Brasil

Roberto Alvim diz desconfiar de "ação satânica" em sua demissão

Ex-secretário pediu desculpas à comunidade judaica e voltou a dizer que trechos semelhantes ao discurso nazista não foram propositais

O vídeo de Roberto Alvim (Secretaria da Cultura/Divulgação)

O vídeo de Roberto Alvim (Secretaria da Cultura/Divulgação)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 20 de janeiro de 2020 às 16h22.

Última atualização em 20 de janeiro de 2020 às 16h38.

São Paulo - Três dias depois de ser demitido por copiar trechos de um discurso nazista, o ex-secretário da Cultura Roberto Alvim disse desconfiar de uma ação “satânica” por trás do episódio.

“Estou orando sem parar, e começo a desconfiar não de uma ação humana, mas de uma ação satânica em toda essa horrível história”, escreveu.

Em uma mensagem compartilhada em grupos de WhatsApp, Roberto Alvim voltou a dizer que o discurso muito semelhante ao de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista entre 1933 e 1945, foi mera coincidência.

“Não sabia que aquela frase tinha uma origem nazista, porque a frase em si não tinha nenhum traço de nazismo. Errei terrivelmente ao não pesquisar com cuidado a origem e a associações de algumas frases e ideias”, destacou.

Embora Alvim defenda que a semelhança não foi proposital e que ele não sabia que os trechos eram de Goebbels, outros elementos do vídeo também evocavam o paralelo nazista, como o enquadramento e a música escolhida, um trecho da ópera preferida de Hitler.

“A ópera Lohengrin foi postada por minha mulher pouco tempo antes no Facebook, por puro acaso. Acho a ópera linda, e a coloquei por se tratar da ópera escrita após a conversão de Wagner ao cristianismo”, afirmou.

O texto de Roberto Alvim, que circula em grupos de WhatsApp, foi publicado na página do Facebook do cineasta Josias Teófilo – que afirmou não endossar a mensagem, apenas compartilhá-la.

Convite

Após a demissão de Alvim, o presidente Jair Bolsonaro convidou a atriz Regina Duarte para assumir a pasta. Nesta segunda-feira (20), os dois se reuniram no Rio de Janeiro. Após o encontro, o Palácio do Planalto informou, por nota, que a atriz estará em Brasília na próxima quarta-feira (22) para “conhecer” a secretaria especial da Cultura.

Convidada pelo presidente Jair Bolsonaro há três dias, a artista diz agora que “está noivando” com o cargo, atualmente sob condução do interino José Paulo Martins.

Perfil

Roberto Rego Pinheiro, que usa Alvim como nome artístico, atuava como diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional de Artes (Funarte).

Ele foi proprietário, entre 2006 e junho deste ano, do teatro Club Noir, na Rua Augusta, mantido em conjunto com sua esposa, a premiada atriz e diretora Juliana Galdino.

O apoio do casal à candidatura de Jair Bolsonaro, em 2018, gerou incômodo em parte da classe artística, atacada pelo hoje presidente e majoritariamente identificada com ideais progressistas.

Em entrevistas, Alvim credita sua reorientação política à descoberta de um tumor no intestino em 2017 e conversão ao catolicismo, além de reclamar de uma suposta perseguição política da esquerda no direcionamento de verbas de fomento.

Em setembro de 2019 , Alvim escreveu em suas redes sociais que sentia “desprezo” por Fernanda Montenegro e a chamou de “mentirosa”. O motivo foi uma capa da revista Quatro Cinco Um que trazia a atriz de 89 anos vestida de bruxa numa fogueira de livros.

“A ‘intocável’ Fernanda Montenegro faz uma foto pra capa de uma revista esquerdista vestida de bruxa”, escreveu Alvim. “Na entrevista, vilipendia a religião da maioria do povo, através de falas carregadas de preconceito e ignorância. Essa foto é ecoada por quase toda a classe artística como sendo um retrato fiel de nosso tempo, em postagens que difamam violentamente o nosso presidente”, afirmou.

Acompanhe tudo sobre:CulturaJair Bolsonaro

Mais de Brasil

Lula estava com Haddad no Alvorada durante explosões na Praça dos Três Poderes

Ibaneis está na Itália e tem volta a Brasília prevista para sexta, após duas explosões na cidade

Segurança cerca STF com grades após explosões na Praça dos Três Poderes