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PT cria resolução para alavancar candidatura de Haddad

Escolha de candidatos nas cidades com mais de 200 mil eleitores terá de passar pelo crivo de Lula e da direção nacional. Objetivo é destravar alianças em SP

A medida já está mais do que aprovada e significa que Lula quer escolher quem serão os candidatos. Tudo em nome da campanha de Haddad (Roberto Stuckert Filho/Instituto Lula)

A medida já está mais do que aprovada e significa que Lula quer escolher quem serão os candidatos. Tudo em nome da campanha de Haddad (Roberto Stuckert Filho/Instituto Lula)

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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2012 às 18h52.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem dizendo há algum tempo à cúpula do PT que todo e qualquer sacrifício deve ser feito para eleger o ex-ministro Fernando Haddad em São Paulo. Para isso, o partido que sempre priorizou a candidatura própria decidiu abrir mão de cabeças de chapa em até dez das 26 capitais do país em prol de alianças com as legendas que integram a base aliada do governo Dilma. Mas, até agora, não foi suficiente. E a campanha de Haddad ainda não deslanchou.

A Executiva Nacional do partido decidiu então ir além e anunciou nesta quinta-feira que, a partir de agora, a escolha dos candidatos à prefeitura das cidades com mais de 200 000 eleitores, que tenham emissoras de rádio e televisão locais ou que sejam polos econômicos terá de ser homologada pela direção nacional do partido.

A resolução, anunciada pelo presidente nacional do partido, deputado estadual Rui Falcão, será submetida à votação na reunião do Diretório Nacional no próximo dia 18, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Mas, na prática, a medida já está mais do que aprovada e significa que Lula quer escolher quem serão os candidatos e quais alianças serão formadas para as eleições municipais deste ano. Tudo em nome da campanha de Haddad. Segundo Falcão, a medida evita que a cúpula do partido tenha de interferir nos diretórios municipais, ou seja, dissolver a comitiva local e a eleger uma direção provisória para fazer valer a vontade do diretório nacional.

Apesar de estar com a saúde fragilizada, por causa dos efeitos colaterais do tratamento contra um câncer na laringe, Lula acompanhou toda a articulação de perto e esteve com Rui Falcão logo depois da reunião da Executiva, que foi transferida excepcionalmente de Brasília para o Centro de São Paulo. Em um segundo encontro, na sede do Instituto Lula, no Ipiranga, na Região Sul da cidade, Lula reuniu-se com Falcão e a cúpula da campanha de Haddad. O ex-presidente cobrou que o PT tenha ao menos uma aliança firmada até o encontro municipal de delegados, que acontece no dia 2 de junho, em São Paulo, e referendará o ex-ministro como candidato.

Alianças - A medida anunciada na quinta tem como principal objetivo desfazer os nós que seguram as negociações com PSB, PCdoB e PR. A lógica é simples: se o PT quer o apoio em São Paulo, terá de ceder em outras cidades do país. Os socialistas, por exemplo, exigem a cabeça de chapa nas capitais Recife, Fortaleza, Macapá e Boa Vista e que os petistas desistam de candidaturas em Mossoró (RN) e Duque de Caxias (RJ). “Nós avocamos para a direção nacional tanto Mossoró quanto Duque de Caxias", afirmou Falcão. "No momento devido podemos eventualmente formalizar uma coligação com o PSB."

Segundo Falcão, o PT deve anunciar em breve a aliança com o PSB em Macapá. “Havia um acordo anterior para apoiar o candidato do PT, mas estamos abrindo mão disso em nome de uma aliança mais forte com o PSB”, afirmou.

No final de março, Lula recebeu o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, em seu apartamento em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, para tratar do apoio dos socialistas à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. Campos saiu do encontro - que durou cerca de três horas - sem dizer nem sim nem não ao apelo dos petistas. O governador avisou que a decisão sobre o apoio a Haddad só sai em junho. Uma nova reunião deve acontecer nos próximos dias.


A aposta da direção nacional do PT é que dificilmente o governador pernambucano dirá não a um apelo de Lula. Campos foi ministro no primeiro mandato do ex-presidente e considera o petista seu fiel aliado e padrinho político.

Na quarta-feira, em São Paulo, Falcão voltou a conversar com a direção nacional do PCdoB sobre a possibilidade de uma aliança já no primeiro turno. "Há possibilidades de acordo", afirmou o petista. O PT garantiu ao presidente do partido comunista, Renato Rabelo, o apoio a Renildo Calheiros em Olinda, Pernambuco, e em Jundiaí, interior de São Paulo. Mas é pouco para o PCdoB, que pede também apoio à candidatura da deputada Manuela D'Ávila em Porto Alegre e do senador Inácio Arruda em Fortaleza.

Enquanto os petistas não apresentam nenhuma contrapartida que valha a pena abrir mão da candidatura do vereador Netinho de Paula a prefeito da capital paulista – ele aparece com 8% de intenção de voto na última pesquisa Ibope -, o PCdoB mantém conversas mais do que intensas com o PMDB do vice-presidente Michel Temer. Netinho e o pré-candidato do PMDB à prefeitura, deputado Gabriel Chalita, tem se falado todos os dias. Na avaliação de Chalita, a chapa dos sonhos teria Netinho como candidato a vereador e puxador de votos da coligação para a Câmara Municipal de São Paulo.

Nesta quinta-feira, um dia depois da reunião com o PT, a direção comunista se reuniu com Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Skaf ofereceu um almoço para a direção do PCdoB em São Paulo como forma de uma primeira aproximação com vistas à sua candidatura a governador em 2014. Sem representantes na Câmara Municipal, o PMDB acredita que a aliança já em 2012 com o PCdoB beneficiaria os dois partidos: os comunistas entrariam com os candidatos a vereador e a legenda do vice-presidente Michel Temer com o tempo de TV.

Sinal amarelo - A falta de alianças e a estagnação nas pesquisas eleitorais – levantamento do Ibope divulgado nesta quarta-feira mostrou o petista com apenas 3% das intenções de votos – acenderam sinal amarelo no partido. Pesquisas internas do PT mostram que, a cerca de um mês das convenções partidárias, Haddad ainda é desconhecido por 70% da população paulistana.

O discurso, porém, nas palavras do próprio Rui Falcão é de que a campanha está sendo tratada de “forma muito serena”. Mesmo que o clima seja de apreensão, os petistas continuam apostando na cobertura de televisão para alavancar a candidatura do ex-ministro. A TV, acreditam, dará visibilidade a Haddad e fará com que os eleitores passem a identificá-lo com o PT e com Lula. "Temos indicações bem fundamentadas de que o conhecimento do nome de Haddad tem um amplo potencial de crescimento que aponta para condições de vitória”, afirmou Falcão.

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