Relação entre Bolsonaro e o Ministério da Economia está no radar do mercado (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Carla Aranha
Publicado em 16 de setembro de 2020 às 16h47.
Última atualização em 16 de setembro de 2020 às 17h40.
A semana começou quente, com a declaração do presidente Jair Bolsonaro, na terça-feira, dia 15, que a criação do programa Renda Brasil está descartada. Mas, afinal, o que pode acontecer com o Bolsa Família e como o fim do auxílio emergencial poderá impactar a demanda por produtos e serviços?
Os economistas Álvaro Frasson e Arthur Mota, do BTG Pactual digital, que participam do programa Questão Macro, promovido por EXAME Research, aproveitaram a novidade para discutir a visão do mercado sobre a relação entre a política econômica do governo e o vai-e-vem de algumas sinalizações.
A Superquarta também foi tema da conversa. No Brasil, o mercado aguarda nesta quarta, dia 16, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa de juro.
“Não deve haver mais cortes neste ano e o Banco Central deve adotar um tom ainda mais cauteloso em relação ao último comunicado”, diz Frasson. “Os índices de inflação mais ligados ao dólar, que subiram nos últimos 12 meses, indicam que há componentes que o Banco Central pode destacar ainda mais, como o risco fiscal e o impacto da inflação”.
A expectativa é de manutenção dos atuais 2% ao ano na taxa de juro. Caso essa projeção se confirme, deverá ser encerrado o ciclo de novos cortes consecutivos na Selic.
Nos Estados Unidos, a quarta foi dia do comunicado do Federal Reserve (Fed). O Banco Central americano anunciou, como já era esperado pelos economistas, a manutenção da taxa de juro perto de zero. “A inflação abaixo de 2% deve motivar os Estados Unidos a ficar com juros baixos por mais tempo”, avaliou Mota.
“Até 2023, o país pode continuar com uma taxa muito deprimida, o que é bom para os mercados emergentes, que já vêm precificando”, diz.
Outro ponto destacado foi a sinalização de mudanças na política de compras de títulos do governo americano. Nesta quarta, o Fed revelou que deve manter o ritmo de compras de pelo menos 120 bilhões de dólares com o objetivo de garantir "condições financeiras "acomodatícias" no futuro.
Enquanto isso, a Europa se preocupa com a segunda onda do coronavírus, com o aumento no número de casos em países como a França e a Espanha, e seus impactos na economia. E, por enquanto, não há sinais no horizonte de uma vacina eficaz que possa começar a ser fabricada nos próximos meses. “O cenário pode impactar a confiança do consumidor, e o mercado está precificando a corrida pela vacina”, diz Mota.
Por aqui, o tempo pode jogar a favor da economia brasileira. “Até chegar a segunda onda de covid-19 talvez já tenha uma vacina”, afirma Frasson.