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Quem é quem nos casos da Covaxin e da propina da Astrazeneca

Deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e policial militar Luiz Paulo Dominguetti, representante da Davati, foram à CPI da Covid nos últimos dias e detalharam as denúncias relacionadas às vacinas

Luis Ricardo Miranda e Luis Miranda na CPI da Covid (Jefferson Rudy/Agência Senado)

Luis Ricardo Miranda e Luis Miranda na CPI da Covid (Jefferson Rudy/Agência Senado)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 4 de julho de 2021 às 09h00.

No fim de junho, dois casos envolvendo negociações do Ministério da Saúde por vacinas contra a covid-19 vieram à tona. Primeiro, a denúncia do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e do irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor da pasta, que diz ter sofrido pressão atípica e encontrado irregularidades no contrato da vacina indiana Covaxin.

Dias depois, o policial militar Luiz Paulo Dominguetti, representante autônomo da Davati Medical Supply, contou à Folha de S. Paulo que recebeu pedido de propina enquanto negociava 400 milhões de doses da vacina da Astrazeneca. Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, teria pedido US$ 1 por dose.

Vários nomes apareceram nos depoimentos de Miranda e Dominguetti, quando eles foram à CPI da Covid detalhar as denúncias. Veja quem são os principais personagens dos casos:

 

OS DEPOENTES:

 

Luis Miranda

Deputado federal pelo DEM do Distrito Federal, se envolveu no assunto quando o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, contou sobre suspeitas de irregularidades no contrato da Covaxin. Miranda sugeriu que eles fossem até o presidente Jair Bolsonaro relatar o que estava acontecendo.

Em 20 de março, Luis Ricardo e Luis Miranda se encontraram com o presidente, que teria dito que as acusações eram “graves” e que iria pedir que a Polícia Federal investigasse o caso, mas não tomou nenhuma providência depois.

Luis Miranda resolveu recorrer à CPI da Covid. Lá, deu detalhes da pressão sofrida pelo irmão e da reunião com Bolsonaro, até apontar que ele mencionou Ricardo Barros como envolvido nessas negociações.

O nome de Miranda voltou a aparecer na CPI da Covid no depoimento de Luiz Paulo Dominguetti. O PM apresentou um áudio do deputado e disse se tratar de intermediação por vacinas, mas foi desmentido pouco depois. Miranda voltará à CPI da Covid nos próximos dias.

Luis Ricardo Miranda

Servidor do Ministério da Saúde responsável por liberar a importação de insumos, como vacinas. Contou ao irmão, deputado Luis Miranda, que estava sofrendo pressões atípicas para liberar a importação da Covaxin, mesmo com irregularidades no contrato.

Luis Ricardo afirma que havia problemas como o caso da Madison Biotech. 45 milhões a mais seriam pagos antecipadamente. Na CPI da Covid, afirmou que sofria pressão de pelo menos dois superiores hierárquicos: Alex Lial Marinho e Roberto Ferreira Dias.

Luiz Paulo Dominguetti

Policial militar de Minas Gerais, atua como representante comercial para, segundo ele, complementar a renda. Passou a trabalhar como autônomo para a Davati Medical Supply em janeiro, mas o nome dele só foi oficializado como representante da empresa em abril.

Em 25 de fevereiro, se encontrou com Roberto Dias e Coronel Blanco no restaurante Vasto, em Brasília, para negociar a venda de 400 milhões de doses da Astrazeneca. Na ocasião, ele afirma que Dias teria pedido propina de US$ por dose.

 

OS CITADOS:

 

Ricardo Barros

Deputado federal pelo Progressistas do Paraná, é líder do governo na Câmara. Em depoimento à CPI da Covid, Luis Miranda afirmou que o presidente Jair Bolsonaro citou o nome de Barros quando soube das irregularidades envolvendo a vacina Covaxin.

Segundo Miranda, em 20 de março, quando Bolsonaro soube da pressão acima do normal pela liberação da importação da Covaxin, apesar dos indícios de irregularidades no contrato, “o presidente entendeu a gravidade” e afirmou que “isso é coisa” de Barros.

O deputado nega as acusações e pede para ser ouvido pela CPI da Covid.

Roberto Ferreira Dias

Ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, foi indicado ao cargo pelo centrão, durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta, e exonerado após a denúncia de Dominguetti . Aparece tanto no caso da Covaxin quanto no da propina da Astrazeneca.

No primeiro, teria pressionado Luis Ricardo pela liberação da importação da vacina Covaxin. No segundo, segundo Luiz Paulo Dominguetti, teria pedido propina de US$ 1 por dose na negociação por vacinas da Astrazeneca com a Davati. Ele nega as acusações.

