Por 53 votos a seis e uma abstenção, a cúpula do partido aprovou uma resolução que costurou divergências internas (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 17 de dezembro de 2022 às 17h47.
O PSOL decidiu neste sábado compor a base do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados e liberar filiados para ocupar cargos na administração federal mediante condições.
O partido reuniu seu diretório nacional no centro de São Paulo para tomar uma posição sobre a relação que terá com o Palácio do Planalto a partir de 2023.
Por 53 votos a seis e uma abstenção, a cúpula do partido aprovou uma resolução que costurou divergências internas, reafirmou o apoio a pautas sociais do novo governo e ressaltou o combate ao bolsonarismo.
No entanto, apesar de afirmar que não terá cargos na nova gestão, abriu exceções para quadros que eventualmente sejam convidados a compor o governo.
"O PSOL não terá cargos na gestão que se inicia. Ainda assim, compreendemos que a indicação de Sônia Guajajara, como liderança do movimento indígena, para o Ministério dos Povos Originários é uma conquista de extrema importância para uma luta tão atacada por Bolsonaro e deve ser respeitada pelo partido", diz a resolução aprovada.
Os filiados que, no caso de convidados, optem por ocupar funções no governo federal devem se licenciar dos espaços de direção partidária, diz o texto. "A eventual presença nesses espaços não representa a participação do PSOL".
A exceção aprovada foi uma forma de unir as alas opostas em relação ao assunto que, em meio a debates acirrados, poderiam levar a dissidências no partido. Na prática, no entanto, libera lideranças a cruzarem a Esplanada e assumirem funções no Executivo.
Crítica da proximidade do PSOL com o PT, a deputada estadual Mônica Seixas (SP) afirma que o resultado da votação é uma vitória sobre a proposta defendida pelo deputado federal Guilherme Boulos (SP) e pelo presidente Juliano Medeiros, principais entusiastas da participação da legenda no governo.
— O Boulos e o Juliano sempre defenderam indicar cargos em ministérios e no segundo escalão. O seu bloco no interior do PSOL não concordou, nem o deles. E, portanto, a partir daí se estabeleceu uma negociação cujo resultado é essa resolução — afirma Mônica.
Para Medeiros, por outro lado, o partido "conseguiu ajustar as diferenças internas e reafirmar o apoio ao governo Lula, ao mesmo tempo mantendo nossa essência combativa em defesa das políticas de justiça social".
Em novembro, em meio aos anúncios de participação de quadros do PSOL na equipe de transição e a expectativa de ter a deputada federal eleita Sônia Guajajara como ministra dos Povos Originários, alas do partido começaram a manifestar sua indignação com a proximidade entre o partido e o PT.
Desde então, várias tendências internas, como o Movimento Esquerda Socialista (MES), do qual fazem parte nomes como Sâmia Bomfim, Mônica e Luciana Genro, vinham tentando levar o partido para, senão uma oposição, ao menos uma posição de independência em relação ao PT.
PSOL nasce como dissidência
O PSOL nasceu de uma dissidência do governo Lula. O partido foi fundado em 2004 após a expulsão dos parlamentares Heloísa Helena, João Fontes e Luciana Genro do PT. Uniu-se então a movimentos sociais e a intelectuais descontentes com a gestão petista e, a partir de então, fez oposição tanto a Lula (2003-10) quanto a Dilma Rousseff (2011-16).
Então candidata a presidente da República pelo PSOL em 2014, Genro chegou a comparar Dilma e o candidato tucano Aécio Neves como "irmãos siameses" durante a campanha.
O partido voltou a se aproximar dos petistas no impeachment da presidente, a que muitos quadros chamam de golpe, foi contra a prisão de Lula no âmbito da Operação Lava-Jato e entrou de cabeça na campanha pela eleição de Lula.