Agência de notícias
Publicado em 29 de setembro de 2025 às 17h03.
Última atualização em 29 de setembro de 2025 às 17h38.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, esteve nesta segunda-feira no condomínio onde Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, em Brasília, no primeiro encontro entre os dois desde a condenação do ex-presidente a 27 anos e três meses de prisão por participação na trama golpista.
O almoço, acompanhado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e pelo vereador de Balneário Camboriú Jair Renan, foi apresentado como um gesto de amizade e solidariedade, mas acabou ganhando contornos políticos: críticas ao Supremo Tribunal Federal, defesa da anistia e reafirmação da aliança da direita para 2026.
A visita colocou em pauta as discussões no Congresso sobre uma saída para os condenados pelo 8 de Janeiro. Questionado, Tarcísio disse que o tema específico não foi tratado no encontro, mas deixou claro que a proposta de redução de penas, costurada por líderes partidários, não atende Bolsonaro.
— Não foi pauta, não conversamos sobre isso. Minha posição é de defesa da anistia, acredito na paz dialogada e já foi usada em outros momentos. Podemos citar a anistia de 1979, da recepção no texto constitucional, do artigo quinto que trata sobre anistia e indulto. [A redução de penas] não satisfaz o presidente — declarou.
A fala ecoa o que aliados do ex-presidente têm repetido nos bastidores: qualquer tentativa de acordo por uma “anistia parcial” ou um projeto de dosimetria ocorre à revelia da família Bolsonaro, que insiste na narrativa de perseguição judicial.
Tarcísio aproveitou ainda para afastar especulações de que poderia disputar o Planalto em 2026, reafirmando a candidatura à reeleição em São Paulo.
— Sou candidato à reeleição em 2026, em São Paulo. Vim visitar um amigo, que foi importante na minha trajetória. O (ex-)presidente está passando por um momento difícil. É muito triste. A gente conversando e ele soluçando o tempo todo — disse, relatando as dificuldades de Bolsonaro, que ainda sofre as consequências de cirurgias e do atentado a faca de 2018.
Nos bastidores, há quem diga que o governador tem se recolhido propositalmente. O intuito seria passar um tempo fora dos holofotes de pré-candidato e, mais para a frente, retomar o projeto. Flávio, por sua vez, buscou amarrar a mensagem de unidade no campo da direita.
— Independente de como as coisas vão transcorrer daqui para a frente, eu, Tarcísio e os partidos de centro-direita estaremos juntos em 2026 para recolocar o Brasil nos trilhos a partir de 2027. O presidente sempre poderá contar conosco, no momento bom ou no momento ruim — afirmou.
Flávio citou editorial publicado pela Folha de S.Paulo para reforçar ataques à Corte.
— Passada a condenação do presidente Bolsonaro, o Supremo deve abandonar o ativismo e os excessos. O ministro Fachin assume agora a presidência da Corte e espero que tenha a sabedoria de conduzir o tribunal com a autocontenção que sempre pedimos, mas nunca vimos acontecer. Bolsonaro está preso sem sequer ter sido denunciado e, mesmo com o prazo já vencido, não houve resposta sobre suas medidas cautelares — afirmou o senador.
O gesto de Tarcísio ocorre em meio à expectativa de aliados sobre como ele vai se posicionar sobre o bloqueio à anistia ampla no Congresso. Há duas semanas, ele vinha costurando a aprovação da urgência do projeto, mas não tem se envolvido nas discussões sobre o mérito. O relator, Paulinho da Força, tem se queixado que o governador não estaria o atendendo.
Sobre o projeto de Paulinho, Flávio afirmou que é preciso aguardar o texto para se posicionar. O senador também condicionou a escolha do herdeiro do espólio do pai ao final da discussão sobre anistia:
— Tarcísio é um dos principais ativos que a centro-direita tem. Tem feito um grande trabalho em São Paulo. Somente após esse processo legislativo da anistia e esse desenrolar final [iremos tratar sobre 2026], não tem porque antecipar nome de nada.