Estádio do Morumbi durante realização de jogo entre São Paulo e Cruzeiro (MIGUEL SCHINCARIOL/Placar)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2014 às 09h41.
São Paulo - Juvenal Juvêncio sonhava deixar a presidência do São Paulo em abril com o projeto de cobertura aprovado e terminar a sua carreira política com um legado a ser lembrado por décadas, mas por enquanto o desejo do dirigente corre o risco de terminar em um melancólico pesadelo. Incomodados com a forma como o acordo foi fechado, opositores endureceram o discurso, conseguiram ter acesso aos contratos e agora fazem uma série de contestações que ameaçam a realização da obra, orçada em R$ 460 milhões e que prevê também a construção de uma arena para 28 mil pessoas e um estacionamento para dois mil carros.
"A parte da engenharia está toda errada. Os demais aspectos parecem todos corretos, mas a construção carece de respostas", resumiu Marco Aurélio Cunha, conselheiro da oposição e futuro integrante da chapa de Kalil Rocha Abdalla à presidência. Antigo aliado de Juvenal Juvêncio e ex-superintendente de futebol, é ele que encabeça as críticas ao projeto.
Seu contraponto é José Francisco Manssur, assessor especial da presidência e principal articulador da empreitada. "Há alguns dias o Marco deu uma entrevista falando que não tinha visto os contratos, mas um dos membros da comissão que eles montaram admitiram que viram todos os documentos e o desmentiu; agora ele vem com essa história de engenharia para consertar", rebateu, para em seguida fustigar. "A Andrade Gutierrez disponibilizou 40 projetos, eles pediram para ver três".
O tiroteio entre situação e oposição já afastou a construtora da obra, mas o São Paulo garante ter 10 interessados em assumir o projeto. Outro ponto de discórdia é a construção do prédio de estacionamentos. Os dois lados têm opiniões bastante divergentes quanto ao local da obra. O projeto original prevê a obra no complexo esportivo do clube, mas a oposição apresentou na última quinta-feira uma solução de estacionamento subterrâneo que desalojaria os sócios dos campos de futebol por cerca de seis meses.
"Eles falam em mandar os sócios para jogar em Cotia e no CT da Barra Funda. Como fazer isso, se são locais de treinamento? Sem contar que nossos estudos mostram que essa opção é mais cara", criticou Manssur.
Temor e legado
O assessor especial da presidência diz que teme que a briga política acabe melando o projeto. "Quando disse que a Andrade sairia, me acusaram de terrorismo. E ela saiu. Tenho medo sim que isso possa acontecer", disse, para voltar à carga. "O que acontece é que ninguém quer que o Juvenal saia como o mentor dessa obra. A pessoa tem direito de não gostar do projeto, mas levar problemas pessoais para a esfera do clube é demais".
Kalil Rocha Abdalla, candidato da oposição à presidência, nega e vê pressa excessiva da oposição. "A obra será dele, ninguém vai esconder que foi ele que programou. Mas por que de uma hora para outra ele quer fazer? Querer fazer disso uma questão de honra é que não dá", criticou.
Para tentar garantir a votação do projeto, a situação manobra para colocar o projeto na pauta no mesmo dia da eleição presidencial. Desta forma conseguiria os 75% de quórum para votar e impediria uma fuga da oposição, que considera a ideia um "golpe". "Nossa preocupação é que o São Paulo não passe o que Palmeiras e Grêmio passam com suas arenas", disse Kalil. "É uma comparação grotesca, vamos ceder apenas a área da arena multiuso e por 10 anos, não é nada como os outros fizeram", explicou Manssur.
Opiniões divergentes e que cada vez parecem mais longe de um consenso, brigas políticas e questionamentos de ambos os lados são os desafios a serem superados para que a reforma do Morumbi não se transforme num retumbante fiasco. A julgar pela falta de flexibilidade dos dois lados, é difícil ver uma saída para o caso.