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RN vive onda de ataques coordenados; governo federal enviará Força Nacional

A pedido da governadora Fátima Bezerra (PT), o governo federal deverá enviar ao menos cem agentes da Força Nacional de Segurança e 30 viaturas

RN: Os ataques tiveram início no final da noite desta segunda-feira e ocorreram de forma coordenada (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

RN: Os ataques tiveram início no final da noite desta segunda-feira e ocorreram de forma coordenada (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 14 de março de 2023 às 21h06.

Cidades do Rio Grande do Norte estão registrando uma onda de ataques coordenados contra prédios públicos e veículos desde a noite desta segunda-feira, 13. Os casos, que chegaram a cerca de 20 cidades, incluindo a capital, Natal, consistem em incêndios de estruturas de prefeituras e do governo, além de ataques a tiros a bases policiais e sedes do Judiciário.

A pedido da governadora Fátima Bezerra (PT), o governo federal deverá enviar ao menos cem agentes da Força Nacional de Segurança e 30 viaturas, segundo Ricardo Cappelli, secretário-executivo Ministério da Justiça e Segurança Pública.

As empresas de ônibus recolheram as frotas nas maiores cidades do Estado e as instituições de ensino suspenderam as aulas. Na noite desta terça-feira, o Ministério da Justiça informou que um preso apontado como líder de uma facção criminosa foi transferido para o sistema penitenciário federal. "O custodiado é acusado de ser líder de facção criminosa que, segundo as investigações, continuava como mandante de crimes como homicídios e tráficos de drogas, além de estar envolvido em planos de fugas e ataques a patrimônios públicos e privados, hoje, nas cidades de Natal e Mossoró", informou a pasta.

Quem são os envolvidos nos ataques do RN?

Pelo menos 18 suspeitos de envolvimento com os ataques foram presos - dois eram foragidos da Justiça - e um adolescente foi detido. Além disso, também foram apreendidos: cinco armas de fogo, um simulacro, 18 artefatos explosivos, três galões de gasolina, quatro motos e um carro, além de dinheiro e munições. Um homem morreu em confronto com policiais, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Sesed).

Diante da situação, diligências investigativas foram reforçadas e ações ostensivas, ampliadas em pontos estratégicos do Estado. "Providências judiciárias também foram solicitadas pelas forças de segurança pública aos órgãos competentes", informou o governo potiguar.

"Entre a madrugada e a manhã de hoje, nove pessoas foram presas; e armas, drogas, dinheiro, motocicletas e artefatos explosivos foram apreendidos. Em uma ocorrência, registrada na zona oeste de Natal, houve um confronto entre forças policiais e criminosos ocasião em que um homem foi ferido, mas não resistiu", informou em nota, a assessoria governamental à Agência Brasil.

Na manhã desta terça-feira, o secretário de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed/RN), Francisco Araújo, afirmou que o Serviço de Inteligência da pasta identificou o risco de ocorrência dos atentados e os efetivos foram reforçados em pontos estratégicos em todo o estado. Uma reunião foi realizada com representantes das demais instituições que integram a Segurança Pública também na manhã desta terça-feira.

"Como deliberações desta reunião foram reforçadas às diligências investigativas por parte das instituições responsáveis, assim como, a ampliação das ações ostensivas em pontos estratégicos do Rio Grande do Norte. Providências judiciárias também foram solicitadas pelas forças de segurança pública aos órgãos competentes", informou a pasta estadual.

"Já intensificamos estratégias e ações integradas em todo o Rio Grande do Norte. Não haverá recuo por parte do governo do Estado", afirmou o coronel Francisco Araújo, titular da Sesed.

Quando começaram os ataques?

Os ataques tiveram início no final da noite desta segunda-feira e ocorreram de forma coordenada. Foram registradas ocorrências em Parnamirim, na Grande Natal, e também em cidades como Campo Redondo e Acari, no interior, e Tibau do Sul, no litoral.

