Bonifácio de Andrada: parlamentares avaliam que a indicação de Bonifácio faz parte de uma operação casada para salvar o mandato de Aécio e segurar a nova denúncia (Renato Araújo/Agência Câmara)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de setembro de 2017 às 08h46.
Brasília - Em um movimento que agradou à base governista, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), escolheu um aliado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o tucano Bonifácio de Andrada (MG), para relatar a denúncia contra o presidente Michel Temer e seus ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil). A escolha reabriu a crise no PSDB.
Pacheco ignorou os apelos do líder do PSDB, Ricardo Trípoli (SP), para que, desta vez, não escolhesse um tucano para a missão.
Na primeira denúncia, o relatório que livrou o presidente foi produzido pelo deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) e a bancada ficou dividida no plenário. Dos 47 deputados, 22 foram contra o prosseguimento da denúncia, 21 a favor e quatro se ausentaram.
Nos bastidores, parlamentares avaliam que a indicação de Bonifácio faz parte de uma operação casada para salvar o mandato de Aécio e segurar a nova denúncia.
O parlamentar mineiro, que pertence à família do patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, foi um dos deputados que ajudaram a segurar a primeira denúncia contra Temer por corrupção passiva, rejeitada em agosto pela Câmara dos Deputados.
A crise no PSDB volta à tona especialmente entre a ala paulista e a mineira. Enquanto os paulistas não fizeram esforço para preservar Temer, os mineiros ajudaram a barrar a primeira denúncia. Trípoli não descarta a possibilidade de tirar Bonifácio da CCJ, o que obrigaria Pacheco a redistribuir a relatoria para outro membro da comissão.
No anúncio, Pacheco disse que Bonifácio está "acima" das questões internas do PSDB. "Tenho certeza de que o PSDB haverá de ficar contente com a decisão", afirmou.
O peemedebista também minimizou o fato de Bonifácio ter votado a favor de Temer na primeira denúncia. "É uma nova realidade e confio muito na decência e na experiência do deputado Bonifácio", declarou o presidente da CCJ.
Nesta quinta-feira, 28, o Palácio do Planalto evitou manifestações a respeito da escolha de Bonifácio. O discurso oficial segue a linha da primeira denúncia, de que espera que seja apresentado um relatório "técnico", favorável a Temer, com pedido de arquivamento de denúncia.
Interlocutores do presidente, no entanto, avisam que, caso a opção seja por relatório "político", contrário a Temer, um dos aliados governistas na CCJ será convocado a apresentar um relatório paralelo, repetindo o trâmite anterior.
Suplente na CCJ, Bonifácio não votou no colegiado, mas fez questão de se posicionar contra a primeira denúncia por corrupção passiva durante a fase de debates. Na ocasião, o tucano criticou o uso das gravações do empresário Joesley Batista como peça-chave da acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR).
"Não sou a favor da admissibilidade. Não por razões políticas, mas puramente por razões de ordem jurídica. Não há base para andamento do processo", disse na comissão.
Em 2 de agosto, dia da votação da denúncia no plenário, o deputado tucano votou com o governo "em favor das instituições e do progresso do Brasil".
O tucano tem 87 anos, é jornalista, advogado, professor de Direito Constitucional e cientista político. Ligado ao grupo de Aécio, o parlamentar está no seu décimo mandato, tem atuação discreta na Casa, mas é visto como uma espécie de "reserva moral" da bancada. Embora não tenha a intenção de disputar a reeleição, Bonifácio prepara seus filhos para a próxima eleição.
A avaliação é de que qualquer deslize no relatório sobre a segunda denúncia poderia respingar sobre as candidaturas de Lafayette e Antonio Andrada.
"Temos muita convicção de que é um nome que preserva a comissão, que dá o tom necessário que nós precisávamos para a seriedade e necessidade de demonstração de imparcialidade na condução desse trabalho", justificou o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), ao anunciar seu escolhido.
Na primeira denúncia, Pacheco indicou Sérgio Zveiter (ex-PMDB e hoje Podemos-RJ), de perfil mais alinhado com a oposição. Em seu relatório, Zveiter afirmou que a acusação da Procuradoria não era "fantasiosa", como defende Temer, e deveria ser investigada. Agora, o peemedebista optou por um relator mais palatável ao Palácio do Planalto.
"Nada melhor que alguém do PSDB, que vai convencer seus pares de que é importante votar contra a denúncia porque ela é inócua", disse o vice-líder do governo, Beto Mansur (PRB-SP). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.