagando cerca de R$ 560 milhões pela energia eólica desligada e cerca de R$ 3 bilhões para ligar usinas termoelétricas que estão substituindo a energia eólica que falta, segundo a associação da energia eólica, a ABEEólica.
“O ideal seria que a empresa estivesse produzindo, entregando. Seria bom para o sistema e para o equipamento instalado, porque ele foi feito para gerar, não para ficar parado”, disse Jorge Augusto Saab, analista da Rio Bravo Investimentos SA, acionista da Renova, em entrevista por telefone. “É culpa de uma empresa estatal que não foi competente para entregar essa linha de transmissão”.
A Aneel, reguladora do setor de energia, multou a Chesf em R$ 12 milhões por seus atrasos na transmissão da energia do vento. A empresa com sede em Recife planeja recorrer das multas e conectará alguns parques eólicos do estado do Rio Grande do Norte até o final de fevereiro, disse o CEO Marcos Aurélio Madureira da Silva. O restante das linhas da Chesf será concluído até o final do ano, disse ele.
“Nós temos um conjunto grande de obras com prazos estabelecidos e muitas vezes os prazos que foram definidos nos leilões, ou mesmo as atualizações que recebemos, não se mostraram viáveis durante o período de execução”, disse Silva, em entrevista por telefone. A empresa tem cerca de 100 projetos de transmissão em seu portfólio. “A nossa prioridade hoje é concluir as obras”.
Os atrasos foram causados por licenciamento ambiental, negociações de propriedades e achados arqueológicos, disse ele.
Belo Monte
Silva disse que a Chesf está estudando entrar no leilão de contratos para construir uma rede de transmissão de R$ 5 bilhões para servir Belo Monte, o projeto de construção de uma represa na Amazônia onde será instalada a terceira maior usina hidrelétrica do mundo.
A empresa tomaria uma participação minoritária em qualquer oferta. O leilão está programado para começar amanhã, às 10 da manhã, na Bolsa de Valores de São Paulo.
No dia 4 de fevereiro, um blecaute afetou 6 milhões pessoas em partes de 11 estados e ocorreu quando curtos-circuitos foram automaticamente acionados para evitar o desligamento de todo o sistema, disse um assessor de imprensa do Operador Nacional do Sistema Elétrico, que pediu para não ser identificado devido à política da empresa, em entrevista por telefone, ontem.
Funcionários do governo e empresas se reunirão hoje para discutir o que aconteceu, disse o funcionário.
“Entre 2011 e 2012, o governo do estado do Rio Grande do Norte simplesmente parou de trabalhar em eólicas”, disse Jean-Paul Prates, diretor do CERNE, Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, um núcleo de referência de Natal, capital do estado onde estão localizados diversos parques eólicos.
“Quando todos acordaram para o problema, já havia dois anos de atraso. Os mesmos dois anos que fazem diferença na situação atual”.