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Recado é "desmate que o governo garante", diz Marina Silva sobre Amazônia

Ex-ministra do meio ambiente critica postura do atual governo federal sobre políticas para o meio ambiente e diz que ainda seguimos mentalidade do século XX

Marina Silva e Andre Lahoz Mendonça de Barros no EXAME Fórum (Germano Luders/Exame)

Marina Silva e Andre Lahoz Mendonça de Barros no EXAME Fórum (Germano Luders/Exame)

Naiara Albuquerque

Naiara Albuquerque

Publicado em 9 de setembro de 2019 às 15h06.

Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 11h35.

São Paulo - A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse, durante o EXAME Fórum nesta segunda-feira (9) que "a reação internacional é proporcional ao descaso nacional" sobre a Amazônia.

O programa agrícola do governo de João Figueiredo, cujo slogan era "Plante que o João garante", virou "Desmate que o governo garante" com os sinais vindos de cima.

A fala de Marina vai no sentido de criticar a política para a área do governo de Jair Bolsonaro, que reduziu a aplicação de multas ambientais e tentou a incorporação do Ministério do Meio Ambiente à pasta da Agricultura, entre outras ações.

Ela disse que é do nosso interesse proteger a floresta e que é preciso pressionar as autoridades sobre a alta dos incêndios na região.

“Levantamos dinheiro para a catedral de Notre-Dame”, explica a ex-ministra. “E agora temos uma Notre-Dame natural. Esse é nosso compromisso civilizatório”.

Ao fim de agosto, a região da Amazônia apresentou 31 mil focos de incêndio, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O número foi quase três vezes maior que os dados do ano passado, com 10.421 focos. Nos últimos sete meses, desmatamento na região subiu quase 91%.

Para Marina, é necessário que haja uma grande pressão popular em relação aos recentes eventos que aconteceram na região. “Defendemos a Amazônia porque é do nosso interesse. Sem ela [a floresta] não seríamos uma potência agrícola”, afirma. 

Para ex-ministra, a questão da Amazônia não é algo de direita ou de esquerda, mas “um lugar que nos une”, já que todos precisam de água e do meio ambiente para sobreviver. 

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Mudança na agenda de desenvolvimento

A atual agenda de desenvolvimento econômico adotada pelo Brasil, em pleno século XXI, é problemática e deve ser mudada, explica Marina. “Do jeito que estamos vamos perder a rota do futuro, que considera que os recursos naturais são infinitos. Essa é uma mentalidade do século XX”, critica.

Marina, que foi ministra do Meio Ambiente durante o governo Lula, em 2003, explica que, ainda no início do século 20 os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, da Revolução Francesa, foram os responsáveis por ajudar a impulsionar o mundo até aqui. 

Marina diz que sabe o grande desafio que temos, em um mundo que vai demandar cada vez mais de nós e dos recursos finitos. “Precisamos de um modelo que use com sabedoria os recursos”, enfatiza. 

Para Marina, os modelos políticos, principalmente os que existem em relação ao meio ambiente, deveria ser parte de um processo. “O novo se cria em torno do que já existe, a partir de alianças intergeracionais”, diz.

Na semana passada, a ex-ministra também teceu críticas ao atual governo, e chamou as queimadas na Amazônia de “crime contra a humanidade”. 

Eleições 2022

“Como o meio ambiente não é tão percebido pelas pessoas, eu passo de despercebida e sumida”, brinca Marina, que não responde diretamente se de fato tentará algum posto na próxima eleição presidencial, que acontecerá em 2022. 

“Um povo tem que se orientar por seus princípios e valores, e eu vou continuar fazendo meu trabalho independente da eleição”, diz a ex-ministra. 

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