Braga Netto: general da reserva foi preso por obstrução à Justiça (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 08h34.
Última atualização em 14 de dezembro de 2024 às 22h37.
A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã deste sábado, 14, o ex-ministro da Casa Civil e Defesa Walter Souza Braga Netto, indiciado pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
A corporação afirmou que o general quatro estrelas da reserva do Exército Brasileiro, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022, estava atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal.
Nascido em Belo Horizonte, Braga Netto assumiu o cargo de chefe da Casa Civil em 2019, no governo Bolsonaro. No ano seguinte, passou à reserva militar e foi nomeado ministro da Defesa, cargo que ocupou até 2021. Após isso, integrou a assessoria especial da Presidência até julho daquele ano, quando deixou o governo para se dedicar à campanha eleitoral.
O general também desempenhou papéis importantes em gestões anteriores. Foi o responsável pela segurança na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, durante o governo de Dilma Rousseff (PT), e coordenou a intervenção militar no estado do Rio em 2018, na gestão de Michel Temer (MDB). A intervenção, que durou cerca de um ano, buscou conter a crise de segurança pública do estado.
Considerado um dos principais aliados de Bolsonaro, Braga Netto ganhou notoriedade por suas declarações polêmicas. Em 2020, coordenou a política de combate à pandemia da covid-19, que deixou mais de 687 mil mortos no Brasil, e defendeu pautas como o voto impresso e críticas ao sistema eletrônico de votação. Em ocasiões públicas, também celebrou o regime militar instaurado em 1964.
Ex-aluno do Colégio Militar de Belo Horizonte, Braga Netto ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1975, formando-se em Cavalaria em 1978. Em 1988, concluiu mestrado em Operações Militares na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (Esao), e em 1994, finalizou doutorado em Planejamento Militar na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme).
Ao longo de sua carreira, foi assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, participando do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam/Sivam). Também chefiou o grupo de Observadores Militares das Nações Unidas no Timor Leste (2000) e atuou como adido do Exército na Polônia, Canadá e Estados Unidos, entre 2005 e 2013.
Segundo o documento de mais de 800 páginas, Braga Netto foi uns dos principais articuladores do plano. Os investigadores afirmam que o ex-ministro de Bolsonaro faria parte do núcleo "responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado" e do núcleo de "oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos".
O relatório descreve Braga Netto como um dos líderes do grupo, juntamente com o general Augusto Heleno, que planejava a criação de um gabinete vinculado à Presidência da República após a consumação do Golpe de Estado. Esse gabinete, composto majoritariamente por militares e alguns civis, teria a função de assessorar o então presidente Jair Bolsonaro em um novo regime autoritário.
O inquérito aponta ainda que o general da reserva coordenou ataques a generais do Alto Comando do Exército que se recusavam a participar da tentativa de golpe. Ele também teria orientado a disseminação de mensagens de apoio a militares que se alinhavam ao plano golpista.
Os investigadores apontaram que uma reunião foi realizada no dia 12 de novembro de 2022 na casa do general Walter Braga Neto, em meio a um suposto planejamento para o assassinato do então presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. A participação do general foi confirmada por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Em nota, divulgada na época do indiciamento, Braga Netto afirmou que "nunca se tratou de golpe e muito menos de plano de assassinar alguém" e que "sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais".
Na conclusão do inquérito, a PF afirmou que Braga Netto buscou informações sobre o “acordo de colaboração” do tenente-coronel Mauro Cid por meio dos pais do militar.
Durante uma operação de busca e apreensão na sede do PL, a PF localizou um documento que seria um "guia de perguntas e respostas" sobre a delação de Mauro Cid. O material estava na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto na época, que ocupava um cargo no partido.