PEC do voto impresso: 14 deputados não seguiram a orientação do PSDB e votaram a favor (Cleia Viana/Agência Câmara)
Agência O Globo
Publicado em 12 de agosto de 2021 às 08h09.
Pressão de bases eleitorais conservadoras e tentativa de aproximação com o Centrão são os principais motivos usados por tucanos para explicar por que 14 deputados do PSDB não seguiram a orientação do partido e se posicionaram a favor da PEC do voto impresso anteontem. Agora, a executiva nacional estuda bonificar aqueles que seguiram a indicação de voto da sigla, passando mais recursos do fundo eleitoral para os 12 parlamentares que ficaram contra a proposta. Outros seis se abstiveram ou faltaram.
Segundo líderes do partido, deputados de regiões ruralistas no Norte, Sul e Centro-Oeste preferiram se manter fiéis ao seu eleitorado nas bases que ainda são, em boa parte, de maioria bolsonarista. Um dos exemplos é a deputada Mariana Carvalho, de Rondônia, onde o seu aliado e governador Marcos Rocha (PSL) é próximo ao presidente.
Há ainda casos de parlamentares com base evangélica e com eleitores em comum com o presidente, como a deputada Rose Modesto, do Mato Grosso do Sul. Pesaram também interesses regionais, como o de Edna Henrique, da Paraíba. Lá, o candidato que o PSDB deve apoiar ao governo estadual é Romero Rodrigues (PSD), aliado de Bolsonaro.
Outro caso que chamou atenção foi o de Lucas Redecker (RS), que, após sofrer pressão de apoiadores nas redes, alegou que a medida daria mais transparência às eleições, embora não desconfie das urnas. Redecker é um dos principais aliados do governador Eduardo Leite, pré-candidato às prévias do partido.
— Nem todos os nossos parlamentares conseguiram enxergar que, embora seja legítima a discussão, sob Bolsonaro e suas intenções qualquer alteração seria um enorme erro — disse Leite ao GLOBO.
O governador de São Paulo, João Doria, foi mais enfático e criticou os deputados que votaram a favor da PEC:
—Lamento parlamentares, inclusive do meu partido, que tenham tido esta posição. Os sete deputados de São Paulo votaram contra.
Ao longo do dia, o PSDB foi criticado nas redes pela posição a favor do voto impresso e por ter pedido auditoria dar urnas em 2014.
Onze dos 31 parlamentares do PSB votaram a favor da PEC. Segundo integrantes da bancada, trata-se de um grupo considerado alheio aos valores de esquerda do partido.
Seis parlamentares haviam sido processados pela sigla por votarem a favor da reforma da Previdência, em junho de 2019, contra orientação da legenda.
Nos outros casos, a posição é justificada por pressão de redutos eleitorais conservadores ou alinhamento mais ideológico ao presidente da República.
Rodrigo Coelho (SC), por exemplo, ostenta fotos ao lado de Jair Bolsonaro, ministros e o empresário Luciano Hang. Em janeiro, ele já havia contrariado o partido ao apoiar Arthur Lira (PP-AL), para presidência da Câmara.
Já Jefferson Campos (SP), Liziane Bayer (RS) são pastores evangélicos e costumam votar junto do governo em pautas de costumes.
— Como não teve fechamento de questão, tivemos alguns parlamentares que entenderam que, apesar do sistema atual ser confiável, poderia ser aprimorado — minimizou Danilo Cabral, líder do PSB.
No PDT, que também puniu deputados por votaram pela reforma da Previdência, seis deputados ficaram do mesmo lado de Bolsonaro.
Pompeo de Mattos (RS), não traiu o partido na votação da Presidência. Antigo defensor da proposta, há semanas ele vem mencionando Leonel Brizola, fundador do partido e crítico da urna eletrônica ao defender a PEC.
— O PDT tem 27 deputados e houve seis votos favoráveis, dois deles de deputados que já estão de saída do partido. Número normal para um tema que não é programático — disse Wolney Queiroz, líder da sigla.
O presidente do Conselho de Ética da sigla, Marcos Ribeiro, afirmou que vai abrir um processo contra o grupo.
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