Galeria Prestes Maia: Prefeitura de São Paulo anuncia projetos de R$ 58 milhões para renovar a região central. (Reprodução/Wikimedia Commons)
Agência de notícias
Publicado em 26 de agosto de 2025 às 08h32.
A prefeitura de São Paulo deve publicar ainda neste mês uma licitação de mais de R$ 58 milhões para a revitalização de um trecho do centro vizinho ao prédio da administração municipal: a Praça do Patriarca, o Viaduto do Chá e as imediações do Theatro Municipal. As obras devem facilitar a reabertura da histórica galeria Prestes Maia, entregue à concessionária Novo Anhangabaú em 2021, que ainda planeja o que fazer com o espaço de seis mil metros quadrados que já funcionou como anexo do MASP e quase foi shopping 24 horas e museu.
A região vive sob críticas de abandono, insegurança e falta de atenção da prefeitura. Para lidar com o tema, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) aposta no projeto de revitalização. De acordo com o secretário de Infraestrutura Urbana e Obras São Paulo, Marcos Monteiro, os R$ 58 milhões previstos para as reformas são valores do ano passado, e o montante deve ser atualizado.
O plano mais recente prevê mudanças que incluem o restauro do piso da Praça Patriarca, o reposicionamento do ponto de ônibus e de bancas de jornal da região e a implantação do bonde histórico para informações turísticas. Também estão previstas reformas no Vale do Anhangabaú, sob concessão desde 2021. Além da área visível da região, a concessionária é responsável pelo uso e manutenção das subterrâneas galerias Formosa e Prestes Maia. Essa segunda, que liga a Praça do Patriarca ao Vale, seria beneficiada pelas reformas da gestão municipal.
Inaugurada em 1940 pelo então prefeito Francisco Prestes Maia (1896-1965), a galeria que leva seu nome já teve diferentes usos. Logo após a inauguração, o Salão Almeida Júnior se transformou em Salão Paulista de Belas Artes, com a presença de artistas nacionais como Anita Malfatti. Na década de 1970, depois de um processo de degradação, chegou a abrigar postos administrativos de órgãos públicos, como a Cohab e o Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), para pessoas com Aids.
Nas gestões municipais seguintes, até mesmo a ideia de transformá-la em um shopping center foi colocada em pauta — o que não seguiu adiante. Já em 2000, como resultado de um convênio com o MASP, a galeria funcionou como um espaço anexo ao museu. Chamada de Masp-Centro, a “filial” recebeu exposições temporárias e eventos até 2008, embora nunca tenha tido um acervo permanente. Em 2020, o prefeito da época, Bruno Covas (1980-2021), cogitou construir no local o Museu dos Direitos Humanos e Cidadania. Mais uma ideia que não saiu do papel.
Hoje, apesar de não estar fechada, a galeria segue sem uma destinação definitiva. Segundo a gestão da concessão, o local recebe eventos pontuais desde 2022. Ao total, foram cinco ações comerciais, como festas e eventos corporativos, e outras seis culturais, como uma edição da Casa dos Criadores e uma exposição atual sobre arte de rua, aberta até setembro.
"Não adiantava pensarmos em atrair comércio, varejo ou outras marcas enquanto o fluxo (de pessoas) ainda não estava estabelecido. A movimentação no entorno tem ajudado. A galeria Prestes Maia tem uma visibilidade muito grande para a cultura e para o entretenimento", diz Marcelo Frazão, vice-presidente executivo da WTorre Entretenimento, que integra o consórcio Viva o Vale, responsável pela concessão.
Mesmo que não haja uma previsão para a instauração de um projeto fixo, Frazão acredita que a galeria será diretamente beneficiada pela restauração da prefeitura na área.
"Ela permite um planejamento mais perene para o espaço. Há uma questão de maturação de ideias da nossa parte, claro, mas a ação da prefeitura nos proporciona condições estruturais", completa.
Quando tiver um projeto perene, a galeria Prestes Maia deve ser integrada às ações no Vale do Anhangabaú, como shows e atividades gratuitas diárias. Por hora, as movimentações no entorno já têm sido suficientes para impulsionar a ideia de uma utilização fixa. É o caso da recente inauguração do bar Formosa Hi-Fi, aberto na Galeria Formosa, localizada sob o Viaduto do Chá.
Há poucos metros do Theatro Municipal, o bar é comandado pelos empresários Facundo Guerra, Alê Youssef e Ale Natacci — todos tradicionais apoiadores do centro de São Paulo. Equipado com um sistema de som que se assemelha ao de salas de concerto, a ideia é ter toda noite algum convidado que toque uma seleção de mídias físicas, como discos de vinil.
"A ideia foi desenvolvida por dez anos e há três a gente decidiu que seria na Formosa. Quando o espaço ficou na mão da concessão, aí conseguimos a abertura para fazer o projeto acontecer", explica Facundo Guerra, que “namorava” a galeria há alguns anos.
O empresário — conhecido por projetos como o Vegas e o Bar dos Arcos — afirma que foi o maior investimento feito por ele até o momento. O projeto não pôde alterar a estrutura da galeria, tombada pelo patrimônio histórico, e manteve seus pisos e colunas de mármore. Além da preservação, eles recuperaram a Fonte dos Desejos da Praça Ramos de Azevedo e a passagem subterrânea entre o Viaduto do Chá e a entrada da antiga loja do Mappin. A fonte já foi reinaugurada, mas ainda não há previsão para a abertura da passagem.
A região também contará com uma nova unidade SESC. O espaço será inaugurado onde funcionava o antigo Mappin, de frente para o Theatro Municipal. Batizado de SESC Galeria, a unidade já tem realizado algumas atividades, mas ainda está em reforma.
A previsão é que o espaço seja inaugurado de forma parcial. No primeiro semestre do ano que vem, três andares podem estar disponíveis para visitação, com um serviço de cafeteria. Posteriormente, todo o edifício deve ser revitalizado até 2027.
Mesmo enquanto não é inaugurada, a instituição já realiza alguns eventos em parceria com a prefeitura, como a SESC Verão, no início deste ano, que contou com a ambientação especial “Praia do Centro”, sob o Viaduto do Chá.