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"Quem está em crise hoje é o mundo, não nós", diz ministro

Ministro do Trabalho declarou ainda "não ser economista" quando questionado sobre a queda do PIB


	"Não tem crise. Nós temos dificuldades, ajustes. A crise é política", declarou Manoel Dias
 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

"Não tem crise. Nós temos dificuldades, ajustes. A crise é política", declarou Manoel Dias (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2015 às 19h08.

Genebra - A crise econômica não existe e se trata apenas de um discurso da "oposição inconformada" que perdeu as eleições para tentar "desestabilizar o governo". Quem faz a avaliação é o ministro do Trabalho, Manoel Dias, que passará esta semana em Genebra para reuniões na Organização Internacional do Trabalho. 

"Quem está em crise hoje é o mundo. Não somos nós", garantiu em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" e a outro veículo brasileiro.

Questionado como explicava a queda do Produto Interno Bruto (PIB), ele admitiu o impacto da Lava Jato. Mas apenas respondeu: "Não sou economista".

Dias faz questão de culpar a oposição por estar "contaminando a economia" e lembra que essa havia sido a mesma estratégia usada em 1964 - ano do golpe de Estado.

"Há um discurso pessimista e que assusta a população. Porque a crise política é que afeta a econômica. As pessoas se assustam e postergam às vezes a compra de um carro, de um apartamento", disse.

"Não tem crise. Nós temos dificuldades, ajustes. A crise é política. Tentam criar uma crise política", insistiu.

"O discurso está sendo usado para desestabilizar o governo, mas que atinge a economia e é ruim para a economia. O grande beneficiário de todo esse crescimento que o Brasil teve nesses últimos 20 anos foi o setor econômico. Mas os neoliberais que perderam a eleição não se conformam com a derrota", atacou.

Dias também fez paralelos entre a situação atual e a de 1964. "O mecanismo para desestabilizar é um discurso negativista, que contamina a economia. Isso afeta. Fizeram com o Getulio (Vargas), em 1950, e depois em 64", insistiu.

"O discurso de hoje é a corrupção e em 64 era que se queria implantar uma república sindicalista e que nós éramos comunistas, que comíamos crianças", atacou.

"Isso contamina. Uma campanha massiva da grande mídia, isso contamina. Contamina setores da classe média, tanto que a classe média apoiou o golpe de 64 com a marcha com Deus pela Liberdade. Depois se arrependeu, mas aí em política não tem: ah, pois é".

O ministro também criticou o "discurso de ódio de classe" no Brasil. Para ele, foi o "grupo neoliberal" que tem gerado isso. "Eles estão inconformados de que nós temos lá um governo que há 12 anos tem atuação ideológica e política comprometida com os trabalhadores".

Dias destacou que a oposição "pegou essa infelicidade", em uma referência ao escândalo de corrupção na Petrobras. "Ninguém defende a corrupção. Mas é a primeira vez que se prende corruptor no Brasil, que rico tá na cadeia", insistiu.

Lava Jato

Se a crise não existe, Dias evita dar uma explicação sobre a contração do PIB. "Eu não sou economista", disse. Mas acredita que a Operação Lava Jato teve seu impacto.

"Lavo Jato é um dos fatores, além desse discurso negativista. E outras razões que eu não tenho maior conhecimento", disse.

Para ele, o impacto na Petrobras de fato repercutiu na economia. "Ela é a maior geradora de empregos no Brasil", disse.

"Isso atingiu especialmente as empresas terceirizadas. Porque elas não tiveram resistência e capacidade e desempregaram", disse, citando o caso da Coperj com 50 mil trabalhadores afetados.

Mas ele acredita que a retomada vai ocorrer. "A Petrobras tem a exploração do pré-sal. Ela não pode parar", insistiu.

Desemprego

Dias evitou fazer um prognóstico da taxa de desemprego no Brasil até o final do ano. "Não tenho como fazer. Quando cheguei no ministério, inventei de fazer uma. Mas não deu certo. Até porque hoje é imprevisível", reconheceu.

Segundo ele, a taxa atual de 7,2% de desemprego representa um aumento de dois pontos porcentuais. "São 800 mil trabalhadores. Nós criamos 23 milhões de novos postos. Isso aí é fácil. Um país que virou isso é fácil recuperar" defendeu.

Na sua avaliação, existem regiões do Brasil que têm falta de mão de obra e aponta que o governo decidiu até mesmo aumentar de mil para 2 mil o número de vistos para haitianos a cada mês, num gesto humanitário.

Para ele, a situação no Brasil não se compara à de Espanha ou Portugal. "O mundo não consegue se recuperar. A Europa tá lá com a crise sem precedente", disse. "O mundo todo está em crise", insistiu.

"O Brasil, através da generosidade do Lula, conseguiu isso, embora vivendo em uma economia globalizada", disse, apontando para os programas sociais do governo.

"Estamos vivendo um momento de ajustes. Acreditamos que no segundo semestre aumentaremos o estoque de empregos", indicou.

Em sua avaliação, a economia brasileira mudou. "O que é que são as favelas hoje? Elas têm uma economia própria. Hoje, o melhor ponto de instalação de agências de viagens são nas favelas. Os aeroportos lotados, as estradas lotadas, shoppings lotados. Que crise?", questionou.

"As pessoas dormem na porta das lojas. Acho que temos um momento de dificuldade, mas o Brasil mudou. Vamos ter dificuldades, estamos tendo dificuldades... mas essa realidade econômica do Brasil é uma constante", insistiu.

Sobrando

O ministro também considera que não vai faltar dinheiro para investimentos públicos. "O Brasil vai investir mais de R$ 100 bilhões em casas, construção civil", disse.

"Os bancos vão investir R$ 22 bilhões. Do FGTS virão mais de R$ 76 bilhões. Tem mais o Bolsa Família", afirmou. "Vai sobrar dinheiro e se precisar mais, temos dinheiro", garantiu, apontando para R$ 40 bilhões.

"Temos mais R$ 13 bilhões para saneamento e mais R$ 12 bilhões para mobilidade urbana. Fora os R$ 190 bilhões que o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) tem no BNDES. Este ano já mandamos para o BNDES R$ 18 bilhões e temos mais R$ 27 bilhões na rede bancária para micro e pequena empresa", insistiu.

Entre as medidas que serão anunciadas em julho está ainda a autorização para que os trabalhadores usem até 20% do FGTS em aplicação financeira. Dias promete formalizar 500 mil postos de trabalho em 2015 e criar, apenas com a construção, seis milhões de vagas.

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