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“PT vai pagar caro por estratégia equivocada”, diz sociólogo

Para Aldo Fornazieri, condenação de Lula é um baque para o PT, que focou demais na figura do ex-presidente e esqueceu o projeto para o país

Bandeira do Partido dos Trabalhadores (PT) em frente ao Congresso Nacional em Brasília (Partido dos Trabalhadores/Divulgação)

Bandeira do Partido dos Trabalhadores (PT) em frente ao Congresso Nacional em Brasília (Partido dos Trabalhadores/Divulgação)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 13 de julho de 2017 às 06h30.

Última atualização em 13 de julho de 2017 às 06h30.

São Paulo – Apesar de esperada, a sentença condenando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos de prisão não deixou de ter impacto para o PT.

Segundo Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP-SP), o partido vai “pagar caro pela estratégia errada”.

“A única aposta que o PT fez depois que saiu do governo foi montar uma estratégia para a eleição de 2018, e apostou numa bala de prata – a candidatura de Lula. Essa é uma estratégia da derrota, e sem plano B”, afirma o sociólogo.

Mesmo que seja absolvido na segunda instância, Lula concorreria nas eleições de 2018 contra candidatos sem condenação. Segundo Fornazieri, isso geraria uma campanha muito defensiva por parte de Lula, sempre tendo que se explicar e com pouco tempo para propostas.

Ele afirma que a fragilidade atual do partido vem de uma estratégia equivocada desde o impeachment de Dilma Rousseff.

“O partido olhou muito mais para o seu umbigo, com uma única estratégia para voltar ao poder, em vez de propriamente olhar para os problemas sérios do país. Se o PT tivesse sido competente, teria proposto um programa para 2018 antes de pensar na candidatura”, disse Fornazieri.

Além disso, o partido não tem conseguido mobilizar a esquerda para nenhuma das causas importantes dos últimos meses.

Fornazieri lembrou que foram criados slogans de apoio no caso do mensalão, no impeachment (“não vai ter golpe”), nas reformas (“nenhum direito a menos”), agora na condenação (“mexeu com Lula mexeu comigo”), mas nada disso teve efeito prático algum.

Para ele, parece que o PT perdeu a capacidade de mobilização. “Seria normal agora colocar as pessoas na rua, mas até a última greve, do dia 30, foi fracassada”.

“A verdade é que a sociedade foi esquecida pelos partidos políticos. Nem direita, nem esquerda, nem centro estão conseguindo direcionar, e as pessoas estão desmobilizadas e descrentes”, concluiu.

Ânimo para dentro, mas sem olhar para fora

Por outro lado, o sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Baía, acredita que a condenação do ex-presidente chegou a dar fôlego interno para a militância.

“A condenação gerou uma unidade, uma união de discursos dentro do PT. É uma coisa que os partidos da base do governo não têm, a maioria está rachada no que diz respeito a Temer”, avaliou.

A dificuldade, ainda assim, continua sendo o diálogo com o resto da sociedade. Para fora da militância, avalia Baía, quem era contra Lula vai continuar sendo, e quem o defende vai continuar defendendo.

“É um movimento concentrado no PT e nos aliados do PT, e que encontra algum respaldo na área em que eles já têm influência”, afirmou.

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