INCÊNDIOS NA AMAZÔNIA: secretário defendeu que queimadas são normais nessa época do ano (Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de setembro de 2019 às 18h16.
Última atualização em 2 de setembro de 2019 às 18h18.
O secretário Nacional de Segurança Pública, vinculado ao Ministério da Justiça, Guilherme Theophilo, defendeu nesta segunda-feira, 2, a um grupo de empresários na Fiesp que os focos de incêndio na região amazônica são normais nessa época do ano e que mesmo um caco de vidro, ao ser atingido pelo sol, "funciona como uma lente" e causa o fogo. Ele afirmou que há um exagero em como o tema está sendo tratado: "Essa crise é uma crise criada". Segundo ele, hoje, o que mais causa dano à Amazônia não são as queimadas mas sim o garimpo ilegal, que tem criado "verdadeiros desertos" na Amazônia.
Ele afirmou que há uma série de problemas na região amazônica para além das queimadas. Por exemplo, disse, a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol teria desalojado muitos plantadores de arroz que empregavam índios. "Eles empregavam muito índio e hoje os índios estão mendigando na capital de Roraima", disse.
Theophilo disse ainda que há uma invasão de búfalos na região e que, eles sim, são responsáveis por algum aumento do desmatamento. "Existe uma praga de búfalos em Rondônia, um tipo de criação extensiva, que já está igual ao javali no Rio Grande do Sul. O búfalo, onde ele urina não nasce mais nada. Ele se reproduz numa velocidade muito grande e ele desmata", disse.
Na tentativa de diminuir o impacto negativo na imagem do País com a polêmica sobre desmatamento e queimadas na região da Amazônia, a Fiesp convidou uma série de CEOs de grandes empresas para um almoço nesta segunda-feira. Entre as empresas representadas estavam Nestlé, Casino, Volkswagen, Ambev, Santander e Unilever.
O discurso defendido pela Federação é de que o País tem reduzido esses números e cumprido o acordo de Copenhague. E que tanto o desmatamento quanto as queimadas estão dentro da média dos últimos 20 anos e dos últimos 10 anos.
Segundo levantamento feito pela Fiesp com dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a agosto, houve 60 mil focos de queimadas neste ano. A média dos últimos 20 anos foi de 57.432. Em 10 anos, 47.030. Recentemente, o diretor-presidente do Inpe foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro, que questionou os dados oficiais.
O gerente do departamento de agronegócio da Fiesp, Antônio Carlos Costa, destacou que o mês de agosto é quando as queimadas são mais frequentes, sobretudo pelo clima seco, e determina como será o número fechado no ano. "O que vai determinar se vai aumentar ou não em relação ao ano passado é o volume de chuvas de agora para frente", disse. Ainda de acordo com o levantamento só em agosto de 2019, houve 40 mil focos de queimadas. A média dos últimos 20 anos e 10 anos foram, respectivamente, de 34.646 e 27.791.
Aos empresários, Costa defendeu que as queimadas na região são um fenômeno típico do período seco e atingem sobretudo áreas de cerrado dentro do bioma amazônico. Em relação ao desmatamento, a Fiesp argumentou que, de todo o bioma amazônico, 49% estão em áreas protegidas por lei e são "intocadas". Outros 26% estão propriedades privadas e 25% não foram cadastradas. Em propriedades agrícolas, 20% do bioma pode ser utilizado para cultivo.