Destruição na Síria: presidente do país se recusa a deixar o poder, apesar dos cinco anos de guerra (REUTERS/SANA/Handout)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2016 às 11h37.
Os representantes do governo sírio e da oposição chegaram a Genebra para iniciar na segunda-feira negociações indiretas sobre o futuro do país, devastado por quase seis anos de guerra que deixou mais de 270.000 mortos e milhares de refugiados.
O chefe da delegação governamental, Bashar al Jaafari, chegou na manhã deste domingo a Genebra para esta nova sessão de negociações que terá lugar durante quase duas semanas no Palácio das Nações das Nações Unidas.
Seu colega da oposição, Mohammed Alluche, e os outros membros do Alto Comitê de Negociações (ACN) chegaram no sábado à cidade suíça.
O secretário de Estado americano John Kerry, que se encontra em Paris, advertiu ao regime sírio e a seus aliados contra qualquer violação de seus compromissos de trégua e ajuda humanitária na Síria.
"Todas as partes devem respeitar o cessar das hostilidades, cooperar na ajuda humanitária e respeitar o processo de negociações para chegar a uma transição política" afirmou em coletiva de imprensa.
Kerry também afirmou que 600 combatentes do grupo Estado Islâmico foram mortos na Síria nas últimas três semanas.
"Na Síria, nas últimas três semanas, o Dash perdeu 3.000 km2 e 600 combatentes", afirmou Kerry, usando o nome em árabe do Estado Islâmico.
Esta nova sessão se inicia em um ambiante diferente da anterior, no final de janeiro, quando a ONU nem mesmo conseguir dar início às conversações.
Uma trégua patrocinada pelos Estados Unidos e a Rússia, e que entrou em vigor no dia 27 de janeiro, está sendo respeitada, apesar de algumas violações.
Isso permitiu que a ONU entregasse ajuda humanitária a cerca de 250.000 pessoas bloqueadas em zonas sitiadas.
Este ciclo de negoções patrocinado pela ONU estará centrado na formação de um governo que inclua todas as tendências, a redação de uma Constituição e a organização de eleições presidenciais e parlamentares.
Segundo o enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, o objetivo é organizar essas eleições em 18 meses.
No entanto, analistas acham que esta agenda não é realista, pois acreditam que o presidente Bashar Al-Assad não vá querer deixar o poder, como exige a oposição.
Damasco assinalou no sábado que o futuro do presidente sírio, Bashar al-Assad, continua sendo uma "linha vermelha" e que não irá discutir este tema com a oposição, nem com o enviado da ONU.
"Não negociaremos com ninguém que queira discutir a presidência. Bashar al-Assad é uma linha vermelha, e se eles querem manter esta posição, melhor não irem a Genebra", advertiu o chanceler sírio, Walid Muallem, referindo-se à oposição.
O enviado das Nações Unidas, Staffan de Mistura, "não tem o direito" de falar sobre as futuras eleições presidenciais na Síria, afirmou Muallem.
"Isto é responsabilidade exclusiva do povo sírio", frisou, em entrevista coletiva.
Muallem falou em formar um "governo de união", que designe uma comissão para redigir uma nova Constituição ou apresentar emendas à atual.
"Em seguida", acrescentou, "haverá um referendo, para que o povo sírio decida".
Desde as primeiras negociações, que fracassaram em 2014, o principal obstáculo tem sido o futuro de Al-Assad. O presidente se recusa a deixar o poder, apesar dos cinco anos de guerra.
As conversas acontecerão em salas separadas com representantes do governo e da oposição.