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Rio deve aderir flexibilização conservadora sugerida por comitê científico

Grupo de especialistas propôs cronograma com reabertura mais lenta após reunião nesta segunda-feira

 (Tomaz Silva/Divulgação)

(Tomaz Silva/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 08h24.

Última atualização em 10 de agosto de 2021 às 08h24.

A Prefeitura do Rio deve anunciar, em breve, uma mudança no plano de flexibilização das medidas restritivas na cidade. O cronograma mais conservador foi sugerido pelo Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19, grupo formado por especialistas independentes que auxiliam a tomada de decisões no combate à pandemia, após reunião nesta segunda-feira. O documento elaborado pelos profissionais traz orientações mais cautelosas do que as divulgadas pelo prefeito Eduardo Paes no fim de julho, como o estabelecimento de um patamar mínimo de 50% da população completamente imunizada com a segunda dose ou com a vacina de dose única para iniciar a suavização das regras — a prefeitura pretendia começar a primeira fase já em setembro, quando estima ter 45% dos cariocas nessa condição.

Em ocasiões anteriores, a prefeitura seguiu as recomendações do comitê após as reuniões, que têm a ata publicada no Diário Oficial do município. A tendência deve se repetir desta vez. O próprio Eduardo Paes, logo após O GLOBO publicar as novas orientações dos especialistas, afirmou, em uma postagem no Twitter, que, "no final, são eles a voz de comando aqui na Prefeitura do Rio". Paes concluiu: "Vamos observando o cenário epidemiológico e o ritmo da vacinação e fazendo os ajustes necessários".

A principal diferença entre o calendário proposto pela prefeitura inicialmente e o cronograma sugerido pelos especialistas está na autorização para que boates, casas de show e demais eventos em ambiente fechado voltem a funcionar. No plano anunciado por Paes, isso aconteceria já na primeira fase de flexibilização, em 2 de setembro, com 50% da capacidade e público com esquema vacinal completo.

O comitê cientifico, contudo, sugere que esses espaços só retornem em uma segunda etapa, dentro das mesmas especificidades. Além disso, o calendário divulgado por Paes previa a liberação de 100% do público nesses ambientes na terceira e última fase da reabertura, medida que sequer consta, por ora, nas recomendações dos especialistas.

Segundo Fábio Leal, pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e membro do comitê, a cautela das recomendações se deve a duas razões principais: a propagação da variante Delta e o nível de cobertura vacinal da população com a imunização completa.

— São dois fatores objetivos. A variante Delta tem um nível maior de transmissibilidade. Por outro lado, embora a vacinação da população esteja avançando, ainda é pequeno o número de pessoas com a cobertura vacinal completa — explica.

O cronograma de reabertura sugerido pela junta de especialistas tem ainda como parâmetro a experiência de outros países:

— Nossa avaliação se baseia em informações preliminares que outros lugares divulgaram, no que acontece na Europa, nos Estados Unidos e em outros países que fizeram a abertura antes de nós, até pelo momento epidemiológico e pela dinâmica de vacinação. Normalmente, os pesquisadores se baseiam muito em trabalhos científicos e em publicações, mas infelizmente, nesse caso, precisamos nos basear nas evidências que estão acontecendo no momento. Não deixa de ser uma questão científica, mas é muito mais uma questão de recomendação baseada na experiência observada pelos especialistas do comitê, e obviamente a gente vai ter uma postura mais conservadora, mais cautelosa, justamente no sentido de retroceder caso qualquer atitude demonstre que possa ter um impacto negativo na evolução da pandemia. Então, se há uma explicação para sugerirmos determinadas mudanças numa etapa à frente do que tinha sido anunciado, é justamente por essa postura um pouco mais cautelosa — diz Leal.

Calendários também têm convergências

Em alguns pontos, a convergência entre os dois cronogramas é maior. Ambos defendem, por exemplo, que estádios de futebol possam reabrir com 50% da capacidade, para público com esquema vacinal completo, já na primeira etapa da flexibilização. Do mesmo modo, os dois planos concordam que, em um terceiro e último momento, só será preciso manter o uso de máscara obrigatório em ambientes hospitalares e transportes públicos. O calendário sugerido pelos especialistas, assim como o da prefeitura, impõe ainda a necessidade de patamares mínimos de vacinação também para as fases posteriores — 65% da população completamente imunizada para a segunda etapa, e 75% para a terceira.

