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"Roupa suja se lava no tanque de casa", diz Mourão sobre clã Bolsonaro

Em entrevista à Bloomberg na noite de quinta-feira, vice-presidente disse, no entanto, que impacto da crise na imagem de governo é limitado

Vice-presidente Hamilton Mourão  (Adriano Machado/Reuters)

Vice-presidente Hamilton Mourão (Adriano Machado/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 11h50.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2019 às 11h56.

Os filhos do presidente Jair Bolsonaro deveriam parar de gerar crises com potencial de dano ao governo, disse o vice-presidente Hamilton Mourão, em meio ao embate que envolve o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Carlos Bolsonaro.

Em entrevista à Bloomberg na noite de quinta-feira, Mourão ponderou que as discussões protagonizadas pelo clã nas redes sociais são ruins, mas ainda não afetaram a imagem do governo.

"Diz a velha prática que roupa suja a gente lava no tanque da casa e não da casa dos outros. Esta crise está ligada às denúncias em relação aos gastos de campanha do PSL e a um certo protagonismo do filho do presidente que, no afã de defender o pai, interferiu levando as discussões e debates em rede social que acabam sendo de domínio público, o que não é bom", disse.

Denúncias de financiamento irregular de campanha envolvendo Gustavo Bebianno, que presidiu o PSL durante a corrida eleitoral, causaram um racha entre a família do presidente, amigos e aliados, o que incluiu um tweet de seu filho Carlos chamando o ministro de "mentiroso".

O escândalo, o segundo envolvendo um dos filhos do presidente desde que ele assumiu o cargo em 1º de janeiro, é o mais recente sinal de crescente rivalidade no núcleo do poder e surge em momento inoportuno.

O governo enviará ao Congresso, na próxima semana, a proposta de reforma da Previdência, que precisa de ampla maioria para ser aprovada e é vista como o divisor de águas do sucesso ou insucesso de Bolsonaro.

Apesar da turbulência, Mourão disse acreditar que o governo retomará a normalidade, com o retorno de Bolsonaro a Brasília, depois de 17 dias internado em hospital em São Paulo.

"Por enquanto, vejo um impacto muito limitado. Com a volta do presidente, as coisas começam a voltar ao normal e essas ‘futriquinhas’ vão ficar pelo caminho."

Como vários outros ministros, Mourão tem pouca experiência em política, mas o general de 65 anos vem sendo apontado por muitos em Brasília como uma força moderadora aberta ao diálogo e menos dogmática do que o presidente em questões, por exemplo, relacionadas aos homossexuais e às mulheres.

Para espanto dos bolsonaristas, o vice defendeu há alguns dias que o aborto seja uma opção da mulher. Tanto assim que Olavo de Carvalho, talvez o mais influente dos gurus políticos e conselheiros de Bolsonaro, acusou Mourão de traidor via Twitter.

"Não dou bola para isso, deixa para lá. Vivemos muito bem eu e ele (Bolsonaro). Não entendo por que se procurou prosperar isso; se você for analisar as coisas, o procedimento de ambos é normal a um presidente e a um vice", afirmou.

A parte mais difícil do trabalho é lidar "com todas as nuances, as pressões internas e externas", disse Mourão, que se levanta todas as manhãs às 5:15 e corre de 6 a 7 quilômetros antes de ir para o gabinete e manter uma agenda diária de cerca de dez horas, entre reuniões com políticos, empresários, embaixadores, sindicalistas e outros.

"A política é a arte do diálogo. Uma vez que entrei na política, tenho por dever me portar dessa maneira."

Gustavo Bebbiano, em nota distribuída à imprensa na noite de quinta-feira, negou acusações de financiamento irregular de campanha e disse não ser responsável pela definição de candidaturas que teriam sido beneficiadas por recursos oriundos do PSL Nacional.

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