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São Paulo arde e tira gravata por causa do calor

São Paulo arde neste verão: o janeiro mais quente desde 1943 obrigou os moradores a mudarem alguns hábitos, inclusive a forma de se vestir

Mulher bebe água de coco no Parque do Ibirapuera: acostumada a ser mais fresca e chuvosa que o litoral, São Paulo também derreteu no início de 2014 (Marcelo Camargo/ABr)

Mulher bebe água de coco no Parque do Ibirapuera: acostumada a ser mais fresca e chuvosa que o litoral, São Paulo também derreteu no início de 2014 (Marcelo Camargo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 4 de fevereiro de 2014 às 10h04.

São Paulo - São Paulo arde neste verão: o janeiro mais quente desde 1943 obrigou os moradores a mudarem alguns hábitos, inclusive a forma de se vestir, abandonando o terno e a gravata que vestem o ritmo frenético da metrópole.

Acostumada a ser mais fresca e chuvosa que o litoral, São Paulo, que fica em um planalto a 700 metros do nível do mar, também derreteu no início de 2014, um recorde desde que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) iniciou o registro, há 71 anos.

Os hábitos paulistanos foram alterados, por exemplo, na empresa de tecnologia TOTVS, onde os empregados receberam com alívio o fim da obrigatoriedade de usar terno porque as temperaturas têm facilmente chegado aos 40° nos termômetros das ruas da cidade.

"O momento que vivemos com este calor impulsionou uma mudança em nosso modo de vestir", justificou Cristiano Brasil, diretor de Recursos Humanos da Totvs.

Segundo o Inmet, o forte calor em São Paulo se deveu à formação de um sistema de alta pressão que ficou "semiestacionada" na região sul e sudeste por causa da falta de umidade, que permaneceu no sul amazônico em direção ao Paraguai e à Bolívia.

A situação impediu que se formasse a chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul, responsável pelos dias mais chuvosos desta época do ano e famosa por causar estragos de todo tipo nas ruas de São Paulo, com enchentes e inundações.

O clima seco já afeta os níveis de reservatórios de água na região metropolitana de São Paulo e a cidade corre o risco de sofrer racionamento nos próximos meses.

Segundo o Inmet, em janeiro foi registrada a menor umidade para o mês nos últimos 29 anos, 21,4%, justamente em São Paulo, conhecida como "a terra da garoa" ou por possuir as quatro estações em apenas um dia.

A empresa estatal paulista Sabesp, responsável pelo abastecimento de água na região, emitiu um comunicado em 28 de janeiro alertando para o menor nível no sistema de abastecimento dos últimos dez anos e pedindo à população para reduzir o consumo de água.

Um destes reservatórios, na região norte da cidade, na Serra da Cantareira, com capacidade para quase 1 trilhão de litros, está num nível considerado crítico, pois trabalha com apenas 22% de sua capacidade, a pior em 39 anos.


"É o terceiro verão consecutivo com menos chuvas do que o esperado", informou Sabesp.

O período de chuvas, que vai de outubro a março no sudeste, serve para encher as represas e ter reservas no tempo de seca, que vai de abril a setembro.

Para o Inmet, por outro lado, não houve quedas significativas, com volumes de 237,9 mm de chuvas em seus registros, com uma faixa de normalidade que varia entre 218 e 284 mm.

O problema se deve à falta de chuvas em dezembro de 2013, que foi de 81,3mm, muito abaixo dos esperados 208,8mm para o mês.

Para o meteorologista do Inmet, Franco Vilella, São Paulo está atingindo recordes de altas temperaturas, mais do que de baixas.

E por causa do calor o que não tem faltado é assunto. É sobre o calor que as conversas giram em torno em bares, táxis, entre vizinhos e até desconhecidos. O grande assunto do verão na selva de edifícios caoticamente construídos durante décadas de crescimento desenfreado e sem planejamento.

"Não podemos associar diretamente um evento ao aquecimento global estatisticamente falando, mas este é um fenômeno esperado em um cenário de mudança climática", explicou Vilella.

Para o especialista, não é possível dizer que a alta temperatura esteja vinculada a um fenômeno de mudança climática "mas também não pode se descartar essa possibilidade".

Para Cristiano Brasil, com ou sem mudança climática, algumas empresas já começaram a abandonar a formalidade nos dias de calor insuportável, adaptando o dress code dos empregados.

"Acho que isto pode ser uma tendência nas empresas que entendem o que as novas gerações demandam. Pode acontecer de as empresas começarem a ver a necessidade de caminhar com as novas gerações e que tenham um apetite inovador", comentou.

Os empregados de sua empresa, revelou, foram a trabalhar com uma satisfação "notória" depois de serem liberados da gravata.

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