Dilma Rousseff (Roberto Stuckert Filho/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2012 às 18h36.
Brasília- Frase comum aos brasileiros que gostam de acompanhar o suspense típico das novelas, "quem é o próximo" ganhou um sentido político nos últimos meses, quando a queda sucessiva de ministros superou o mais criativo dos roteiros de ficção.
Foram sete a deixar o governo da presidente Dilma Rousseff, seis deles diante de denúncias de irregularidades que dominaram as manchetes dos jornais e atiçaram uma pergunta que é tradicionalmente dispensada a personagens dos folhetins.
As acusações de corrupção, ou "malfeitos" como Dilma preferiu chamar as condutas suspeitas de seus ministros, ofuscaram o lançamento de programas-chave do governo, que praticamente sumiram em meio à sequência de noticiário negativo.
"A presidente teve boas iniciativas, mas a repercussão que os programas tiveram foi quase zero", disse à Reuters uma fonte do governo próxima à Dilma, sob condição de anonimato.
Oportunidades não faltaram ao governo para colar uma imagem positiva. Foram lançados programas de apelo popular, como o Pronatec, de ensino técnico, e o Ciência sem Fronteiras, que concede bolsas de estudo em instituições no exterior, além do Brasil sem Miséria, considerado carro-chefe do governo na área social.
Mas foi a sucessão de crises entre os ministros, todas elas iniciadas por denúncias publicadas na imprensa, que deu o tom deste primeiro ano de Dilma.
A pressão foi percebida pela presidente, segundo este integrante do governo, e ela teria se sentido numa "encruzilhada": demitir ministros à reboque de denúncias ou mantê-los e arcar com o custo de ser considerada leniente com a corrupção.
Dilma deve aproveitar a reforma ministerial, esperada para o início de 2012, para substituir ministros com potencial a escândalos e tentar superar as dificuldades deste ano.
Deve, antes disso, reunir seus assessores mais próximos para fazer uma avaliação deste primeiro ano e traçar metas para 2012. Mas não há nada planejado -além do que já é feito- para melhorar a publicidade e divulgação dos programas já em andamento e tentar conquistar algum foco positivo, disse a fonte.
Faxina, Não
Publicamente, Dilma se queixou do termo "faxina" usado pela imprensa para classificar as demissões de ministros, apesar do rótulo tê-la ajudado em seus níveis de aprovação.
Pesquisa Ibope divulgada na semana passada apontou crescimento da aprovação ao governo Dilma e mostrou a avaliação pessoal da presidente estável e em nível elevado.
O levantamento mostrou que notícias sobre corrupção no governo foram, mais uma vez, as mais lembradas pelos entrevistados.
"Ela rejeitou o papel de faxina, apesar desse rótulo ter ajudado-a em sua popularidade. Corrupção é um assunto que pega bem, especialmente entre a classe média, e a imprensa reflete", disse o integrante do governo.
Em pesquisas informais encomendadas por aliados, Dilma teria, também, conseguido melhorar sua avaliação em setores da sociedade antes resistentes ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sinal de que, apesar da ligação de seus ministros com suspeitas de corrupção, Dilma passou praticamente ilesa às crises.
"Ela passou boa parte do ano tendo que responder a uma agenda negativa, e mesmo assim o nível de popularidade dela é histórico", disse Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria Integrada.
"Acho que tem uma tendência para a agenda do governo caminhar até um pouco melhor (no ano que vem) do que caminhou em 2011", disse.
A "mãe do PAC", como era chamada a então ministra-chefe da Casa Civil pelo ex-presidente Lula, apostou na área social, e lançou diversos programas de saúde, como projetos especiais para gestantes, usuários de crack e distribuição de medicamentos, além de um plano para deficientes e distribuição de água.
Tal esforço, segundo um outro assessor de Dilma, seria no sentido de diluir o perfil técnico e gerencial pela qual a presidente se fez conhecida.
"A presidente deu um tom mais social à sua agenda nesse ano, porque ela tinha uma imagem muito ligada à área de infraestrutura", disse este assessor à Reuters.
Apesar das iniciativas sociais e populares do governo Dilma terem ficado "escondidas", isso parece não ter prejudicado a avaliação deste primeiro ano de governo.