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Após Tancredo, Aécio pode levar sobrenome ao Planalto

Tucano lembrou por várias vezes na campanha a herança política do avô, recordando o parentesco em sua propaganda no rádio e na TV


	Aécio Neves (PSDB) durante ato político na praça da Estação, em Belo Horizonte, Minas Gerais
 (Orlando Brito/Coligação Muda Brasil)

Aécio Neves (PSDB) durante ato político na praça da Estação, em Belo Horizonte, Minas Gerais (Orlando Brito/Coligação Muda Brasil)

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Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2014 às 15h31.

São Paulo - Quase 30 anos após a morte de Tancredo Neves, que o impediu de assumir a Presidência, seu neto Aécio Neves pode finalmente colocar a faixa presidencial no peito de um membro do clã, caso vença a eleição de domingo.

Apontado como futuro candidato do PSDB ao Planalto desde que ganhou destaque nacional como presidente da Câmara dos Deputados em 2001, Aécio lembrou por várias vezes na campanha a herança política do avô, recordando o parentesco em sua propaganda no rádio e na TV e usando, inclusive, o mesmo slogan adotado pela campanha que deu a Tancredo a vitória na eleição indireta em 1985: "Muda Brasil".

"Ele sempre teve um papel extremamente estratégico - de um grande conselheiro e de um grande amigo e continuará a ter", disse Aécio sobre a influência do avô em sua vida pública, ao comemorar sua chegada ao segundo turno da eleição presidencial, depois de uma virada impressionante na qual tirou 20 pontos de desvantagem nas pesquisas de intenção de voto para superar Marina Silva (PSB).

Garantido no segundo turno, e possivelmente aliviado por ter evitado o pior desempenho de um presidenciável do PSDB desde 1989, Aécio precisou recorrer ao seu DNA para atuar como conciliador e atrair para si o apoio de Marina, do PSB e de outros candidatos derrotados no primeiro turno, como pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV).

Citado por diversas vezes durante a campanha tucana, Tancredo tinha uma frase atribuída a ele na qual afirmaria: "Presidência da República é destino."

Aécio lembrou durante a campanha que "uma peça" pregada por esse mesmo destino impediu o avô de subir a rampa do Planalto. Ele, no entanto, começou a construir seu próprio destino há 13 anos.

Visto por aliados como gestor eficiente e por adversários como "playboy" e censor da imprensa mineira, Aécio começou a trilhar o caminho que agora pode levá-lo ao Planalto ao ganhar notoriedade em 2001 como presidente da Câmara dos Deputados e reforçou essa trajetória ao fazer dois governos bem avaliados em Minas Gerais, de 2003 a 2010.

“Eu acho que o Aécio combina uma extraordinária habilidade política, para a política partidária, para as composições eleitorais, com uma clareza muito grande de objetivos, do que ele quer atingir", disse o senador paulista Aloysio Nunes (PSDB), candidato a vice na chapa de Aécio, em entrevista recente à Reuters na qual também rebateu a fama de "playboy" do presidenciável tucano.

“Ele é um sujeito que gosta da vida. Gosta de comer bem, gosta de amigos, gosta de tomar os seus aperitivos. É uma pessoa normal. Agora, é extremamente disciplinado. O Aécio é um sujeito muito disciplinado e trabalhador. Não apenas na política, mas na administração. Foi um excelente governador de Minas Gerais.”

Além de atrair o tão esperado apoio de Marina, Aécio já mostrou no passado sua capacidade de conciliação e articulação política.

Na eleição municipal de 2008, por exemplo, foi um dos artífices de uma improvável aliança que uniu PT, PSDB e PSB para eleger Márcio Lacerda (PSB) prefeito de Belo Horizonte.

Desde então, sua relação com o PT, principal antagonista do PSDB na política nacional desde 1994, se deteriorou por razões óbvias e conforme se aproximava a perspectiva de Aécio se tornar rival petista pelo mais alto cargo do país.

Com o PSB, antes do apoio recebido no segundo turno, a aliança foi rompida neste ano, quando o partido lançou Eduardo Campos à Presidência e depois de ele morrer em um acidente aéreo em agosto e ser substituído por Marina Silva.

As relações com lideranças socialistas, no entanto, sempre foram boas.

"O Aécio é um grande político. Teve excelente gestão no governo de Minas", disse o deputado federal Júlio Delgado, presidente do PSB mineiro.

Independentemente da opinião que desperte, o fato é que Aécio, aos 54 anos, finalmente chegou à posição que parecia que seria sua, mais cedo ou mais tarde: a candidatura à Presidência da República.

E agora, quase 30 anos após a morte do avô, o presidenciável tucano, um dos mais destacados integrantes de uma árvore genealógica dominada por políticos, pode finalmente, se vencer no domingo, tornar-se o maior protagonista de um clã que além de Tancredo, teve o avô paterno, Tristão da Cunha, e o pai, Aécio Cunha.

Governador de Minas

Aécio também seguiu os passos de Tancredo ao governar Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil. Comandou o Estado por dois mandatos, assumindo em 2003 e deixando o cargo em 2010 com altíssimos índices de popularidade, para disputar uma vaga no Senado.

