O POST DELETADO DO INSTAGRAM PETISTA: proposta é criticada por economistas / Instagram/ Reprodução
Da Redação
Publicado em 23 de agosto de 2018 às 17h33.
Última atualização em 23 de agosto de 2018 às 18h05.
Numa eleição carente de propostas concretas para a área econômica, uma promessa em particular tem concentrado as atenções. Durante o debate da Band, no dia 9, Ciro Gomes (PDT) afirmou que, se eleito, tiraria o nome de 63 milhões de brasileiros do SPC, o serviço de proteção ao crédito.
Ciro afirmou que ter o nome sujo é uma “humilhação” e, para solucionar o problema, propõe que bancos públicos e privados fiquem responsáveis por renegociar as dívidas dos consumidores, descontando juros, multas e correção monetária. A dívida média do brasileiro é de 1.512 reais.
Em linhas gerais, a proposta de Ciro é renegociar dívidas e, depois, abrir linhas de crédito na Caixa e no Banco do Brasil e em bancos privados que aceitem cobrar juros menores. O custo do ajuste, segundo o pedetista, é pequeno frente ao impacto positivo que pode trazer para a economia. O candidato afirmou em entrevista à Record que “só quem tem horror a povo” pode ficar contra essa proposta, batizada de “Nome Limpo”.
Ciro vem sendo criticado, nos últimos dias, por não detalhar a proposta, chamada de populista por adversários. Em evento da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços, em Brasília, afirmou que a proposta foi “detalhadamente estudada”, mas não forneceu mais informações porque “meus adversários estão imitando tudo”.
Nesta quinta-feira circulou em grupos de WhatsApp a informação de que a chapa de Lula e Fernando Haddad teria criado uma proposta semelhante à de Ciro Gomes, inclusive com o mesmo título: “Nome Limpo”. A informação, segundo EXAME apurou, foi de fato publicada no Instagram da campanha, mas apagado logo depois. Também foi postada no Facebook do PT, no dia 9 de agosto (mesmo dia do debate da Band), e também não está mais lá. Segundo a assessoria de imprensa da campanha petista, as postagens foram recolhidas das redes sociais para serem “refeitas”.
A assessoria também afirmou que: “O conceito do programa é financiar as pessoas que podem ser financiadas, mas que estão com o nome sujo. Desta forma, será possível devolvê-las à sociedade de consumo para movimentar a economia”.
Os motivos do vaivém petista estão sendo apurados, mas só mostram como a proposta vai continuar gerando polêmica. João Amoêdo, candidato do Novo, gravou um vídeo criticando a proposta de Ciro como uma “solução mirabolante” que vai “transferir a dívida dos bancos privados para os bancos públicos”. “Quem vai pagar essa conta é o dinheiro dos nossos impostos”
Especialista em finanças afirmam que Ciro mira num problema de fato crucial para que o Brasil retome o consumo e a capacidade de crescimento. Mas chamam a atenção para o risco do voluntarismo.
“O Tesouro pagaria para o consumidor e criaria um incentivo para ele se endividar ainda mais no futuro acreditando em um novo socorro”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados e colunista de EXAME. “E ainda há o problema com os bancos públicos. Forçar a cobrança de juros baixos como fez Dilma no passado pode levar a que os bancos tenham que aumentar a provisão para perdas futuras”.
O caminho correto, para Vale, seria aprovar o cadastro positivo, para ajudar a diminuir o spread bancário. O texto-base do projeto foi aprovado na Câmara em maio, mas as principais alterações ainda dependem da votação de destaques, que nunca foi feita. O objetivo é permitir que bons pagadores acessem juros menores a partir da nota recebida
Relatório do banco Santander afirma que o percentual de envidados, 41% da população adulta, não é o pior da história. É mais baixo que o de todo o período de junho de 2012 a julho de 2017, e está “bem baixo” do observado em maio de 2016. “A redução da proporção de consumidores inadimplentes nos últimos dois anos ocorre em linha com o ciclo econômico”, afirma o relatório assinado por Maurício Molan. Segundo Molan, o contingente de pessoas em “stress financeiro severo” é próximo de 28 milhões de pessoas, ou 18% da população.
Ainda assim, é um enorme número de inadimplentes. Tirá-los da lista de devedores é, no fim das contas, um objetivo dos mais importantes para o país. Mas é daqueles problemas complexos que dificilmente serão resolvidos com soluções simples. Sergio Vale afirma que a solução passa por centrar esforços nas reformas que podem trazer estabilidade macro-econômica que puxe o crescimento. “É o crescimento e o emprego que devem resolver essa questão, não o voluntarismo do estado”, diz.