Manifestantes encenam o derramamento de lama causado pelo rompimento de barragens em Mariana (MG), na sede da Vale (Sergio Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2015 às 21h23.
Uma manifestação em frente à Vale, no centro do Rio, reuniu hoje (16) cerca 600 pessoas na estimativa dos manifestantes e 150 pelos cálculos da Polícia Militar.
Eles fizeram uma concentração nos jardins do Palácio Gustavo Capanema, prédio do Ministério da Cultura, que fica ao lado da sede da empresa.
Os manifestantes seguiram em caminhada até a porta da empresa. Usando maquiagem e um plástico marrom que unia dez pessoas, o grupo encenou o derramamento de lama, que ocorreu após o rompimento, no dia 5 deste mês, de duas barragens da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton.
A onda de lama destruiu Bento Rodrigues, distrito de Mariana, e chegou a outras regiões de Minas Gerais e do Espírito Santo.
As pessoas se organizaram pelo Facebook, após o sociólogo Marcelo Castanhedo publicar uma mensagem marcando o evento para pedir punição para os responsáveis pela tragédia. “Eu criei o evento junto com uma amiga e foi tendo adesões de pessoas interessadas”, disse Marcelo.
Na quarta-feira (18), segundo o sociólogo, haverá uma concentração no Largo de São Francisco, no centro do Rio, para analisar os efeitos da manifestação de hoje. “O objetivo é criar um âmbito de discussão, que a gente não sabe se vai ser um fórum, uma articulação para debater a questão socioambiental com foco na mineração, porque a gente acredita que o problema não é só a Vale. A Vale é só o começo”, afirmou.
A economista Sandra Quintela, que participou do ato, disse que é preciso ter mais critério na legislação que trata da mineração. “Existe uma legislação que está andando, em nível estadual em Minas Gerais, que flexibiliza ainda mais o licenciamento ambiental, o que é perigosíssimo. A gente acha que tem que ter mais critério. A mineração é uma coisa que produz muitos danos, e a gente precisa repensar o que está acima. A vida ou o lucro”.
No ato, foi lido o manifesto #NãoFoiAcidente em que os integrantes ressaltaram que o derramamento de milhões de toneladas de lama tóxica foi um crime e vai levar tempo até que se chegue à dimensão exata dos danos causados. O texto indica ainda que a tragédia é consequência da falta de respeito a questões de segurança tanto de trabalhadores como das comunidades próximas. Pede ainda que o Congresso Nacional discuta mais o Novo Código de Mineração.
“Está na hora da sociedade civil se organizar em grupos e propor através de documentos e manifestos que tipo de mineração a gente aprove ou não”, disse Júlio Barroso, produtor cultural que leu o manifesto durante a manifestação.
Em nota, a Vale informou que “respeita e valoriza o direito constitucional de livre manifestação”. A empresa diz ainda que, desde do dia 5, vem dando total apoio e assistência às equipes envolvidas no resgate e atendimento às famílias atingidas, nos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo.
“A Vale, mais uma vez, vem expressar que não medirá esforços para apoiar as ações emergenciais nestas localidades, bem como ajudar na recuperação ambiental do Rio Doce”, acrescentou.
Por causa da manifestação uma das pistas da Avenida Graça Aranha, próximo ao prédio da Vale, ficou com o trânsito interrompido. O policiamento foi feito por 35 policiais militares sob o comandado do major Dutra. Segundo ele, a presença dos policiais foi para dar segurança aos participantes do ato.