Cristiano Alberto Carvalho

Representante oficial da Davati Medical Supply no Brasil, é chefe de Dominguetti e fez os primeiros contatos com o Ministério da Saúde para vender vacinas. Segundo o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), ele tem muito o que explicar.

A denúncia sobre a propina, segundo Dominguetti, foi ideia dele. Cristiano teria ligado para o representante, já com a jornalista da Folha na linha, e pedido para que ele contasse o que tinha acontecido naquela reunião – o suposto pedido de propina por parte de Roberto Dias.

Cristiano não estava no jantar em Brasília. Foi ele que enviou o áudio de Luis Miranda que Dominguetti mostrou na CPI, no qual o deputado aparece falando sobre uma negociação que o representante afirmou ser sobre vacinas. Miranda diz que o áudio tinha sido editado e, na verdade, tratava de uma venda de luvas cirúrgicas em 2020.

Marcelo Blanco da Costa

Tenente-coronel, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, durante a gestão Pazuello. Foi exonerado em janeiro. Mas, em fevereiro, participou do jantar em que Roberto Dias teria cobrado propina a Dominguetti para prosseguir com as negociações pela vacina Astrazeneca.

Dominguetti disse ter sido apresentado a Blanco por um parceiro comercial, chamado Odilon. O coronel teria mostrado interesse na aquisição da vacina Astrazeneca e apresentou Dominguetti a Roberto Dias.

“Coronel Blanco já vinha, há dias, fazendo essas tratativas entre a Davati e o Roberto Dias. (...) Essas tratativas eram: Roberto Dias, Blanco e o Cristiano, CEO da Davati”, contou Dominguetti à CPI.

Partiu de Blanco o convite para que o representante fosse a Brasília tratar da venda de vacinas. “Quem me levou ao Ministério da Saúde foi o Coronel Blanco. Eu não tinha acesso, não conhecia ninguém no Ministério da Saúde”, disse o Dominguetti.

Elcio Franco

Coronel, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, durante a gestão de Eduardo Pazuello. Foi exonerado em março deste ano. Dominguetti conta que se encontrou com Elcio depois de ter falado com Roberto Ferreira Dias, mas o então secretário-executivo não sabia da oferta de vacinas.

“O que nos espantou era uma proposta de 400 milhões de doses ao Ministério da Saúde e o senhor coronel Elcio Franco não ter conhecimento dessa proposta que havia sido protocolada pelo senhor Roberto Dias. Ou seja, ele não tinha avançado ou informado ao ministério, segundo o senhor Elcio Franco, dessa proposta”, contou Dominguetti.

Elcio teria perguntado ao representante pessoalmente a quem ele havia feito a proposta. Quando ele respondeu que foi com Roberto Dias, “houve uma troca de olhares, ele abaixou a cabeça, simplesmente saiu e disse, pediu para que dois estagiários pegassem os nossos nomes, que entrariam em contato”.

Marcelo Bento Pires

Conhecido como “coronel Pires”, era coordenador de logística no Ministério da Saúde. É um dos superiores que Luis Ricardo apontou que teriam feito pressão para que ele liberasse a importação da Covaxin, inclusive com ligações aos sábados e em horários inoportunos, como 23h.

Pires foi nomeado para a Diretoria de Programas do Ministério da Saúde em 5 de janeiro, durante a gestão Pazuello. O cargo está ligado à secretaria-executiva do ministério, que era ocupado por Elcio Franco.

Alex Lial Marinho

Ex-coordenador-geral de Aquisição de Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde na gestão de Eduardo Pazuello, ele também teria feito pressão pela importação da Covaxin. Foi nomeado para o cargo em maio de 2019 e exonerado no último dia 8 pelo ministro Marcelo Queiroga.

Regina Célia Silva Oliveira

Servidora do Ministério da Saúde, era fiscal do contrato entre a pasta e a Covaxin. Em 22 de março, ela autorizou a importação do imunizante, mesmo diante de irregularidades no contrato, que previa doses a menos do que o número acordado e a intermediação da empresa Madison Biotech, não citada anteriormente.

“Tinha falhas na invoice, e encaminhamos todas essas falhas para a fiscal do contrato, que é a responsável pela execução para dar o ‘de acordo’ ou não para a continuidade do processo”, contou Luis Ricardo à CPI.

Regina Célia foi nomeada em 2017, por Ricardo Barros, quando o deputado era ministro da Saúde, no governo do ex-presidente Michel Temer. A informação está no Diário Oficial da União.

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