Sobre os estádios de futebol, aliás, a prefeitura já acenou com um recuo nesta segunda-feira. Embora o órgão tivesse permitido a presença de 10% de público na cidade, uma nota técnica
voltou a vetar completamente a presença de torcedores. O principal motivo é o aumento recente nos casos da variante Delta da Covid-19, considerada mais contagiosa.

A divulgação de um calendário de flexibilização, no fim de julho, que previa até mesmo apresentações de DJs e shows pelas ruas da cidade em setembro, gerou críticas a Paes. No dia seguinte ao anúncio, ele precisou vir a público afirmar que estava descartada a hipótese de realização de grandes eventos já na primeira fase do plano. Na mesma postagem, o prefeito afirmou que a previsão era "mais conservadora do que qualquer experiência internacional".

Uma semana depois, na última sexta-feira, Paes voltou a abordar o episódio ao prorrogar as medidas restritivas em vigor no município até o dia 23 de agosto. Na ocasião, o prefeito destacou o aumento dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave registrado na cidade e pediu desculpas.

— Temos tido nessa semana e no fim da semana passada um aumento do número de casos de novo. A gente vinha tendo redução. Isso é basicamente fruto da variante Delta. E me leva a reafirmar algo que eu pessoalmente talvez tenha comunicado mal. Quando a gente anuncia uma programação de reabertura, e eu assumo responsabilidade por isso, a gente não quer dizer que tudo está sob controle. Toda nova medida tem relação com o cenário epidemiológico. Se a gente tem o número de casos aumentando, a tendência é fechar, não abrir. Assumo aqui a responsabilidade por ter passado uma outra impressão — assegurou o prefeito.

Veja o cronograma sugerido pelo Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19

Primeira etapa

Deve se iniciar quando 50% da população com esquema vacinal completo:

1- Permissão de realização de eventos em locais abertos de até 500 pessoas;

2- Permissão de público em estádio com esquema vacinal completo, de todos os presentes, com 50% da capacidade do ambiente.

Segunda etapa

Quando 65% da população com esquema vacinal completo:

1- Permissão para realização de eventos em locais abertos, com restrição de público até 1.000 pessoas com uso de máscaras obrigatório;

2- Abertura de danceterias, boates, casas de show e festas, em locais fechados somente para pessoas com esquema vacinal completo; e com 50% da capacidade do ambiente;

3- Desobrigar o uso de máscaras em locais abertos sem aglomeração, mantendo sua utilização obrigatória onde não se consiga manter o distanciamento.

Terceira etapa

Quando 75% da população com esquema vacinal completo:

1- Manutenção do uso de máscaras somente em ambientes hospitalares e transportes públicos.

2- Livre circulação, sem restrição de capacidade e distanciamento.

— São dois fatores objetivos. A variante Delta tem um nível maior de transmissibilidade. Por outro lado, embora a vacinação da população esteja avançando, ainda é pequeno o número de pessoas com a cobertura vacinal completa — explica.

O cronograma de reabertura sugerido pela junta de especialistas tem ainda como parâmetro a experiência de outros países:

— Nossa avaliação se baseia em informações preliminares que outros lugares divulgaram, no que acontece na Europa, nos Estados Unidos e em outros países que fizeram a abertura antes de nós, até pelo momento epidemiológico e pela dinâmica de vacinação. Normalmente, os pesquisadores se baseiam muito em trabalhos científicos e em publicações, mas infelizmente, nesse caso, precisamos nos basear nas evidências que estão acontecendo no momento. Não deixa de ser uma questão científica, mas é muito mais uma questão de recomendação baseada na experiência observada pelos especialistas do comitê, e obviamente a gente vai ter uma postura mais conservadora, mais cautelosa, justamente no sentido de retroceder caso qualquer atitude demonstre que possa ter um impacto negativo na evolução da pandemia. Então, se há uma explicação para sugerirmos determinadas mudanças numa etapa à frente do que tinha sido anunciado, é justamente por essa postura um pouco mais cautelosa — diz Leal.

Em alguns pontos, a convergência entre os dois cronogramas é maior. Ambos defendem, por exemplo, que estádios de futebol possam reabrir com 50% da capacidade, para público com esquema vacinal completo, já na primeira etapa da flexibilização. Do mesmo modo, os dois planos concordam que, em um terceiro e último momento, só será preciso manter o uso de máscara obrigatório em ambientes hospitalares e transportes públicos. O calendário sugerido pelos especialistas, assim como o da prefeitura, impõe ainda a necessidade de patamares mínimos de vacinação também para as fases posteriores — 65% da população completamente imunizada para a segunda etapa, e 75% para a terceira.

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