Em 30 anos, aeroportos deverão receber investimentos de ao menos R$ 447 milhões no período (Amanda Perobelli/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 15 de julho de 2021 às 07h16.
Última atualização em 15 de julho de 2021 às 11h50.
O leilão de 22 aeroportos regionais paulistas que o governo de São Paulo vai realizar nesta quinta-feira não deverá atrair grandes operadores aeroportuários, de acordo com especialistas ouvidos pelo GLOBO. A retração da demanda da aviação civil em meio à pandemia e a incerteza quanto ao crescimento da aviação regional deverão limitar o interesse pelos ativos.
O grupo Socicam, operador de médio porte, é considerado favorito no certame, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. A empresa administra atualmente os aeroportos federais de Cuiabá, Sinop, Rondonópolis e Alta Floresta, no Mato Grosso. Procurada, a companhia não quis comentar sobre o leilão paulista.
Os aeródromos no interior do Estado serão concedidos pela gestão de João Doria (PSDB) por 30 anos, e deverão receber investimentos de ao menos R$ 447 milhões no período. Com a concessão, o governo prevê economizar ao menos R$ 700 milhões com a manutenção dos aeroportos no prazo dos contratos.
A maior parte dos investimentos previstos (R$ 266,5 milhões) está no lote Sudeste, que tem 11 aeroportos e tem como principal aeródromo o de Ribeirão Preto, que antes da pandemia recebia cerca de 1 milhão de passageiros ao ano.
Também fazem parte do grupo as pistas de Araraquara, Avaré, Bauru-Arealva, Franca, Guaratinguetá, Marília, Registro, São Carlos, São Manuel e Sorocaba. Quem levar os aeroportos, vai precisar aportar R$ 75,5 milhões nos primeiros quatro anos de contrato, de acordo com o edital.
O aeroporto de Sorocaba, hoje voltado à aviação executiva, tem enfrentado a competição do aeroporto privado São Paulo Catarina, da JHSF, localizado em São Roque. O concorrente é mais próximo da capital paulista e recentemente obteve autorização para voos internacionais.
Para o secretário de Logística e Transportes do Estado, João Octaviano Neto, o aeroporto de Ribeirão Preto tem vocação para ampliar seus voos regulares e explorar até mesmo voos executivos e de carga em rotas internacionais.
— O operador pode fazer investimentos na busca da melhor performance para o aeroporto, como colocar aviação executiva internacional. O privado vai poder explorar comercialmente os prédios da área aeroportuária. Damos todas as condições para que transforme isso em um excelente negócio — afirma Octaviano Neto.
O segundo bloco a ser licitado, chamado de Noroeste, também com 11 aeródromos, tem como principal ativo o de São José do Rio Preto. Ainda compõem o lote os aeroportos comerciais de Araçatuba, Presidente Prudente e Barretos, além de pistas em Andradina, Assis, Dracena, Penápolis, Presidente Epitácio, Tupã e Votuporanga.
As outorgas mínimas previstas no edital são de R$ 6,8 milhões para o bloco Noroeste e R$ 13,2 milhões para o Sudeste. Vencerá a concorrência quem oferecer o maior ágio em relação a esses valores.
— A expectativa é baixa em relação à competição nesse leilão, os aeroportos mais importantes são mesmo Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. Os interessados devem ser operadores menores e nacionais, devido ao desenho do projeto, voltado à aviação regional — avalia Lucas Sant’Anna, sócio do escritório Machado Meyer.
Sant’Anna salienta que operadores logísticos também podem ter interesse em participar do projeto.
— A exploração de receitas acessórias, como o aluguel de hangares e estacionamentos, além da possibilidade de desenvolver projetos imobiliários nas áreas dos aeroportos, é que dão atratividade ao leilão — diz Rodrigo Campos, sócio do escritório Porto Lauand.
Segundo ele, a Voa-SP, atual concessionária de cinco aeroportos regionais paulistas concedidos em 2016, pode ser também uma das interessadas.
— O projeto atual é bastante parecido ao que eles já administram.
A demanda retraída em meio à pandemia não é necessariamente um problema se as projeções de demanda do governo paulista estiverem corretas, na avaliação do advogado Luís Felipe Valerim, professor da FGV Direito e sócio do escritório XVV.
— O governo modulou as projeções de demanda em razão da pandemia, que é crítica para o momento atual da aviação, mas não para o projeto. Uma vez que a retomada da demanda por voos domésticos é mais rápida, especialmente na aviação de negócios — afirma.
A população adensada das maiores cidades do interior paulista e o PIB elevado dos municípios podem contar a favor do projeto, segundo ele, mas é preciso que o investidor aposte na realização do potencial da aviação regional.
— Faz sentido esses aeroportos serem bons ativos, há um potencial histórico para o desenvolvimento da aviação regional, embora ele até hoje não tenha se concretizado — diz Valerim.
Matéria atualizada às 11h45 para correção do valor total investido. Investimento total previsto é de R$ 447 Milhões, diferentemente dos R$ 447 bilhões citados anteriormente.