Brasil

Receitas atípicas fazem governo cumprir meta de superávit

Governo só cumpriu a meta por ter recebeido R$ 6 bilhões em depósitos judiciais no último mês de 2010

O governo economizou R$ 78,9 bilhões para o superávit em 2010 (Beatriz Albuquerque /Cláudia)

O governo economizou R$ 78,9 bilhões para o superávit em 2010 (Beatriz Albuquerque /Cláudia)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2011 às 17h34.

Brasília – Uma série de receitas extraordinárias garantiu o cumprimento da meta de superávit primário pelo Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central). Não fossem as arrecadações atípicas registradas no fim do ano, o esforço fiscal não seria suficiente para alcançar o estipulado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

O superávit primário é a economia de recursos para pagar os juros da dívida pública. Em 2010, o Governo Central economizou R$ 78,9 bilhões, acima da meta de R$ 76,3 bilhões estabelecida no decreto de programação orçamentária. No entanto, apenas em dezembro, R$ 6 bilhões entraram no caixa do governo sob a forma de depósitos judiciais. Essas receitas são atípicas e não se repetirão em outros meses.

No mês passado, de acordo com a Receita Federal, uma instituição financeira fez um depósito judicial de R$ 4 bilhões referentes ao pagamento de PIS/Pasep. Também houve depósitos judiciais de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) que somaram R$ 2 bilhões. Se essas operações não tivessem ocorrido, o superávit primário do Governo Central em 2010 cairia para R$ 72,9 bilhões.

Os depósitos judiciais ocorrem quando um contribuinte contesta na Justiça o pagamento de um tributo e faz um depósito em juízo. Até 1998, esses depósitos ficavam sob responsabilidade da Caixa Econômica Federal, mas hoje caem diretamente na conta única do Tesouro Nacional. Caso o governo perca a causa, o Tesouro tem de devolver o dinheiro ao contribuinte.

O pagamento de parte dos lucros das estatais ao Tesouro também engordou os cofres federais no ano passado. Nos primeiros dias de 2010, o governo vendeu ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) R$ 3,5 bilhões de dividendos que a União teria direito a receber da Eletrobras. O banco repassou os recursos ao Tesouro e herdou o passivo da estatal.

A principal fonte de receitas atípicas no ano passado, no entanto, foi a capitalização da Petrobras, que rendeu R$ 31,9 bilhões ao Tesouro Nacional. Sem esses recursos, o superávit primário do Governo Central teria sido de R$ 47 bilhões, apenas 61% da meta para 2010. Os recursos vêm do fato de que a Petrobras pagou à União R$ 74,8 bilhões pela cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo. Em troca, o Tesouro emitiu R$ 42,9 bilhões em títulos públicos para injetar recursos na capitalização da empresa. A diferença, R$ 31,9 bilhões, foi incorporada às receitas do governo.

Em 2009, o governo também usou artifícios contáveis para aumentar o resultado fiscal que somaram pelo menos R$ 17,7 bilhões. Desse total, R$ 8,9 bilhões vieram do recebimento de depósitos judiciais feitos antes de 1998 e R$ 4,7 bilhões foram obtidos com a renegociação das dívidas de contribuintes com a União.

O resultado do Governo Central representa apenas parte do esforço fiscal. O resultado das contas do setor público consolidado, que inclui União, estados, municípios e estatais, só será divulgado na segunda-feira (31) pelo Banco Central. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estados e municípios não deverão alcançar a meta de superávit primário. Para não descumprir a lei, o governo então lançará mão do mecanismo que permite abater da meta de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) os gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Acompanhe tudo sobre:América LatinaDados de BrasilDívida públicaGoverno

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP