Pelo menos 12 pessoas morreram vítimas de raiva humana desde o início do ano na paupérrima comunidade de Melgaço, no arquipélago de Marajó, no Pará (Bruno Manunza/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de junho de 2018 às 10h00.
Rio - Pelo menos 12 pessoas morreram vítimas de raiva humana desde o início do ano na paupérrima comunidade de Melgaço, no arquipélago de Marajó, no Pará, município com o menor IDH do Brasil. Até agora, foram 14 casos notificados e sete confirmados laboratorialmente pelo Instituto Evandro Chagas e pelo Instituto Pasteur.
Técnicos da Secretaria de Saúde do Pará permanecem na região até julho, fazendo um trabalho de investigação e prevenção. Há cerca de 30 dias nenhum novo caso ou suspeita foi registrado e a secretaria considera a situação sob controle.
Especialistas em saúde afirmam que as precárias condições sanitárias da comunidade estariam contribuindo para o surto de raiva no município, onde as pessoas são tão pobres que não teriam dinheiro sequer para colocar telas nas janelas, evitando a entrada dos morcegos. A maioria dos habitantes vive em palafitas, com esgoto ao ar livre.
O Ministério da Saúde informou que o Brasil se encontra próximo da eliminação da doença. Em 2017, foram registrados seis casos de raiva humana, sendo um em Pernambuco, um em Tocantins, uma na Bahia e três no Amazonas, todos causados pela variante do vírus que circula entre morcegos.
O ministério informou ainda que não há falta de vacinas antirrábicas caninas. Para este ano, estão previstas 29,5 milhões de doses que já estão sendo distribuídas nos Estados. A maioria deles, no entanto, realiza as campanhas de vacinação entre setembro e novembro.
De janeiro até esta segunda-feira, 18, houve no Estado de São Paulo 101 registros de raiva em bovinos, equinos e suínos, além de dois casos em animais domésticos. O aumento foi de 53% ante o mesmo período de 2017, quando houve 66 casos. Os dados são da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
A tendência de crescimento já havia sido observada no ano passado, quando houve 196 casos em bovinos, equinos e ovinos, ante 105 em 2016. Esses registros têm levado a alertas sanitários no interior paulista. A doença, de alta letalidade, pode ser transmitida para o homem, principalmente pela saliva do animal doente.
Em Angatuba, na região de Itapetininga, a Defesa Agropecuária confirmou na Sexta-feira (15) o vírus em um cavalo, que morreu com sintomas de raiva. Na mesma propriedade, foi encontrada uma colônia de morcegos hematófagos - que se alimentam do sangue dos animais -, possíveis transmissores da doença.
Em Monte Mor, região de Campinas, oito animais morreram este ano. A doença atingiu bovinos e equinos jovens e adultos. Jundiaí teve cinco mortes confirmadas este ano.
Segundo o médico veterinário Paulo Antonio Fadil, responsável pelo Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros, nas regiões com casos positivos estão sendo realizadas inspeções para o controle de focos do morcego.
Este ano, foram feitas 1,6 mil inspeções em abrigos, com 2,9 mil morcegos hematófagos capturados. "Sempre que há suspeita ou diagnóstico positivo para raiva animal, uma equipe de controle é mobilizada para realizar a fiscalização no entorno do foco", explicou Fadil.
O controle da raiva em animais domésticos, como cães e gatos, é feito pela Secretaria da Saúde por causa da maior proximidade desses animais com o homem. Em maio, foi confirmado um caso em um cão, em Santa Fé do Sul, no noroeste paulista. O animal morreu e a vacinação de cães e gatos, prevista para outubro, foi antecipada para o início de junho.
Em Piracicaba, um gato morreu com a doença no bairro Ibitiruna e gatos foram vacinados em um raio de cinco quilômetros. A Vigilância Epidemiológica aplicou soro e vacina nas pessoas que tiveram contato com o animal. Em Americana, foi confirmada a raiva em um morcego encontrado morto no bairro Ibitiruna. Cães e gatos da região estão sendo vacinados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.