Brasil

Relatório apontava como frágil área de obras do Metrô onde houve acidente

O relatório de impacto ambiental já apontava que o trecho das Estações Água Branca e Santa Marina até pouco antes da Estação Freguesia do Ó está mais sujeito a "problemas de recalque" e tem "fragilidade alta"

São Paulo: Ao apontar as fragilidades no entorno do rio (o chamado Aquífero Quaternário) os técnicos, ao emitir um parecer favorável à obra, mostram que existe a necessidade de monitoramento constante (RONALDO SILVA/Estadão Conteúdo)

São Paulo: Ao apontar as fragilidades no entorno do rio (o chamado Aquífero Quaternário) os técnicos, ao emitir um parecer favorável à obra, mostram que existe a necessidade de monitoramento constante (RONALDO SILVA/Estadão Conteúdo)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 10h11.

Última atualização em 3 de fevereiro de 2022 às 10h58.

A região em que surgiu uma cratera na Marginal do Tietê, próximo da Ponte do Piqueri, é considerada a de maior propensão para eventos do tipo entre as contempladas nas obras da Linha 6-Laranja. O relatório de impacto ambiental já apontava que o trecho das Estações Água Branca e Santa Marina até pouco antes da Estação Freguesia do Ó fica na planície aluvial do Rio Tietê e, portanto, está mais sujeito a "problemas de recalque" e tem "fragilidade alta".

Assinado pela Walm Engenharia e Tecnologia Ambiental e encomendado pelo Metrô para a posterior licença ambiental, o levantamento de 2012, quando a expectativa era que a linha passasse a operar no início de 2017, antes da série de atrasos e mudança da concessionária responsável. Ao apontar as fragilidades no entorno do rio (o chamado Aquífero Quaternário) os técnicos, ao emitir um parecer favorável à obra, mostram que existe a necessidade de monitoramento constante.

Fragilidade muito alta

Na análise geomorfológica, o entorno do rio é considerado de "fragilidade muito alta", enquanto o nível é "alto" no restante do trecho norte e "médio" nas demais estações.

Sobre a região do Rio Tietê, o texto do documento aponta que "são áreas propensas a recalques (rebaixamento/afundamento), que podem danificar pavimentos, redes de infraestrutura ou mesmo edificações, além de serem mais sujeitas a inundações".

O entorno da Marginal do Tietê é descrito como de solo mole, formado por sedimentos carregados pelos cursos d'água (os chamados "solos aluviais"). Ele é basicamente constituído por argila siltosa cinza e amarela e, na parte mais próxima da superfície, de argila orgânica, areia siltosa e aterro (provenientes das mudanças urbanas na região ao longo de décadas como a retificação do rio). "(Os pontos próximos da Marginal) são os que apresentam a menor capacidade de suporte, afetados pelas oscilações do lençol freático e, portanto, mais suscetíveis a problemas de recalque", continua o relatório sobre a obra

O "nível de fragilidade é muito alto", diz o documento, que cita também: "possibilidades de inundações periódicas, lençol freático pouco profundo e sedimentos inconsolidados sujeitos a acomodações constantes". Por outro lado, a região tem baixa suscetibilidade à erosão, diferentemente do trecho da Freguesia do Ó até a Brasilândia, de classificação "alta".

Cursos d'água

O relatório ainda pontua que os cursos d'água ao longo da linha tiveram as características naturais "bastante alteradas", com retificações e canalizações, além de terem se tornado receptores "dos mais diversos tipos de detritos/resíduos urbanos, que, visivelmente, alteram a qualidade das águas e provocam o assoreamento dos mesmos". Segundo o texto, as obras subterrâneas e as escavações necessárias para a Linha 6 exigirão "monitoramento sistemático de recalques, passíveis de ocorrer por diversas ações", como escavações em geral; (rebaixamento de lençol freático; desestabilização indireta do subsolo, por uso de explosivos ou vibrações".

O documento ainda cita que eventuais recalques podem ocorrer tanto na obra quanto nas imediações, em edificações, no sistema viário etc. Com entendimento semelhante, o parecer técnico da Cetesb de 2013 também ressalta a maior fragilidade das proximidades do rio, com solos suscetíveis à inundação.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Transportes Metropolitanos informou que a Acciona deve responder sobre as obras.

Já o consórcio responsável pela Linha 6 disse que já havia se manifestado na coletiva de imprensa com o governo do Estado ontem. Na ocasião, o diretor da Acciona no País, André De Angelo afirmou que a obra continua nos demais pontos e não vai parar. "Tivemos esse acidente pontual.".

Acompanhe tudo sobre:Metrô de São PauloMetrôsSão Paulo capital

Mais de Brasil

Preços dos alimentos cairão mais nas próximas semanas, diz ministro

Governo manda ONS tomar medidas para diminuir 'desligamentos' de parques eólicos e solares

Tribunal de Justiça de São Paulo mantém proibição de moto por aplicativo na capital

Conselho de Ética da Câmara aprova parecer pela cassação de Glauber Braga, que promete greve de fome