Jair Bolsonaro e ex-ministro Mandetta: (Adriano Machado/Reuters)
Victor Sena
Publicado em 12 de outubro de 2020 às 23h33.
Última atualização em 12 de outubro de 2020 às 23h38.
Em entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta foi perguntado se o presidente Jair Bolsonaro mereceria alguma punição legal por uma suposta negligência no enfrentamento da pandemia da covid-19 no Brasil.
Mandetta disse que é essa é uma questão política e afirmou que o “tempo” é o que revela para as pessoas que tipo de líderes elas têm.
“Quem vai dar a verdade para as pessoas é o tempo, são os livros, é o testemunho. Quem vai escrever essa página é a ciência, é a pesquisa. O que eu tenho a dizer é que eu estava lá, eu vi, eu alertei”, disse o ex-ministro, que saiu do governo após divergências com o presidente quanto à forma com que a pandemia deveria ser combatida.
A resposta de Mandetta foi dada em meio a uma analogia como um guerra.
“Vamos dizer que tivéssemos uma guerra instalada, contra a Venezuela, num cenário imaginário. E vamos supor que o presidente resolvesse mandar 50 mil soldados sem nenhum tipo de arma, mesmo tendo sido alertado pelo comando do Exército. Depois o tempo passa, as pessoas vão morrendo, e as pessoas vão achando que aquilo é normal. Aquilo só acaba com a leitura da verdade, com o tempo.”
Apesar de ter se esquivado de indicar algum suposto crime que o presidente pode ter cometido ao estimular aglomerações, contrariando recomendações internacionais de enfrentamento ao coronavírus, Mandetta afirmou que houve negligência.
O ex-ministro, que contou em seu livro Um paciente chamado Brasil: Os bastidores da luta contra o coronavírus como foram os primeiros meses da pandemia, também criticou o comportamento do ministro da Economia, Paulo Guedes.
De acordo com Mandetta, o diálogo com a pasta da Economia era difícil, o que impedia a criação de uma política coesa dentro do governo para conciliar aspectos sociais, de saúde e econômicos.
Mandetta e Bolsonaro tiveram divergência quanto a uma suposta dicotomia entre proteger a economia e manter o isolamento social, medida recomendada como principal forma de combater o novo coronavírus.
Na entrevista, o ex-ministro também disse acreditar que o presidente Jair Bolsonaro se tornou um defensor do remédio cloroquina e hidroxicloroquina como uma forma de se espelhar no presidente americano Donald Trump.
"Depois do encontro deles na Flórida, quando o Trump já falava em cloroquina, veio uma coisa meio ensaiada. Me pareceu uma coisa do tipo de que tinha que dar uma solução para as pessoas voltarem a trabalhar, com um remedinho que resolve, e escolheram um inimigo externo, que era a China."
Nesta segunda-feira, o Brasil chegou a 150.709 mortes e 5.102.603 casos confirmados de covid-19. De acordo com o balanço do Ministério da Saúde, o País tem 4.495.269 recuperados da doença, enquanto outros 457.450 seguem em acompanhamento médico.