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Renan defende mudar lei de delação premiada, diz jornal

O presidente do Senado, Renan Calheiros, defendeu uma mudança na lei da delação premiada, em conversa gravada com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado


	Renan Calheios: presidente do Senado quer acabar com delação premiada de presos
 (Paulo Whitaker/REUTERS)

Renan Calheios: presidente do Senado quer acabar com delação premiada de presos (Paulo Whitaker/REUTERS)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 25 de maio de 2016 às 07h39.

São Paulo - O presidente do Senado, Renan Calheiros, defendeu uma mudança na lei da delação premiada, durante conversa gravada com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

Segundo a Folha de S.Paulo, a intenção de Renan é impedir que um preso se torne delator, que é um procedimento largamente utilizado pela operação Lava Jato.

Ainda segundo a Folha, durante a conversa, Machado sugeriu que era necessário "passar uma borracha" no Brasil, por meio de "um pacto".

Renan teria respondido: "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação".

Para Renan, os políticos todos "estão com medo" da Lava Jato. "Aécio [Neves, presidente do PSDB] está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa'", de acordo com transcrição do jornal.

Machado respondeu: "Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan."

Sérgio Machado, investigado pela Lava Jato, gravou pelo menos duas conversas com Renan Calheiros, segundo a Folha, em acordo de delação premiada. 

Ele também gravou o senador Romero Jucá, que, depois da divulgação, foi exonerado do cargo de ministro do Planejamento no governo provisório de Michel Temer.

Dilma e STF

Na conversa, Renan também sugeriu que poderia "negociar" com membros do STF a "transição" de Dilma Rousseff, hoje afastada da Presidência.

Machado quis saber por que Dilma não "negocia" com os membros do Supremo. Renan respondeu: "Porque todos estão putos com ela".

Renan narrou que a presidente Dilma teria dito a ele: 'Renan, eu recebi aqui o Lewandowski, querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável'.

Renan Calheiros ainda citou uma delação da empreiteira Odebrecht, que "vai mostrar as contas", em uma provável referência à campanha eleitoral de Dilma Rousseff.

Rodrigo Janot

No meio do diálogo, Machado critica o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. "O Janot é um filho da puta da maior, da maior...", mas a resposta de Renan é inaudível.

Machado prossegue: "Renan, esse cara é mau, é mau, é mau. Agora, tem que administrar isso direito. Inclusive eu estou aqui desde ontem... Tem que ter uma ideia de como vai ser. Porque se esse vagabundo jogar lá embaixo, aí é uma merda. Queria ver se fazia uma conversa, vocês, que alternativa teria, porque aí eu me fodo."

Renan responde apenas "Sarney", sugerindo que o amigo procure José Sarney, e depois recomendando que Machado trace uma estratégia com o prório advogado.

Defesa

Por meio da assessoria de imprensa, o presidente do Senado afirmou à Folha de S.Paulo que os "diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações."

"Todas as opiniões do senador foram publicamente noticiadas pelos veículos de comunicação, como as críticas ao ex-presidente da Câmara, a possibilidade de alterar a lei de delações para, por exemplo, agravar as penas de delações não confirmadas e as notícias sobre delações de empreiteiras foram fartamente veiculadas".

"Em relação ao senador Aécio Neves, o senador Renan Calheiros se desculpa porque se expressou inadequadamente. Ele se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação –e não medo– com a citação do ex-senador Delcídio do Amaral."

Já a assessoria do STF disse à Folha que o presidente do tribunal, Ricardo Lewandowski, "jamais manteve conversas sobre supostas 'transição' ou 'mudanças na legislação penal' com as pessoas citadas", isto é, Renan Calheiros e Sérgio Machado.

Segundo a nota, Lewandowski "participou de diversos encontros, constantes de agenda pública, com integrantes do Poder Executivo para tratar do Orçamento do Judiciário e do reajuste dos salários de servidores e magistrados".

O PSDB, também em nota enviada à Folha, afirmou que vai "acionar na Justiça" o ex-presidente da Transpetro.

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