Brasília - O ministro das Cidades, Bruno Araújo, durante cerimônia de assinatura da portaria que regulamenta o Programa Cartão Reforma (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de novembro de 2017 às 08h47.
Brasília - O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), pediu demissão do cargo nesta segunda-feira, 13, pouco antes de participar de uma cerimônia, no Palácio do Planalto, preparada para ser uma "agenda positiva" do governo.
O movimento do primeiro tucano a deixar a equipe deflagrou a reforma ministerial planejada pelo presidente Michel Temer para obter apoio político no Congresso e conseguir aprovar as mudanças na Previdência.
Em carta dirigida a Temer, que foi pego de surpresa, Araújo mencionou indiretamente o racha interno vivido pelo PSDB. Disse que não tinha mais o aval do partido para continuar no comando da pasta.
"Agradeço a confiança do meu partido, no qual exerci toda a minha vida pública, e já não há mais nele apoio no tamanho que permita seguir nessa tarefa", escreveu.
Quatro horas depois, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou nota confirmando que "o presidente dará início agora a uma reforma ministerial que estará concluída até meados de dezembro".
Araújo conversou com Temer pouco antes de acompanhá-lo na entrega do Cartão Reforma. Já estava demissionário quando participou da cerimônia. Moradores de Caruaru, em Pernambuco - reduto eleitoral do ex-ministro - receberam o cartão. Ali, o tucano chegou a usar verbos no passado sobre o período em que comandou a pasta das Cidades, mas ninguém na plateia percebeu que ele estava de malas prontas para deixar a Esplanada.
Deputado licenciado, Araújo disse ao Estado que não havia mais "clima" para permanecer no ministério porque o PSDB não lhe dava respaldo para isso. "Agora, vou me dedicar a trabalhar pela unidade do PSDB", afirmou ele, que não quis confirmar se será candidato ao governo de Pernambuco, em 2018. "Vou retomar o meu mandato na Câmara e construir alianças para o ano que vem."
A saída do ministro das Cidades - uma das pastas mais cobiçadas da Esplanada - escancara a crise na coalizão governista. O Centrão pressiona Temer para tirar todos os tucanos do primeiro escalão, se quiser aprovar a reforma da Previdência. Formado por partidos como PP, PR, PSD e PTB, o bloco ameaça paralisar outras votações na Câmara, caso não seja atendido.
Sem Cidades, o PSDB ainda tem três ministérios (Secretaria de Governo, Relações Exteriores e Direitos Humanos). A tendência é de que a pasta antes ocupada por Araújo seja entregue ao PP, justamente o partido que mais fez ameaças a Temer.
Cota
No Planalto, auxiliares de Temer afirmam que a ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, também deve deixar o cargo. Ela esteve ontem com o presidente em evento no Rio.
Temer pretende manter, em sua cota pessoal, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira - que será candidato à reeleição ao Senado - e Antônio Imbassahy, titular da Secretaria de Governo. Mas Imbassahy deve ser deslocado para outra pasta, porque o Centrão cobra mudança na articulação política do Planalto com o Congresso.
Dos atuais 28 ministros, pelo menos 17 pretendem disputar as eleições de 2018 e terão de deixar os cargos até abril. A intenção do presidente, porém, é de que os candidatos saiam ainda neste ano para que os novos já assumam com o orçamento de 2018.
"Todos os ministros que forem disputar as eleições estarão sujeitos à reforma até dezembro", afirmou o deputado Baleia Rossi (SP), líder do PMDB na Câmara, que esteve ontem com Temer. O presidente já marcou uma série de reuniões para tratar do assunto.
O presidente também não quer ficar a reboque do PSDB, que em 9 de dezembro fará convenção e deve anunciar o rompimento com o governo. O presidente licenciado do partido, senador Aécio Neves (MG), admitiu no sábado que os tucanos deixarão o Executivo.
"Vamos sair do governo pela porta da frente, da mesma forma que entramos", disse. Temer vai aproveitar a demissão de Araújo para começar a fazer as trocas na equipe. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.