A partir da seca, o Brasil vem sofrendo com a alta de queimadas, que leva consequências às cidades do Norte e do Sul. Isso também contribui para o aumento das temperaturas (Michel Alvim - SECOM / MT/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 14 de setembro de 2024 às 18h17.
A onda de fogo que atinge o Brasil e outros países da América do Sul fez com que a concentração de monóxido de carbono (CO) na atmosfera atingisse "níveis altíssimos" em parte do território brasileiro, segundo a MetSul meteorologia. A inalação deste gás "incolor, inodoro e até fatal em ambientes fechados" — que cobre principalmente São Paulo e as região amazônica e Centro-Oeste do país — dificulta o transporte de oxigênio no corpo humano e compromete o dia a dia da população.
"O comprometimento do transporte de oxigênio para os tecidos e órgãos pode causar uma variedade de sintomas, desde manifestações leves, como tontura, confusão mental e dificuldade de concentração, até efeitos graves, como dificuldade respiratória e arritmias cardíacas, especialmente em casos de exposição a concentrações elevadas", explica Lucas Ferrante, doutor em biologia e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Ferrante destaca que a Amazônia ocidental é uma "importante exportadora de vapor d'água para o sul e sudeste do Brasil, além de países como Argentina e Paraguai". Porém, diante das condições climáticas, a região transformou-se em um "grande exportador de um rio voador de fumaça e monóxido de carbono".
A MetSul ressalta que incêndios em vegetação são uma "fonte importante de poluição por monóxido de carbono" e que o gás é "espalhado pelos ventos e padrões de circulação por toda a baixa atmosfera".
"O monóxido de carbono é um gás traço na atmosfera e não tem efeito direto na temperatura global, como o metano e o dióxido de carbono. No entanto, o monóxido de carbono desempenha um papel importante na química atmosférica e afeta a capacidade da atmosfera de se limpar de muitos outros gases poluentes. Em combinação com outros poluentes e luz solar, ele também participa da formação de ozônio atmosférico inferior (“ruim”) e da poluição urbana", apontou o instituto de meteorologia na quinta-feira.
Em meio ao cenário de seca extrema e queimadas no Norte do país, dados do Copernicus, o programa de observação da Terra da União Europeia, indicam que o Sudoeste da Amazônia foi a região que mais emitiu gases de efeito estufa no planeta no início desta semana, segundo Ferrante. A conclusão é baseada no volume de aerossóis e de monóxido de carbono captado nessa área de emissão. Esses gases são associados aos que causam o efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono, que também é liberado nos incêndios.
"A região se tornou a maior emissora de gases de efeito estufa devido ao avanço do desmatamento e às queimadas", alerta Ferrante, que pesquisa os efeitos da ação humana sobre a Amazônia há mais de uma década.
A partir da seca, o Brasil vem sofrendo com a alta de queimadas, que leva consequências às cidades do Norte e do Sul. Isso também contribui para o aumento das temperaturas. Além dos municípios do Norte estarem sofrendo com as queimadas da própria Amazônia, os estados do Sul e do Sudeste recebem a fumaça, já que um corredor de vento se desloca do Norte ao Sul do país, no momento.
No final de semana passado, foram registrados 7028 focos de calor no país, de acordo com dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Em julho e agosto, o número bateu recorde em diversos locais, inclusive na Amazônia, onde o nível de chuva está abaixo do normal, afetando as bacias hidrográficas e tornando a vegetação mais suscetível ao fogo.