Paralimpíada: atleta iraniano Bahman Goldbarnezhad, de 48 anos, faleceu durante a prova de ciclismo de estrada (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2016 às 12h46.
O Rio se prepara para encerrar neste domingo seus Jogos Paralímpicos, os primeiros da América do Sul, que se anunciaram como um fracasso, mas que conseguiram seduzir o público, embora cheguem ao seu último dia de luto após a morte de um ciclista na véspera do encerramento.
Após onze dias de competição dominados pela China, a cerimônia que colocará fim aos XV Jogos Paralímpicos de verão, e ao ciclo de mega eventos no Brasil começará às 20h no Maracanã.
Em um espetáculo de duas horas que celebrará a música brasileira, o Rio apagará sua última chama e passará o bastão a Tóquio, sede dos próximos Jogos em 2020.
Mas, no templo do futebol, que ficou lotado na abertura, no dia 7 de setembro, o ambiente não será de festa.
Apenas um dia antes, o atleta iraniano Bahman Goldbarnezhad, de 48 anos, faleceu durante a prova de ciclismo de estrada, tingindo de luto a família paralímpica, que viveu a primeira morte na história de seus Jogos.
Durante a cerimônia será respeitado um minuto de silêncio por este atleta que competia com uma prótese na perna e perdeu a vida após sofrer um forte golpe na cabeça ao cair da bicicleta em uma descida.
Uma "terrível tragédia que entristece os grandes Jogos Paralímpicos do Rio", escreveu o presidente do Comitê Paralímpico Internacional (CPI), Philip Craven, que expressou suas condolências tanto à família do ciclista como a toda sua delegação.
Desde sábado, as bandeiras Paralímpica e iraniana balançam a meio mastro, como também o farão neste domingo durante a final do vôlei sentado entre Irã e Bósnia.
Preocupação inicial
Antes que a chama se apague, serão decididas igualmente as medalhas de rúgbi em cadeira de rodas e as tradicionais maratonas em duas categorias femininas e três masculinas, de acordo com o nível de deficiência.
Como nos Jogos de Londres, a China foi a grande vencedora da competição com 237 medalhas (103 de ouro), oito a mais que há quatro anos. Grã-Bretanha, Ucrânia, Estados Unidos e Austrália completam o quinteto de honra, enquanto os anfitriões brasileiros ficam em oitavo.
Uma forte preocupação precedeu os primeiros Jogos Paralímpicos da América do Sul, marcados pelas grandes dificuldades financeiras, como consequência, especialmente, dos gastos imprevistos durante os Jogos Olímpicos de agosto e da falta de interesse prévia do público.
E a cerimônia de abertura tampouco este a salvo da polêmica: vaias ao controverso presidente do Brasil, Michel Temer, a destacada ausência do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, e a bandeira da Rússia, excluída dos Jogos pelo escândalo de doping, aparecendo no desfile da delegação de Belarus marcaram a inauguração.
Sucesso de público
"Há um mês, estávamos em uma situação extremamente difícil, com somente 12% dos ingressos vendidos", recordou Craig Spence, porta-voz do CPI.
No final, foram vendidos mais de 2,1 milhões de ingressos que estavam disponíveis. Ao contrário do que ocorreu com os Jogos Olímpicos, onde alguns estádios estavam meio vazios devido aos altos preços para os brasileiros, os Paralímpicos se tornaram um plano atrativo, e barato (entre 10 e 20 reais em média), para muitas famílias.
Tanto que no último sábado foi batido o recorde de participação registrado em um dia dos Jogos Olímpicos, 153.000 pessoas, com as mais de 170.000 que compareceram neste dia para acompanhar as competições paralímpicas.
"O que lembraremos daqui é do barulho, da emoção e da energia dos brasileiros", declarou Spence, destacando que estes Jogos são "uma ocasião única para mudar a percepção das pessoas com deficiência".
No Rio, foram batidos 103 recordes mundiais, apagando ainda mais a fronteira entre o olimpismo e o paralimpismo.
"Ficamos impressionados com esta experiência e inspirados pela paixão dos cariocas. Agora estamos ainda mais motivados que nunca para oferecer os melhores Jogos possíveis em quatro anos", assegurou Toshiro Muto, presidente do Comitê Tóquio-2020.
A passagem de bandeira entre as duas cidades marcará também o final do ciclo de grandes eventos que fizeram com que o mundo olhasse para o Brasil.
Ficam para trás a Copa do Mundo e a Copa das Confederações de futebol, a cúpula da ONU sobre meio-ambiente Rio+20, a Jornada Mundial da Juventude com o papa Francisco, além dos Jogos Olímpicos. Todos concentrados nos últimos quatro anos sob a sombra da dúvida, dos atrasos e da rejeição popular em protestos de rua, mas que acabaram sendo um sucesso.
Terminada a festa, o gigante sul-americano deve agora se olhar no espelho para tentar superar a crise econômica e política que o sacode há meses.