Os criminosos atearam fogo em ônibus e microônibus em Natal e Parnamirim, duas das maiores cidades potiguares. Em alguns casos os passageiros foram obrigados a descer do veículo e ameaçados de morte se registrassem a ação em fotos ou vídeos.

Há a suspeita de que o Sindicato do Crime esteja por trás das ações criminosas. A facção, que nasceu como uma dissidência do Primeiro Comando da Capital (PCC), possui forte atuação ligada ao narcotráfico no Estado e tem membros espalhados por diferentes penitenciárias potiguares. O governo estadual acredita que as restrições de comunicação nas cadeias e ações investigativas contra a criminalidade podem ter desencadeado a reação criminosa.

Força Nacional está sendo mobilizada, diz governadora

"Neste momento, o secretário-executivo do ministério da Justiça, Ricardo Capelli, seguindo recomendações do ministro Flávio Dino, nos informou que atenderá integralmente e prontamente toda solicitação do governo do RN. Já estão mobilizando homens e viaturas da Força Nacional de Segurança Pública para enviar ao RN. Estamos agindo na repressão aos criminosos, com medidas enérgicas e necessárias sendo tomadas. Iremos atuar em conjunto com o governo federal e sob o comando do nosso sistema policial" escreveu no Twitter a governadora Fátima Bezerra.

Cappelli informou, em nota emitida pelo governo do Estado, o envio de 100 integrantes da Força Nacional e trinta viaturas ao Rio Grande do Norte. "Logo após esta reunião entraremos em contato com o Ministério da Defesa porque é importante conseguir enviar ainda hoje os homens, armamentos, tudo", disse.

Em entrevista ao canal CNN, a governadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra (PT), definiu os ataques da madrugada desta terça como "repugnantes e abomináveis".

Fátima disse ainda que a investida criminosa é uma resposta do "chamado crime organizado" às medidas que o seu governo tem adotado no controle do sistema prisional e no combate à criminalidade em Rio Grande do Norte. Ela afirmou que líderes de facções estão sendo transferidos de presídios.

Também pelo Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino, confirmou o envio da tropa. "Atendendo à solicitação da governadora Fátima, do Rio Grande do Norte, autorizei o envio da Força Nacional para colaborar com a ação das forças estaduais de segurança. Outras ações estão sendo providenciadas e posteriormente serão anunciadas".

Clima tenso

As imagens dos incêndios provocados pelos criminosos começaram a circular nas redes sociais no início da manhã desta terça-feira, 14. Muitos trabalhadores e estudantes já se deslocavam para suas respectivas atividades quando o clima de tensão começou a tomar conta da população. O maior temor era para quem aguardava ou já estava dentro do transporte público.

"Fiquei sabendo dos ataques pelo Instagram, a caminho do trabalho. No retorno, as paradas estavam lotadas e as pessoas não conseguiam pedir um transporte por aplicativo. Eu tive sorte pois consegui rápido. Mas estou com medo. O clima nas ruas está muito tenso", relatou a administradora Alânia Batista, que trabalha e mora na zona Sul de Natal.

Quem não conseguiu um transporte por aplicativo contou com a sorte para voltar para casa. Com quase nenhum ônibus em circulação, os que ainda não tinham retornado para as garagens estavam lotados.

Breno Medeiros, aluno de Design na UFRN, saiu da aula direto para a parada de ônibus, mas desistiu de esperar e decidiu fazer o trajeto até a sua casa andando. Foi uma caminhada de quase 8 quilômetros, mas o estudante sabe que era o único jeito de voltar para sua residência: "Fiquei toda hora olhando a pista pra ver se vinha ônibus. Não passou nenhum, se eu tivesse esperando tava lá até agora pelo jeito."

Já a aluna Caren Bandeiras, de 21 anos, também estava na UFRN quando começou a receber as notícias. Moradora de São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, a estudante de História conseguiu voltar para casa nos últimos ônibus que circulavam pela cidade. "Dentro do ônibus estava um clima de terror, todo mundo bem assustado, todo mundo bem tenso. O trânsito estava bem caótico, carros de polícia passando com uma certa frequência", relata.

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