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Protesto de índios paralisa obra de hidrelétrica entre MT e PA

O grupo quer a demarcação de uma terra indígena e a retomada de urnas funerárias consideradas sagradas pelos índios e que teriam desaparecido na construção

Indígenas: a companhia afirmou que segue em tratativas com os mundurukus (Lunae Parracho/Reuters)

Indígenas: a companhia afirmou que segue em tratativas com os mundurukus (Lunae Parracho/Reuters)

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Reuters

Publicado em 17 de julho de 2017 às 21h55.

São Paulo - Um protesto com cerca de 200 indígenas da etnia munduruku paralisa desde a madrugada de domingo as obras da hidrelétrica São Manoel, entre o Mato Grosso e o Pará, disseram à Reuters nesta segunda-feira lideranças da manifestação.

A pauta de reivindicações do grupo para deixar o canteiro de obras inclui a demarcação e homologação de uma terra indígena e a retomada de urnas funerárias consideradas sagradas pelos índios e que teriam desaparecido em meio à construção da usina.

A companhia que administra a usina afirmou, por meio de nota, que segue em tratativas com os mundurukus e com órgãos competentes e disse estar "comprometida em encontrar uma solução que garanta a segurança das comunidades locais, colaboradores e do empreendimento".

A empresa informou, ainda, que cumpre com as condicionantes ambientais.

Orçada em mais de 3 bilhões de reais, São Manoel tem como acionistas Furnas, da Eletrobras, a EDP Energias do Brasil e a chinesa Three Gorges.

A usina precisa entrar em operação em janeiro de 2018, mas as empresas esperam antecipar esse cronograma para outubro deste ano.

"A obra está totalmente parada... a gente vai permanecer aqui enquanto nossas reivindicações não forem atendidas", disse à Reuters Valdenir Munduruku, um dos líderes do movimento que ocupou o empreendimento.

Ele disse que o grupo exige também a presença de executivos das empresas responsáveis pela hidrelétrica e de autoridades para negociar, como os presidentes do órgão ambiental Ibama e da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o ministro da Justiça, além de representantes das pastas de Meio Ambiente e Minas e Energia.

Valdenir contou também que os indígenas no local receberam um aviso de que o grupo de empresas responsável pela hidrelétrica entrou na Justiça com um pedido de reintegração de posse da área.

"A gente sabe que a empresa entrou com pedido... mas a gente está aqui e não é isso que vai nos intimidar, vamos continuar firme na luta para que nossos direitos sejam respeitados e atendidos", afirmou.

A área que os índios querem ver demarcada corresponde à Terra Indígena Sawré Muybu, com 178.173 hectares, uma área de ocupação tradicional do povo munduruku. A Funai concluiu em abril de 2016 os estudos de identificação e delimitação da região, nos municípios de Itaituba e Trairão, Pará, segundo informação do site da fundação.

O movimento dos indígenas tem sido apoiado pelo grupo Fórum Teles Pires, que reúne diversos grupos de ativistas contrários à construção de hidrelétricas na região do rio Teles Pires.

Procurada, a Eletrobras disse que não iria comentar. EDP Brasil e China Three Gorges não responderam imediatamente a pedidos de comentário.

Segundo a Empresa de Energia São Manoel, responsável pela usina, a Funai confirmou uma reunião com o grupo indígena na quarta-feira.

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