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PSL dá espaço a descontentes, dizem analistas

O partido considerado nanico até o domingo da eleição na segunda se tornou a maior bancada da Câmara, com 52 deputados

Bolsonaro: "Essa eleição revela o desejo de segmentos da população de renovar a composição do Congresso" (Paulo Whitaker/Reuters)

Bolsonaro: "Essa eleição revela o desejo de segmentos da população de renovar a composição do Congresso" (Paulo Whitaker/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de outubro de 2018 às 13h48.

São Paulo - Na carona da popularidade do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), candidatos de sua sigla transformaram um partido considerado nanico até o domingo da eleição na segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados. No Senado, a sigla estreia já com 4 assentos. Na avaliação de analistas, o PSL abriu as portas para setores da sociedade que estavam descontentes e almejavam maior representatividade, sem necessariamente ter uma identidade ideológica definida.

"Essa eleição revela o desejo de segmentos da população de renovar a composição do Congresso. Eles encontraram um canal no PSL e na proposta de Bolsonaro, por fazerem uma crítica muito séria contra os outros partidos e o modo tradicional de fazer política", avalia o cientista político da USP José Álvaro Moisés. O analista considera "evidente" que a bancada faz parte de uma onda conservadora, mas, em sua opinião, "isso não quer dizer que não seja também uma renovação".

Para Moisés, o fato de Bolsonaro ser um capitão reformado que elogia as Forças Armadas deu alternativa a certos grupos descontentes. Os militares, afastados da disputa de poder político desde a redemocratização, encontraram no PSL um canal para viabilizar sua participação. Empresários também.

Joyce Luz, cientista política e professora da Fundação Escola de Sociologia (FESP), segue linha semelhante para explicar o perfil dos bolsonaristas. "Renovação, neste sentido, é aquilo que não tem nada a ver com a política anterior. O PSL parece ter aberto as portas para esses candidatos", afirma.

Diversidade

Para os analistas ouvidos pelo Estado, o fato de a diversidade do perfil dos bolsonaristas estar praticamente na mesma proporção que nos demais partidos é uma casualidade. A professora da FESP não vê relação entre o perfil dos eleitos e as prioridades do eleitorado nesta disputa. Joice Hasselmann, a deputada federal mais votada do País, por exemplo, não explorou o fato de ser mulher em sua campanha.

"É difícil pensar que o eleitor que escolheu os candidatos do PSL tenha pesado que eram mulheres, negros, pardos, etc. Não que sejam racistas, machistas, essas coisas. Mas talvez esse fator não seja decisivo para o voto", argumenta a professora da FESP. O discurso fortemente militarizado, de privilégio da segurança, provavelmente é a principal bandeira deles, complementou José Álvaro Moisés. Os militares são 25% dos deputados federais da legenda.

O fato de mulheres e negros terem sido eleitos no partido de um candidato que ofendeu negros e mulheres não significa que os interesses desses segmentos estarão representados no Congresso. A análise é do professor de Ciência Política da USP Glauco Peres. Para ele, é preciso observar se os parlamentares terão espaço de liderança nas bancadas e no partido, entre outros elementos.

Uma hipótese para o patamar ter sido, mais ou menos, o mesmo na eleição de mulheres pode ser atribuído à cota estabelecida neste ano pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de reserva de 30% de recursos do fundo eleitoral e do tempo de rádio e TV. "O fato de ter uma legislação que proporciona espaço para que as mulheres fossem votadas, de algum jeito, pode ter levado a uma maior representação das mulheres", afirma Glauco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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