Bolsonaro: em declarações recentes, presidente disse divulgaria última reunião ministerial com Moro (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de abril de 2020 às 10h43.
Última atualização em 30 de abril de 2020 às 13h16.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira, 30, que recebeu uma recomendação para não divulgar o áudio da última reunião interministerial na qual o ex-ministro Sérgio Moro participou.
"Último conselho que tive é não divulgar para não criar turbulência. Uma reunião reservada, então é essa a ideia. Talvez saia, mas por enquanto não", disse o mandatário ao deixar o Palácio da Alvorada.
Em declarações recentes, o presidente prometeu que divulgaria a gravação da última reunião ministerial da qual Moro participou, no dia 14 passado, para provar solicitações que fez ao ex-chefe da Justiça, em especial para que Moro se posicionasse sobre prisões, consideradas por Bolsonaro como "ilegais", de cidadãos que quebraram as orientações de isolamento para evitar a disseminação do novo coronavírus.
"Não tem nada de mais, é a maneira como me conduzi, como me referi ao ministro da Justiça tratando da questão de mulheres e senhores sendo algemados sem uma participação dele". Antes de recuar da divulgação, Bolsonaro havia dito que pediu autorização dos outros ministros para tornar a gravação pública.
O presidente também se defendeu mais uma vez das acusações sobre tentativas de interferência na Polícia Federal feitas por Sergio Moro na sexta-feira, 24, quando o ex-ministro pediu demissão.
"A questão de interferência, para deixar bem claro ao senhor Sérgio Moro, o ônus da prova cabe a quem acusa. Ônus da prova cabe a quem acusa", disse.
"Nenhum superintendente foi trocado, eu sugeri duas superintendências. Ele não concordou, passou a ser dono de tudo e não aceitava qualquer sugestão, o ego falou mais alto a vida toda dele", afirmou Bolsonaro.
O presidente destacou ainda que o ex-ministro "deixou a desejar" em sua atuação no governo. Bolsonaro indicou que Moro teria favorecido conhecidos da vara de Curitiba para montar sua equipe no ministério.
"Ninguém nega o trabalho de Sérgio Moro na Lava Jato lá atrás. Um excelente juiz. Mas como ministro lamentavelmente deixou a desejar. Até priorizando, privilegiando o pessoal que estava no Paraná, sem querer desmerecê-los", afirmou.
Nesta semana, o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, autorizou a abertura de um inquérito para investigar as declarações do ex-ministro da Justiça. A decisão de Celso de Mello atendeu a um pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras.
O objetivo é apurar se foram cometidos os crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, denunciação caluniosa e crime contra a honra.
Integrantes do Ministério Público Federal (MPF) apontam que, como Aras pediu ao STF a apuração do crime de denunciação caluniosa e contra a honra, o inquérito pode se voltar contra Moro, caso as investigações não confirmem as acusações.