Brasil

Punição para quebra de sigilo é difícil, dizem especialistas

Dificilmente uma investigação consegue descobrir a autoria do vazamento de dados sigilosos


	Justiça: quebras de sigilos bancário e telefônico para a preparação de ações devem ser sigilosas
 (Ricardo Moraes/Reuters)

Justiça: quebras de sigilos bancário e telefônico para a preparação de ações devem ser sigilosas (Ricardo Moraes/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de março de 2016 às 09h14.

São Paulo - Dificilmente uma investigação consegue descobrir a autoria do vazamento de dados sigilosos. Quem afirma são integrantes do Ministério Público e magistrados que atuam na Justiça criminal e têm experiência em casos que trabalham com informações sigilosas, como os de processos que envolvem o combate ao crime organizado.

"Todo sistema colabora para isso", afirmou o desembargador José Damião Cogan, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Segundo ele, é necessário que se crie um sistema de efetivo e se tome "providências específicas para os locais de armazenamento de mídias sigilosas".

Cogan cita o frequente vazamento de áudios de interceptações telefônicas. De acordo com, muita gente - do cartório do magistrado à polícia - tem acesso a essas informações, daí porque é difícil punir quem violou o sigilo.

Responsável pela investigação que resultou na Operação Spy - que investigou o vazamento de dados sobre interceptações telefônicas em São Paulo dentro de operadoras de telefonia -, o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino afirma que o prejuízo à prova com o vazamento é enorme.

Christino, que é integrante do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo, trabalhou no combate ao crime organizado e aos crimes praticados por policiais no Estado.

"Se não trabalho com sigilo, uma interceptação telefônica não serve para nada." De acordo com ele, o prejuízo vai depender do tipo de prova que se busca. No caso de dados bancários, mesmo que o investigado destrua documentos, é possível encontrá-los nas instituições financeiras. "Já anotações pessoais e agendas, por exemplo, podem ser destruídas."

A desembargadora Ivana David, do TJ-SP, disse que as medidas cautelares - como as quebras de sigilos bancário e telefônico - para a preparação de ações devem ser sigilosas.

"O sigilo é necessário para a garantir a investigação. Não é a investigação secreta, pois a prova colhida será discutida depois com os advogados dos investigados", afirmou. Ivana foi juíza-corregedora em São Paulo durante oito anos, cuidando de todos os casos de quebras de sigilo relacionados a inquéritos policiais da capital.

"Eventualmente, informações sigilosas vazam e chegavam ao investigado. Quando se ia fazer uma busca, por exemplo, não se encontrava mais droga, pois os traficantes haviam sido informados", contou.

Investigações

Ivana afirmou que determinou a abertura de investigações sobre vazamentos de informações, inclusive em casos em que a suspeita era de que policiais haviam sido os responsáveis pela quebra do sigilo. "O sigilo é necessário para a Lava a Jato, mas também é necessário para a investigação de um sequestro, quando se busca resgatar uma vítima mantida em cativeiro."

Acompanhe tudo sobre:JustiçaMinistério Público

Mais de Brasil

Explosão provoca destruição em imóveis e deixa feridos na Zona Leste de SP

Chuva forte e novos temporais são esperados para fim de semana no Paraná

Lula cobra empenho de ministros na aprovação de projetos para segurança

Barroso lista três 'virtudes' que espera de seu substituto no STF