Saneamento (Dipayan Bose/NurPhoto/Getty Images)
Colunista
Publicado em 23 de abril de 2025 às 09h00.
Última atualização em 23 de abril de 2025 às 11h13.
Já parou para pensar sobre saúde preventiva? Como evitar contrair alguma doença? O conceito, como o nome sugere, tem relação a um conjunto de ações e cuidados que possam prevenir o surgimento de doenças e manter o bem-estar ao longo da vida. E uma das coisas mais básicas para essa prevenção é ter água limpa em casa e um sistema de esgoto que funcione.
Mesmo que pareça óbvio, esse conceito continua distante para muitos cidadãos brasileiros. Por conta da falta de saneamento, em 2024, mais de 344 mil habitantes precisaram ser internados no Sistema Único de Saúde (SUS) por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI).
Esse dado é apresentado no estudo do Instituto Trata Brasil “Saneamento é saúde: como a falta de acesso à infraestrutura básica impacta na incidência doenças (DRSAI)”. Estamos falando de um conjunto de doenças evitáveis, como as de transmissão fecal-oral (diarreia, cólera, amebíase, etc.) e as transmitidas por vetores (dengue, febre-amarela, malária, etc.), que, em 2023, foram ao todo responsáveis por 11.554 mortes no Brasil.
Famílias em situação de vulnerabilidade, como em comunidades ou vilas sem acesso à água tratada e coleta de esgoto, são mais propensas a contrair essas doenças. Mulheres, crianças, pardos, amarelos e indígenas são também mais afetados por esse cenário. Um ciclo de subdesenvolvimento, pobreza e desigualdade perpetuado pela precariedade da infraestrutura básica.
A pesquisa aponta que, a presença de saneamento está diretamente relacionada com a incidência dessas doenças. Em 2024, como mencionado anteriormente, o país registrou um total de 344,4 mil internações por DRSAI, que, apesar de ser um valor extremamente alto, representa uma queda em relação aos 615,4 mil casos em 2008. Isso equivale a uma redução de 44% nos últimos 16 anos. Essa redução está intimamente ligada a melhoria dos indicadores de saneamento básico. O abastecimento de água tratada cresceu de 79,9% para 84,2%, e a cobertura de coleta de esgoto aumentou de 39,4% para 55,5%. Ao mesmo tempo, o tratamento de esgoto cresceu de 38,5% para 52,5% da população brasileira.
Ou seja, elevar o papel do saneamento nas questões primárias da saúde significa prevenir doenças evitáveis, criando barreiras contra a transmissão de patógenos e melhorando as condições de higiene. O impacto da universalização do saneamento seria visivelmente percebido nas alas dos hospitais, desafogando o sistema de saúde e reduzindo custos.
As metas de universalização do saneamento estabelecem que 99% da população deve ser atendida com água tratada e 90% com coleta e tratamento de esgoto até 2033. Alcançar a universalização deve reduzir em 86.760 o número de internações por DRSAI (Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado) no país. Em 2024, as internações por DRSAI no SUS custaram ao todo mais de R$ 174 milhões, resultando em uma média de R$ 506,07 por cada hospitalização. A redução projetada nos casos pode gerar uma economia de R$ 43,928 milhões por ano, representando um legado positivo de R$ 1,255 bilhão em despesas hospitalares evitadas.
É correto AFIRMAR (e com letras maiúsculas) que a chegada do abastecimento de água e da coleta e tratamento de esgoto a uma população que antes não tinha acesso a esses serviços deve reduzir em 69,1% a taxa de internações por DRSAI após 36 meses da intervenção, conforme analisa o estudo do Trata Brasil.
São inegociáveis os ganhos através do acesso à água tratada e coleta e tratamento de esgoto, porque Saneamento é Saúde. É inadmissível que crianças não possam se desenvolver plenamente na escola devido a doenças associadas à falta de saneamento básico. Da mesma forma, é inaceitável que trabalhadores tenham sua renda e desempenho afetados por essas enfermidades. É preciso, também, garantir que o básico chegue a todos, com soluções que considerem a vida e o cotidiano de comunidades indígenas e populações vulneráveis.
Retomando ao início: não existe saúde preventiva sem os serviços básicos. Os números mostram, sem margem para dúvida, que o saneamento é a base da saúde. Diante da inegável ligação entre saneamento básico e a saúde da população, é hora de prevenir o evitável. Já diziam os versos de Rita Lee: 'Me cansei de lero-lero, dá licença, mas eu vou sair do sério, quero mais saúde'.
* Luana Siewert Pretto é Engenheira Civil (UFSC), com mestrado na área de Análise Multicritério (UFSC) e pós-graduada em Gestão de Projetos (FGV). Atuou na concessionária estadual de saneamento básico de Santa Catarina (CASAN) e como presidente da Empresa Pública municipal de saneamento básico Companhia Águas de Joinville. Atualmente, é Presidente-Executiva do Instituto Trata Brasil.