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Da Redação
Publicado em 7 de março de 2013 às 22h10.
O cardeal brasileiro João Braz de Aviz percorreu um longo caminho do sul do Brasil, onde nasceu em uma família humilde, até os corredores do Vaticano onde hoje aparece como possível sucessor do papa Bento XVI.
Aos 65 anos, o progressista arcebispo emérito de Brasília não só ultrapassou distâncias geográficas ou sociais, mas também outros obstáculos mais complexos quando realizava um intenso trabalho pastoral nas favelas brasileiras, o país que tem o maior número de católicos no mundo.
Em 1983, foi sequestrado por dois jovens que tentavam assaltar um carro-forte em Apucarana, no estado do Paraná. Na fuga da polícia, os jovens fizeram com que ele intercedesse pelos ladrões com os agentes que, na escuridão da noite, dispararam contra ele diversas vezes e o feriram por todo o corpo.
"Jesus, por que devo morrer aos 36 anos?", se perguntava o sacerdote, que disse a um jornal italiano ter escutado uma resposta divina que o tranquilizou: "Eu morri aos 33 anos, você já tem três anos mais que eu", disse a voz. Ele sobreviveu.
Ordenado sacerdote em 1972, bispo em 1994 e nomeado cardeal por Bento XVI em fevereiro de 2012, Braz de Aviz foi chamado ao Vaticano em 2011 para se tornar o prefeito da Sagrada Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, responsável por cerca de 800.000 religiosos e religiosas em todo o mundo.
João Braz de Aviz era arcebispo de Brasília desde 2004.
Esta será a primeira vez que participa de um conclave para a eleição do Papa. Braz de Aviz estará junto a outros compatriotas como o arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer, outro nome que soa como possível sucessor de Bento XVI.
Um total de 115 cardeais eleitores escolherão o novo pontífice.
Braz de Aviz nasceu no dia 24 de abril de 1947 na pequena cidade de Mafra, no estado de Santa Catarina. Segundo de oito irmãos, se mudou com a família para o vizinho estado do Paraná seguindo a profissão de seu pai, que trabalhava como açougueiro.
"A decisão de olhar pelos pobres nos dava uma esperança grandíssima, sobretudo para nós, que vínhamos de famílias pobres", contou evocando seu início como sacerdote em declarações à revista italiana '30 Dias', após recém chegar a Roma para seu novo cargo.
"Estávamos dispostos a deixar tudo, inclusive o seminário, se aquele ímpeto não fosse recebido e abraçado na realidade eclesial que vivíamos", acrescentou sobre a Teologia da Libertação, a corrente latino-americana que surgiu na década de 1960 a favor dos mais pobres.
Braz de Aviz, membro do movimento dos Focolares, formado em teologia em Roma, não seguiu os caminhos da Teologia da Libertação, apesar de reconhecer sua influência na Igreja Católica.
"Continuo convencido de que em toda aquela história ocorreu algo realmente grande para toda a Igreja, que a opção pelos pobres é uma eleição de Deus, como se vê no Evangelho", salientou.
Quando foi nomeado cardeal por Bento XVI, Braz de Aviz surpreendeu em uma entrevista ao pedir à Europa e aos Estados Unidos que descessem do pedestal para olhar com outros olhos a América Latina.
"Na América Latina e em outras partes temos que admirar a grande história da Europa, sua beleza. Mas a Europa, por sua vez, deve descer das alturas e ter uma atitude fraternal com os outros continentes e deixar de olhar os demais do alto".
Descrito como uma pessoa "aberta" e "próxima", Braz de Aviz organizou, como arcebispo de Brasília, o XVI Congresso Nacional Eucarístico.
"Era muito aberto, sempre teve uma relação muito aberta não apenas com o clero, mas também com o povo", contou à AFP o sacerdote Emerson Barros, encarregado das comunicações do arcebispado de Brasília.
"Por exemplo, manteve uma relação muito estreita com as igrejas evangélicas. Há pastores que falam muito bem dele", ressaltou.
O Brasil - onde 123 de seus 194 milhões de habitantes se declaram católicos - tem vivido nos últimos anos um explosivo crescimento do culto evangélico.
Considerado progressista, o cardeal disse que "existe a possibilidade" de um latino-americano ocupar o trono de Pedro e que ele é candidato, assim como o resto dos cardeais.