Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga; presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM). (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de maio de 2021 às 17h45.
Última atualização em 9 de maio de 2021 às 19h43.
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid do Senado, Omar Aziz (PSD-AM), classificou neste domingo (9) como uma "grande decepção" a postura do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que depôs à comissão nesta semana e se esquivou de declarar sua posição sobre o uso da cloroquina em pacientes com covid-19. Segundo Aziz, Queiroga "com certeza" será reconvocado para falar mais uma vez à CPI, diante das contradições expostas entre a política do governo Bolsonaro na pandemia e as diretrizes do Ministério da Saúde.
Questionado diversas sobre o uso da cloroquina durante o depoimento na quinta-feira (6), o ministro respondeu que não poderia se pronunciar porque a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) ainda está avaliando e elaborando o protocolo de tratamento da covid-19. Isso irritou os integrantes da CPI, especialmente a cúpula do colegiado. Neste sábado, 8, o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que Queiroga investiu numa estratégia de não responder às perguntas dos senadores objetivamente e, portanto, de não "falar a verdade".
Essa frustração foi endossada pelo presidente da CPI. "Agora, o Queiroga foi uma grande decepção, ele como médico cardiologista. Quando a gente perguntava se ele era a favor da cloroquina - e ele não citava a palavra cloroquina, falava em 'fármacos' -, ele jogava para a Conitec", comentou Aziz em entrevista ao historiador Marco Antonio Villa divulgada neste domingo no Youtube. Para o presidente da CPI, esse pretexto usado por Queiroga foi para "não magoar o chefe" e indica que o ministro é contra o uso da cloroquina em pacientes com covid-19, medicamento que não tem eficácia comprovada contra a doença.
"Então é claro no posicionamento dele que ele é contra, mas não quer magoar o chefe. E com certeza será reconvocado porque as contradições em relação à política do governo é totalmente diferente da política do Ministério da Saúde. Então ele deve ser reconvocado", afirmou Aziz.
Na conversa com o historiador, o presidente da comissão também avaliou o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich como o "melhor" até o momento. Além de Queiroga e Teich, que foi o segundo titular da pasta no governo Bolsonaro, também falou nesta semana à CPI o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. "Teich passou 29 dias na Saúde, pouco ou quase nada poderia ter feito. Mesmo assim, acho que o melhor depoimento que teve foi do Teich, porque claramente ele se posiciona contra medicação antecipada, em relação ao que poderia ou não acontecer sobre essas medicações que estão sendo difundidas por um grupo de pessoas", afirmou o senador.
Para Aziz, no entanto, um ponto em comum nos depoimentos dos três médicos é que nenhum apresentou ter um "planejamento" para enfrentar a pandemia. "Nenhum deles tem planejamento, ainda estão todos batendo cabeça em relação à covid depois de um ano", avaliou o presidente da comissão. Apesar de lembrar que Mandetta levou à CPI a carta em que alertou o presidente sobre a gravidade da pandemia, Aziz disse que o ex-ministro também não conseguiu dizer à comissão qual foi o planejamento tocado por ele enquanto estava titular da Saúde.
"Qual era o planejamento de testagem, de barreira sanitária, de comportamento? Era tudo incipiente, mas não havia ali um planejamento, ele não deixa nada planejado como ministro", criticou o senador.
O presidente da CPI ainda avaliou que não é uma maioria, mas, sim, uma minoria no Brasil que defende o uso de medicações com eficácia não comprovada em pacientes infectados pelo novo coronavírus. "Parece que é uma maioria, e não é uma maioria. Eles têm um poder de mídias sociais muito grande", disse o senador.
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid do Senado, Omar Aziz (PSD-AM), criticou duramente neste domingo (9) a postura de quem prescreve ou indica remédio sem ser profissional da saúde. Aziz mirou no presidente Jair Bolsonaro, defensor da cloroquina para pacientes de covid-19, mesmo sem o medicamento ter eficácia comprovada para essa finalidade. Na visão de Aziz, prescrever sem responsabilidade um medicamento que leve a morte de uma pessoa é o mesmo que "dar um tiro" e cometer um assassinato. Para ele, o Congresso tem obrigação de estudar "lei bastante rigorosa" nessa área.
"Quem somos nós, quem sou eu, quem é o presidente Bolsonaro para dizer qual é a medicação que se vai tomar?", questionou Aziz em entrevista ao historiador Marco Antonio Villa divulgada neste domingo no Youtube.
"Não é só ele, estou dizendo sobre qualquer um de nós. Esse é um crime que você comete", disse o senador. O presidente da CPI também desaprovou Bolsonaro por não mudado "um centímetro" em sua postura desde que a pandemia do novo coronavírus começou. Aziz lembrou que durante esse período a ciência tem tentando entender a doença, mas o presidente continua a emitir posições contrárias às recomendadas por especialistas.
"Se tem uma pessoa nesse país que nunca enganou ninguém foi o Bolsonaro. Ele desde o primeiro momento tem uma linha que ele acha correta e, no meu ponto de vista, não é correta. Mas ele fala aquilo sem nenhuma dúvida de que ele está correto. Então, desde o primeiro (dia) ele defende que as pessoas têm de trabalhar, que para ele aglomeração não tem nada a ver, ele defende a imunidade de rebanho, a cloroquina, a ivermectina, ele sempre defendeu, não mudou de opinião desde o primeiro dia até hoje, infelizmente", comentou o senador. "E isso não é bom, porque a gente pode, às vezes, dar uma informação equivocada, ter um pensamento equivocado, e mudar de opinião. Ele até ontem, está com a mesma tese, não mudou um centímetro", concluiu Aziz.
Para o presidente da comissão, uma lição que pode ser retirada da pandemia até o momento é sobre a necessidade de o Congresso aprovar um "lei rigorosa" sobre a prescrição e divulgação de remédios por quem não é profissional da saúde.
"É lógico que é uma campanha arquitetada por poucos, mas que parece milhões fazendo esse tipo de propaganda, enganosa, mentirosa. Uma pessoa dessa, se dá medicamento que (leva uma) pessoa a óbito, é a mesma coisa que você dar um tiro numa pessoa não há diferença, se está cometendo um assassinato. Então, o Congresso tem obrigação de ser bastante rigoroso, com uma lei bastante rigorosa, em relação à prescrição de remédios por não profissionais", disse o senador.
O presidente da CPI da Covid também questionou a segurança de se distribuir medicamento como a cloroquina em Unidades Básicas de Saúde. "A gente sabe que a cloroquina para quem tem arritmia, problemas cardíacos, ela tomada em excesso leva a óbito, isso está comprovado cientificamente. Como você vai distribuir cloroquina em Unidade Básica de Saúde sem saber o que o cidadão tem. Quando vai a hospital, ou UBS, 'estou com febre, falta de ar', 'toma isso aqui'. Você nem sabe quem é o sujeito, não sabe nem o que ele tem", alertou Aziz.
Como mostrou o Broadcast/Estadão, o Ministério da Saúde chegou a lançar um aplicativo para orientar o enfrentamento da covid-19 que recomendava uso de antibióticos e cloroquina, ivermectina e outros fármacos para náusea e diarreia ou para sintomas de uma ressaca, como fadiga e dor de cabeça.
A lista de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid era sugerida pela plataforma, que só podia ser usada por médicos, para qualquer soma de dois sintomas, mesmo se o paciente não tivesse saído de casa ou contato com algum infectado nas duas últimas semanas. Após receber críticas, a plataforma foi retirada do ar.
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