Ministro Carlos Marun concedeu entrevista coletiva no Palácio do Planalto (Valter Campanato/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 25 de junho de 2018 às 20h45.
Última atualização em 25 de junho de 2018 às 21h59.
Brasília - O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou nesta segunda-feira que, se as investigações sobre o acordo de delação firmada pelos executivos da J&F se aprofundarem, mais gente será denunciada e foi categórico em apontar que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot sabia das tratativas do então procurador Marcello Miller para combinar a versão da colaboração premiada com integrantes do grupo empresarial.
"Eu afirmo com a mais absoluta convicção de que ele (Janot) já sabia", disse Marun, em entrevista coletiva no início da noite no Palácio do Planalto. Ele disse ter "dificuldade de acreditar" que um acordo de delação premiada como esse conte com a ajuda de um procurador ligado diretamente a Janot, no caso Miller, sem que o procurador-geral da República soubesse.
Mais cedo, o MPF denunciou à Justiça Federal de Brasília Marcello Miller e a advogada Ester Flescher, por corrupção passiva, e os executivos da J&F Joesley Batista e Francisco de Assis e Silva por corrupção ativa.
Segundo a acusação criminal, Miller, ainda como procurador da República e auxiliado por Ester Flesch, então sócia do escritório Trench Rossi Watanabe (TRW), aceitou promessa de vantagem indevida no valor de R$ 700 mil para orientar os administradores do grupo J&F a celebrar um acordo de confidencialidade com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que posteriormente resultou no acordo de colaboração premiada, assinado em 3 de maio de 2017.
A delação da J&F, que atingiu em cheio o presidente Michel Temer, foi duramente criticada por ter dado imunidade penal aos executivos do grupo. Após a revelação de supostas irregularidades no acordo de delação, Janot pediu a rescisão da colaboração dos principais executivos do grupo.
Marun insinuou que os recursos de um contrato de R$ 15 milhões para que Miller prestasse assessoria jurídica a um escritório de advocacia que atuou para a J&F possa ter sido repassado para outros integrantes da cúpula do MPF.
"Precisa contratar alguém para isso? É só falar a verdade", disse, embora tenha ressalvado que não estava dizendo que os recursos foram para Janot.
O ministro, que foi relator da CPI da JBS, empresa do grupo J&F, disse que já naquela ocasião ficou "mais do que evidente", na sua avaliação, a necessidade de indiciamentos e denúncia no caso. Para ele, o intuito do grupo de Janot era derrubar o governo Temer.
Marun defendeu o prosseguimento das investigações do caso referente à delação da J&F.