Acabou sendo uma espécie de "prêmio de consolação" para o tucano, que com uma grande aprovação no governo mineiro era apontado como postulante natural do PSDB ao Planalto naquela eleição, depois das derrotas de José Serra, em 2002, e de Geraldo Alckmin, em 2006.

Mas Serra impôs seu nome mais uma vez e acabou derrotado pela presidente Dilma Rousseff (PT).

Eleito senador, conseguiu fazer seu sucessor em Minas com uma vitória no primeiro turno do até então pouco conhecido Antonio Anastasia, que era seu vice e assumiu o governo com a saída de Aécio.

Com isso, credenciou-se como candidato natural à Presidência da República em 2014 e principal nome da oposição.

"Ele forma a equipe, estabelece o planejamento estratégico, fixa metas objetivas, supervisiona, descentraliza a gestão e cobra resultados", disse o deputado federal Marcus Pestana, presidente do diretório mineiro do PSDB, que foi secretário de Saúde do governo Aécio.

O tucano foi eleito no primeiro turno nas duas vezes que disputou o governo do Estado --teve 58 por cento dos votos em 2002 e 77 por cento em 2006-- e foi o governador melhor avaliado do Brasil, segundo o Datafolha, que no final de 2009 mostrou que 73 por cento dos mineiros consideravam seu governo ótimo ou bom.

Com a marca do "choque de gestão", programa pelo qual enxugou a máquina pública, Aécio buscou o carimbo de gestor eficiente, que também procurou propalar na disputa presidencial.

Apesar da grande aprovação com que deixou o governo de Minas, o tucano viu durante a campanha do segundo turno o seu período à frente do Estado se transformar de ponto forte de sua candidatura em "vidraça", apedrejada sem piedade pela adversária, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT.

A derrota do candidato apoiado por Aécio, Pimenta da Veiga (PSDB), para o petista Fernando Pimentel, eleito governador no primeiro turno, aliada à vitória de Dilma sobre Aécio em seu reduto eleitoral, deram à campanha da presidente a chance de lançar uma série de indicadores desfavoráveis sobre o Estado e críticas de má gestão nos governos tucanos, todos rebatidos por Aécio como "mentiras".

No entanto, como mostraram as derrotas eleitorais no primeiro turno em solo mineiro, a era Aécio em Minas Gerais está longe de ser uma unanimidade.

"Indicadores colocam Minas Gerais com os maiores índices de desigualdade no país", disse a cientista política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Helcimara de Souza Telles.

Críticos do senador mineiro afirmam ainda que ele estabeleceu uma "censura" à imprensa do Estado, eliminando os espaços para opositores e garantindo que somente reportagens favoráveis fossem publicadas.

E, segundo esses adversários, a ferramenta escolhida foi o controle das verbas publicitárias, por meio da criação do Grupo Técnico de Comunicação, no qual Andrea Neves, a irmã de Aécio, é quem daria as cartas.

As acusações de que o tucano controlaria a imprensa mineira com pulso firme também se tornaram tema da campanha petista no segundo turno da corrida presidencial e foram igualmente rebatidas como "mentiras" pela campanha de Aécio.

"Os órgãos de comunicação de Minas Gerais são mantidos com mãos de ferro", disse o deputado estadual Pompílio Canavez (PT), líder do bloco "Minas Sem Censura", que faz oposição ao governo tucano na Assembleia Legislativa do Estado.

Lei Seca

Divorciado e pai de uma filha, Aécio casou recentemente com a modelo Letícia Webber, 20 anos mais nova que ele e com que neste ano teve gêmeos --um menino e uma menina.

Amigo de celebridades, como o ex-jogador Ronaldo e o apresentador Luciano Huck, em 2011 foi parado numa blitz da Lei Seca, no Rio de Janeiro, com a carteira de habilitação vencida. Se recusou a fazer o teste do bafômetro e, à época, argumentou que não fez o teste porque não poderia seguir guiando, já que estava com o documento vencido.

Durante a campanha deste ano, teve por várias vezes de responder sobre o episódio. Em uma delas, durante sabatina em um jornal, chegou a sugerir que a plateia checasse a validade de suas habilitações.

Em outra, durante um debate na TV realizado no segundo turno, respondeu de forma dura a uma pergunta de Dilma sobre sua opinião em relação à Lei Seca.

Ele cobrou da petista "coragem" para fazer a pergunta de forma direta, negou que tivesse dirigido embriagado e reconheceu, mais uma vez, que errou ao não fazer o teste.

A presença frequente do tucano no Rio de Janeiro é, inclusive, um dos alvos prediletos de seus adversários políticos.

"O pessoal brinca que ele fez a Cidade Administrativa no meio do caminho para Confins para ficar mais fácil" as viagens para o Rio de Janeiro, disse o deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB), um dos integrantes do "Minas Sem Censura", numa referência à nova sede do governo estadual, construída durante a gestão Aécio na mesma rodovia que leva ao aeroporto de Confins.

Para o deputado tucano Pestana, no entanto, as críticas às viagens de Aécio ao Estado vizinho não passam de "folclore".

"A resposta para isso está nos resultados das últimas eleições", disse, referindo-se à reeleição de Aécio em 2006, à eleição de seu sucessor, Antonio Anastasia, em 2010, e à de Lacerda à prefeitura da capital em 2012, quando foi apoiado pelo senador contra um candidato do PT.

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