A área controlada no Grande Rio dobrou em 16 anos, com crescimento de 105,73%. (Mauro PIMENTEL/AFP)
Colaboradora
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 13h41.
Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 13h42.
O Rio de Janeiro passou pela maior operação policial dos últimos anos nesta terça-feira, 28 de outubro, com a mobilização de cerca de 2,5 mil agentes nos Complexos do Alemão e da Penha. A Operação Contenção, que registra ao menos 132 mortos (incluindo policiais) desde a apuração desta matéria, é considerada a mais letal da história do estado.
A operação foi justificada como resposta a uma escalada de violência entre o Comando Vermelho e as milícias pelo controle de territórios na Zona Norte. Nos últimos meses, os confrontos forçaram o fechamento de escolas e clínicas, afetando mais de 100 mil moradores da região.
Segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF e o Instituto Fogo Cruzado, o domínio territorial dos grupos armados apresenta números preocupantes:
O CV é a facção com maior atuação no Rio de Janeiro, controlando 51,9% da área total dominada por grupos armados no Grande Rio. A organização surgiu no final dos anos 1970, quando detentos comuns aprenderam técnicas de organização com militantes políticos nos presídios.
Em 2023, o grupo foi o único a expandir seu domínio, com crescimento de 8,4% em relação ao ano anterior. Nos últimos 16 anos, o Comando Vermelho aumentou sua área de controle em 89,2%.
A facção consolidou sua hegemonia em regiões estratégicas como:
As milícias são o grupo que mais cresceu historicamente, com aumento de 204,6% no domínio territorial desde 2008. Atualmente, controlam 38,9% da área total dominada no Grande Rio, embora tenham registrado redução de 19,3% em 2023.
O embrião da milícia remonta aos anos 1960, mas o primeiro grupo paramilitar moderno se formou em Rio das Pedras no final dos anos 1980. A partir dos anos 2000, policiais e ex-policiais corruptos passaram a cobrar "taxa de proteção" e explorar serviços como internet clandestina, água e gás.
Sobre os territórios, a capital fluminense é marcada pelo predomínio das milícias, que controlam 66,2% da área da cidade dominada por grupos armados. Somente a Zona Oeste concentra 83,1% desse território.
Vale destacar que, atualmente, não há diferença prática entre os métodos de milicianos e de traficantes, resultando nas chamadas narcomilícias.
O TCP surgiu nos anos 1980 como rival do Comando Vermelho e detém 7,7% da área total dominada no Grande Rio. Nos últimos 16 anos, o grupo cresceu 79,1%, embora tenha registrado redução de 13% entre 2022 e 2023.
A facção concentra suas operações principalmente em duas regiões:
O traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, comanda o Complexo de Israel, que inclui comunidades como Vigário Geral e Parada de Lucas. A quadrilha de Peixão se autointitula evangélica e impõe a proibição de outras crenças em seus territórios, segundo a Polícia Civil.
O TCP frequentemente estabelece parcerias com milícias para enfrentar o avanço do Comando Vermelho.
O ADA é a única facção em queda livre, controlando apenas 0,8% da área total dominada no Grande Rio. A organização foi fundada por volta de 1998, após um racha interno no Comando Vermelho liderado por Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, e Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém.
Nos últimos anos, o grupo perdeu 75,8% de seu território, com redução adicional de 16,7% entre 2022 e 2023. Para se manter, a facção tem buscado alianças com outras organizações, incluindo milícias.
Investigações recentes da 32ª DP indicaram cooperação entre traficantes do ADA e milicianos em comunidades da Zona Oeste, como Gardênia Azul e Curicica, além de alianças pontuais com chefes do Comando Vermelho.