Venezuelanos fazem fila para receber comida em ginásio usado como abrigo em Boa Vista, no Estado de Roraima (Nacho Doce/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 20 de junho de 2018 às 11h38.
Última atualização em 20 de junho de 2018 às 11h50.
São Paulo – Entre 2015 e 2017, 156 mil venezuelanos entraram com pedidos de refúgio ao redor do mundo, segundo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Só no Brasil, nestes três anos e até abril de 2018, foram 32.859 solicitações desse tipo, de acordo com dados do ACNUR Brasil. Além desses, outros 15 mil receberam permissão para morar por aqui.
Esse fluxo migratório inseriu o Brasil em uma nova fase de imigração. "Antes da situação da chegada dos venezuelanos, nós recebíamos refugiados extracontinentais, pessoas que vinham de lugares mais distantes. Com a instabilidade política e econômica da Venezuela, a chegada de venezuelanos representa uma nova etapa de desafios”, afirmou Federico Martinez, representante-adjunto do ACNUR no Brasil, durante evento sobre migração e refúgio em São Paulo nesta terça-feira (19).
Roraima é a principal porta de entrada para essas pessoas – do total de pedidos de refúgio, 70% vieram do estado. Nos últimos cinco meses, diariamente, 416 venezuelanos cruzaram a fronteira com o estado em busca de abrigo no país. É importante ressaltar, porém, que nem todos entraram com um pedido de refúgio.
Quase um quarto desse contingente permanece em Boa Vista, capital do estado. Hoje são mais de 25 mil venezuelanos morando na cidade. A expectativa é que, se esse ritmo se mantiver até dezembro deste ano, mais 10 mil refugiados devem se mudar para o município até o fim do ano.
Segundo dados reunidos pela Prefeitura de Boa Vista e pelo Exército brasileiro, 8 em cada 10 chefes de família da Venezuela, já instalados no Brasil, pretendem trazer seus familiares. Na prática, para dar conta dessa demanda, seria necessário construir ao menos um abrigo por mês na capital – hoje, oito operam com 450 vagas cada, mas já estão totalmente lotados.
“Nós estamos aprendendo a lidar com essa nova realidade, mas não temos orçamento suficiente para manter todos os refugiados por aqui”, diz Teresa Surita, prefeita de Boa Vista. “O governo federal precisa dividir essa responsabilidade com o Brasil". Para conter o fluxo e evitar uma situação de colapso, a prefeitura estima que 500 venezuelanos deveriam deixar a cidade por mês.
"Na repartição das responsabilidades, a União, que deveria ser a indutora de uma política nacional, acaba por se ausentar do debate restando o acolhimento aos refugiados aos municípios, que estão em uma situação complicada no plano fiscal", disse Márcio Fernando Elias Rosa, secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, durante evento nesta terça (19).