Meirelles: durante a crise de 2002, juros subiram 8,4%, e, na crise de 2008, caíram 5% (Elza Fiúza/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2010 às 12h06.
Brasília - O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, fez hoje uma forte defesa da manutenção das reservas internacionais. Durante audiência pública na Comissão Mista do Orçamento no Congresso Nacional, Meirelles apresentou cálculo que estima que o benefício gerado pela manutenção das reservas foi de cerca de R$ 600 bilhões ou cerca de 17,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Apenas foi apresentado o resultado da conta, sem detalhes de como se chegou a esse valor. Ao mesmo tempo, Meirelles estimou que o custo de manutenção das reservas ficou em R$ 68 bilhões entre os anos de 2004 a 2010.
Na audiência pública, o presidente do BC argumentou que a manutenção das reservas é como um seguro que evita mais problemas para as economias. "É como um seguro que pode ser acionado nos momentos de sinistro e também ajuda a evitar problemas", disse, ao comentar que o benefício é ainda mais evidente quando há crise externa que afeta as economias. Meirelles argumentou que a manutenção das reservas permitiu que o Brasil reagisse de forma anticíclica à crise. "Na década de 90 quando tínhamos crise, o BC tinha de subir o juro. Na última crise, o BC pôde baixar o juro para aumentar a demanda", disse.
Meirelles apresentou quadro que mostra, por exemplo, que na crise de 2002 o juro básico brasileiro, a Selic, teve de subir 8,4 pontos. Na turbulência de 2008 e 2009, o juro caiu 5 pontos. Outro argumento de Meirelles é que a crise recente de 2008 e 2009 custou menos ao Brasil que em outros países. O argumento é que o déficit nominal do Brasil cresceu menos que o de outros países.
Em 2008, o déficit nominal brasileiro era de 2,6% do PIB e passou para 3,2% em 2009. No grupo das 20 maiores economias do mundo, o G-20, o déficit nominal saltou de 0,9% para 7,6% do PIB no mesmo período. Nos 20 maiores emergentes, o resultado fiscal passou de um superávit nominal de 0,3% em 2008 para um déficit nominal de 4,7% em 2009. Para 2010, Meirelles estima um déficit nominal cadente no Brasil, de 1,7% do PIB. Para 2015, o patamar deve estar em 1,2% do PIB.
O resultado nominal é obtido após o pagamento dos juros da dívida pública. Se houver déficit, é sinal de que o superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) não foi suficiente para o pagamento das obrigações com juros.
Inflação
O presidente do BC destacou ainda o compromisso da autoridade monetária em levar a inflação para o centro da meta, que é de 4 5%, e salientou que as projeções do BC indicam que a inflação futura será consistente com a trajetória definida no sistema de metas. Na Comissão Mista de Orçamento do Congresso, Meirelles também mostrou as projeções de mercado, que mostram a inflação em 4,5% já em 2012 e em 5% em 2011.
Meirelles salientou que a melhora das condições econômicas do País e os bons resultados obtidos na gestão da política monetária têm feito as taxas de juros nominal e real (descontada a inflação) caírem ao longo dos anos. "A tendência que se vê (nos últimos anos) é de queda nas taxas de juros", afirmou.
Em sua apresentação, o presidente do BC mostrou números ressaltando o crescimento do estoque de crédito no País e voltou a dizer que o regime cambial no Brasil é flutuante, sem metas para taxa de câmbio. Ele afirmou que a avaliação do custo fiscal da política monetária, tema da reunião no Congresso, passa por uma análise mais ampla, já que a boa gestão dessa política tem impactos positivos indiretos nas expectativas, na inflação, na taxa de câmbio e no crescimento econômico de longo prazo.
Para Meirelles, uma maneira de se avaliar os efeitos fiscais da política econômica de forma geral é a trajetória da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB), cuja tendência é de queda, tanto na visão do governo como na do mercado.
O presidente do BC salientou que os resultados dos fundamentos macroeconômicos gerados pelos regimes de meta de inflação, responsabilidade fiscal e flexibilidade cambial, combinado com política prudencial e de supervisão bancária sólidas, resultaram para a economia brasileira em "capacidade de absorver choques internos e externos, estabilidade macroeconômica e financeira, crescimento sustentável, crescimento do investimento e crédito e desenvolvimento do mercado de capitais". Segundo ele, o Brasil cresce neste ano mais que a média dos países emergentes, excluindo China, Índia e o próprio Brasil dessa conta.