A vereadora Marielle Franco, do PSOL: morta a tiros nesta quarta (14) (Renan Olaz/CMRJ/Divulgação)
Luiza Calegari
Publicado em 15 de março de 2018 às 09h12.
Última atualização em 15 de março de 2018 às 12h45.
São Paulo - Marielle Franco nasceu na favela da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. Se formou socióloga, militou pelos direitos humanos e se elegeu vereadora no Rio de Janeiro em 2016, pelo PSOL. Na noite desta quinta-feira (14), foi assassinada a tiros dentro de seu próprio carro quando voltava de um evento sobre mulheres.
Quando Marielle foi eleita, com a quinta maior votação da cidade (pouco mais de 46,5 mil votos), o jornal da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), onde ela se formou, publicou um perfil da ativista.
A matéria conta que Marielle cursou Ciências Sociais, a partir de 2002, com bolsa integral, como aluna do Pré-Vestibular Comunitário da Maré. Nessa época, já era mãe: sua filha, Luyara, nasceu quando Marielle tinha 19 anos. Até por isso, não se envolveu com o movimento estudantil enquanto estava fazendo o curso. Por vezes, trabalhava em dois turnos e depois ainda frequentava as aulas.
Em 2006, ela passou a fazer parte da campanha de Marcelo Freixo, então candidato a deputado estadual, na Comunidade da Maré. Após a eleição, passou a atuar na equipe de Freixo na área de Direitos Humanos.
Em 2014, defendeu uma dissertação de mestrado na Universidade Federal Fluminense, analisando a política de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, estudando especificamente o programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
Em 2016, foi candidata a vereadora pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e obteve 46,5 mil votos. Após ser eleita, explicou ao jornal da PUC algumas de suas principais causas: melhoria das condições das creches e escolas, garantindo a diversidade de perspectivas; do transporte público, marcado por envolvimentos com o setor privado; e da cultura.
Como vereadora, ela foi designada relatora na comissão da Câmara que vai fiscalizar a intervenção federal no Rio de Janeiro.
Marielle acompanhava a intervenção federal na segurança pública do Rio na condição de vereadora, como forma de coibir abusos das Forças Armadas e da polícia a moradores de comunidades. Há oito dias, recebeu denúncias envolvendo PMs que patrulham a Favela de Acari, na zona norte do Rio.
Moradores contaram, na primeira reunião do Observatório da Intervenção, no Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, que dois homens foram assassinados por policiais e tiveram os corpos jogados num valão. Segundo esses moradores, a PM estaria se sentindo "com licença para matar" por conta da intervenção.
A vereadora compartilhou a notícia em seu perfil no Facebook, com a inscrição 'Somos todos Acari, parem de nos matar". "Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari neste momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nesta semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje, a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior", dizia a mensagem, que conclamava os internautas a reverberarem a denúncia.
Ontem, ela voltou a criticar a intervenção na segurança do Rio de Janeiro em mensagem nas redes sociais.
"Outro homicídio de um jovem que pode entrar na conta da polícia. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos jovens precisarão morrer para que essa guerra aos pobres acabe?", questionou Marielle.
Marielle foi baleada quando transitava em seu veículo por uma rua da cidade após ter participado de um ato político.
No ataque também morreu o motorista do seu veículo, enquanto uma assessora da política, identificada como Fernanda Chaves, foi atingida por estilhaços.
A Polícia Civil do Rio informou que o ataque foi realizado por homens armados que estavam em outro veículo e que fizeram os disparos e fugiram sem roubar nada.
O assassinato de Marielle ocorreu apesar de o Estado do Rio estar sob intervenção federal na área de segurança pública desde o mês passado, devido a uma escalada da violência e a uma profunda crise financeira que afetou a capacidade de investimento nas forças policiais.
O governo federal informou, por meio de nota da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, que acompanhará toda a apuração do assassinato da vereadora, e que o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, colocou a Polícia Federal à disposição para auxiliar em toda investigação.
O PSOL divulgou nota: “O Partido Socialismo e Liberdade vem a público manifestar seu pesar diante do assassinato da vereadora Marielle Franco. Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta. Exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos! Marielle, presente!”
(com agências de notícias)