Rio de Janeiro: total de doente graves internados simultaneamente foi recorde: 607 (Ricardo Moraes/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 18 de março de 2021 às 07h55.
Última atualização em 18 de março de 2021 às 11h45.
O aumento da procura por vagas nas redes pública e privada para tratar Covid-19, sobretudo de UTIs, se transformou em uma corrida contra o tempo para tentar ampliar a oferta de leitos destinados a infectados pelo coronavírus no estado. O último balanço da Secretaria estadual de Saúde, na terça-feira, mostrava que 276 pacientes esperavam por uma vaga de terapia intensiva no Rio.
Uma mudança drástica em relação ao dia 1º do mês, quando havia 12 pessoas na fila. No município, a taxa de ocupação de UTIs na rede SUS chegou ontem a 95%, marca crítica — e 96 pessoas esperavam por vaga — e, pelo segundo dia consecutivo, o total de doente graves internados simultaneamente foi recorde: 607, um número preocupante que supera o momento mais sombrio da pandemia no início do ano passado.
— O cenário da Covid na cidade está evoluindo muito rápido — disse o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. — Temos mais leitos de UTIs. Mas, se a população não entender que precisa cumprir as medidas (sanitárias, como uso de máscaras e distanciamento), teremos dificuldades com vagas e muitas mortes.
Diante da possibilidade de ter que adotar regras ainda mais drásticas para evitar aglomerações, o que pode acontecer hoje, quando será feita uma avaliação da situação da rede, a prefeitura acena com novos leitos. Desde janeiro, já são mais 353 vagas. Nos próximos dias, Soranz promete abrir mais 180. Desse total, 50 de UTIs no Hospital São Francisco da Previdência, na Tijuca (contratado na rede privada), que já tinha aberto 50 para o município. Outros 50 leitos deverão vir de unidades de saúde estaduais e municipais. Para chegar a 180, faltam 80 que deverão vir da rede federal, o que depende de equipamentos e de profissionais de Saúde. Por nota, o Ministério da Saúde disse que há 91 leitos à disposição no Rio, sendo 42 de UTIs. Desses, 13 abertos esta semana.
A negociação de leitos na rede privada, de acordo com fontes do município, esbarra no alto custo da terapia intensiva. A ideia era conseguir mais 150 vagas, mas em hospitais privados as diárias mais acessíveis custam cerca de R$ 4 mil. O município, por sua vez, paga R$ 2,4 mil.
— A situação é difícil. A opção da prefeitura seria contratar mais médicos e se articular com a União para reabrir leitos federais para a Covid, como chegou a ser discutido na campanha eleitoral porque as vagas estão ficando escassas. Requisitar leitos na rede privada (por causa da pandemia) não é a melhor opção pois quase não há vagas. Em São Paulo, há unidades da rede privada que já não conseguem internar pacientes do SUS — diz Ligia Bahia, médica sanitarista e professora da UFRJ.
Enquanto o prefeito Eduardo Paes estuda novas restrições, o governador em exercício Cláudio Castro estendeu ontem as medidas restritivas no estado por mais uma semana. Desde sábado, bares só podem funcionar até as 23h e, assim como na capital, há “toque de recolher” das 23h às 5h. Castro quer abrir mais 500 leitos até o fim do mês, parte deles no Hospital Modular de Nova Iguaçu. As cirurgias eletivas na rede foram suspensas.
Presidente da Associação de Hospitais Privados do Estado, Graccho Alvim diz que os hospitais particulares têm atendido à demanda não apenas do Rio, mas também de outras regiões do país, o que explica o fato de as UTIs terem atingido a marca de 80% de ocupação.
— Com o esgotamento de vagas em UTIs da rede privada em estados como Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco, passamos a receber mais pacientes de outras regiões. Além disso, observamos que a permanência nos leitos de UTI quase dobrou (de 15 para 28 dias). Isso se explica porque temos recebido jovens que resistem mais à doença que os idosos — disse Graccho.
Hoje a cidade do Rio retoma a vacinação com mulheres de 75 anos e, amanhã, homens da mesma idade. A separação por gênero foi adotada para evitar aglomerações.