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Bolsonaro condiciona verba ao Nordeste a reconhecimento de governadores

Presidente afirmou que "boa parte" dos governadores do Nordeste é socialista, que não comungam dos mesmos interesses do seu governo

Bolsonaro: presidente disse que governadores do Nordeste são "socialistas" (Alan Santos/PR/Palácio do Planalto/Flickr)

Bolsonaro: presidente disse que governadores do Nordeste são "socialistas" (Alan Santos/PR/Palácio do Planalto/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de agosto de 2019 às 16h54.

Última atualização em 5 de agosto de 2019 às 19h29.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira, 5, que não vai negar recursos aos Estados do Nordeste, desde que os governadores divulguem que são parceiros do governo.

Segundo ele "boa parte" dos governadores do Nordeste é socialista, que não comungam dos mesmos interesses do seu governo.

"O que eu quero desses respectivos governadores: não vou negar nada para esses Estados, mas se eles quiserem realmente que isso tudo seja atendido, eles vão ter que falar que estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro. Caso contrário, eu não vou ter conversas com eles, vamos divulgar obras junto a prefeituras", disse o presidente após a inauguração de uma usina de energia que usa painéis solares instalados sobre as águas do Rio São Francisco, em Sobradinho (BA).

O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) saiu em defesa do presidente e disse que o governo de Jair Bolsonaro não faz qualquer tipo de "discriminação" com o Nordeste.

"Nesses últimos 10 dias, saiu muita coisa na imprensa como se o senhor tivesse má vontade com o Nordeste. Primeiro, divulgaram que a Caixa Econômica Federal não estava liberando recursos para o Nordeste, que havia uma orientação do presidente da Caixa para travar liberações de financiamentos para municípios e Estados nordestinos", iniciou o senador.

"Eu fiquei a indagar: eu, como líder do governo no Senado, como nordestino que sou, como pernambucano que sou, se em algum momento eu testemunhei ou ouvi o presidente da Caixa, o ministro da Economia ou o presidente da República fazer qualquer consideração que pudesse implicar um gesto de discriminação ou falta de atenção com o Nordeste. A primeira coisa a registrar é que mais uma vez o senhor está no Nordeste", disse, apontando para o presidente da República.

Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo revelou com exclusividade que a Caixa reduziu a concessão de novos empréstimos para o Nordeste.

Por meio de um levantamento feito pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), com base nos números do próprio banco e do sistema do Tesouro Nacional, a reportagem mostrou que, em 2019, até julho, o banco autorizou novos empréstimos no valor de R$ 4 bilhões para governadores e prefeitos de todo o País.

Para o Nordeste, foram fechadas menos de dez operações, que juntas totalizam R$ 89 milhões, ou cerca de 2,2% do total - volume muito menor do que em anos anteriores.

No entanto, segundo Bolsonaro, o Nordeste tem recebido recursos abundantes. "Eu não estou aqui para fazer média. Não estou aqui com colegas nordestinos para fazer média. Não existe essa história de preconceito. Agora, eu tenho preconceito com governador ladrão que não faz nada para o seu Estado", disse o presidente.

O governador da Bahia, Rui Costa, do PT, não participou do evento. No último dia 23, ele também não participou da inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista (BA).

"O meu relacionamento é com o povo do Nordeste. Ninguém proibiu o governador de estar aqui. Da vez passada, quando estive em Vitória da Conquista, ele determinou que a Polícia Militar não participasse da nossa segurança. Então quem tem algum preconceito é ele. Se ele viesse aqui seria muito bem vindo. Não teria sido falado nada contra ele, ou hostilizado. Agora quem está com medo de encarar seu próprio povo é ele e não eu", afirmou Bolsonaro. "Eu não posso admitir que governadores como o do Maranhão e da Paraíba façam politicalha no tocante à minha pessoa."

O presidente voltou a negar ter criticado os gestores estaduais, que são oposição ao governo federal. "Eu cochichei no ouvido do ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e me referi ao governador da Paraíba e do Maranhão, que eles procuram os nossos ministérios, conseguem coisas como outros, mas chegam em seus respectivos Estados e descem a 'burduna' em cima de mim", disse o Bolsonaro, em referência a uma conversa captada por microfones da TV Brasil em que ele critica o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

"Daqueles governadores de 'paraíba', o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada para esse cara", afirmou o presidente, sem saber que estava sendo gravado. Para Dino, a referência a "paraíba" foi uma forma pejorativa a se referir aos nordestinos, o que Bolsonaro nega.

Bolsonaro desembarcou por volta das 11 horas em Sobradinho. Depois de conhecer, a bordo de uma embarcação catamarã, os painéis instalados no lago da usina da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), o presidente fará um breve discurso para cerca de 150 pessoas, a maior parte funcionários da empresa.

A população da cidade não teve acesso ao local do evento, um galpão dentro das instalações da usina, retirado da cidade.

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