A pacificação entre Maia e Neto começou em outubro (Adriano Machado/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 17 de dezembro de 2021 às 15h52.
Última atualização em 17 de dezembro de 2021 às 16h08.
O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ) se reaproximou do presidente nacional do DEM, ACM Neto. Os dois haviam rompido no início do ano por divergências na escolha do sucessor do deputado no comando da Casa. Agora, a reconciliação abre caminho para que o parlamentar volte à sigla da qual foi expulso em junho e assuma a direção do partido no Rio.
A pacificação entre Maia e Neto começou em outubro em um café da manhã em que estavam o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, ambos filiados ao DEM. O encontro, promovido pelo ex-ministro, aconteceu antes do evento que oficializou a fusão do partido com o PSL e criou o União Brasil. A nova legenda aguarda o aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ser concretizada, o que deve acontecer em janeiro. A partir de então, os ex-amigos, que chegaram até a trocar ofensas no auge da briga, voltaram a se encontrar com frequência.
Paralelamente a isso, o partido no Rio ficou com o diretório vago. Desde outubro, quando findou a intervenção da executiva nacional do DEM, motivada pela expulsão de Maia, não houve nomeação de um novo comando estadual para a sigla, que continuou presidida provisoriamente pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante, um dos principais líderes da bancada evangélica. O parlamentar, porém, é próximo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e vai seguir para o mesmo partido que ele.
A articulação para que Maia volte ao DEM e assuma a direção estadual do partido — presidida por seu pai, o vereador carioca Cesar Maia antes da intervenção nacional — faz parte de estratégia de ACM Neto de revidar a rasteira que levou de Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Para receber Boslonaro em seu partido, o manda-chuva da sigla do Centrão aceitou romper os acordos que tinha com Neto na Bahia, estado no qual o demista pretende concorrer ao governo. No lugar, Valdemar prometeu apoiar o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos).
Em resposta à movimentação do PL, Neto pretende colocar alguém de sua confiança no comando do futuro União Brasil no Rio e, assim, não apoiar o candidato de Valdemar ao governo do estado, o governador Cláudio Castro, que pretende tentar a reeleição. Antes de brigarem, o presidente do DEM e Rodrigo Maia tinham uma relação de anos. O parlamentar também tem uma força política relevante no estado por ser aliado do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e outros políticos tradicionais fluminenses.
Para pavimentar a volta de Maia ao partido e, por consequência, sua ascensão ao comando do União Brasil fluminense, Neto tem conversado com o vice-presidente nacional do PSL, Antonio Rueda. Nos planos originais da futura legenda, a presidência do diretório do Rio ficaria com o PSL, hoje comandado pelo prefeito de Belford Roxo, Waguinho.
Esse é um dos principais obstáculos para os planos de Neto. Isso porque Waguinho é apadrinhado por Rueda, e, na avaliação de membros do PSL, dificilmente o cacique da legenda abriria mão do comando no Rio.
Outro entrave é como ficará o grupo político de Maia. Com a sua expulsão, seus aliados planejavam migrar para o PSD, assim como fez Eduardo Paes quando deixou o DEM em maio. O ex-presidente da Câmara estará no Rio neste fim de semana para conversar com os companheiros e decidir seus próximos passos.
Uma eventual volta de Maia ao DEM, com ele assumindo a presidência do partido no Rio, também beneficiaria Sóstenes. Isso porque, com o ex-presidente da Câmara no futuro União Brasil, Waguinho, desafeto político do parlamentar evangélico, sairia enfraquecido.
A origem da briga entre Maia e Neto foi a sucessão para a presidência da Câmara. Enquanto o deputado apoiou Baleia Rossi (MDB-SP), boa parte da bancada do DEM aderiu à candidatura de Arthur Lira (PP-AL), que tinha o apoio do presidente Jair Bolsonaro. Maia se sentiu traído por Neto.