Neste mês, a Anvisa ordenou ao serviço público encarregar-se das cirurgias das mulheres que precisarem (Anne-Christine Poujoulat/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2012 às 19h15.
Porto Alegre - "Era como se fosse uma tempestade de silicone no meu corpo, acompanhada de dor e febre durante meses e de muita incerteza". Foi assim que se sentiu a brasileira Jany Simon quando o implante de mama da marca francesa PIP rasgou em seu corpo.
Jany Simon, de 54 anos, gaúcha de São Gabriel, é uma das mais de 12.500 brasileiras que receberam próteses da empresa acusada de utilizar silicone de pior qualidade e cujo fundador, Jean-Claude Mas, foi detido nesta quinta-feira.
Ela contou que nos exames de rotina efetuados em março de 2005 foi constatado um carcinoma na mama esquerda e uma aglomeração de células do mesmo tipo na mama direita.
"Tiraram as duas mamas, e eu preferi colocar as próteses na mesma cirurgia. O mastologista, concordou, desde que eu colocasse o implante com que estava habituado. O meu plano de saúde pagava por um nacional, de valor menor, pelo que paguei a diferença".
"No entanto, em novembro de 2009 começaram a aparecer problemas, com o braço e o peito direito inchando. O mastologista pediu que ela retornasse a Porto Alegre e na ultrassonografia foi constatado o rompimento da prótese da mama direita".
A estilista e mãe de família não quis correr riscos e decidiu, simplesmente, retirar o implante. Mas foi aí que começou sua via-crúcis, para que o médico, a importadora e o fabricante fossem responsabilizados.
"Estava cada vez pior, com mais febre, e não podia trabalhar", desabafou.
O médico disse que era impossível, que isso não podia acontecer com essas próteses; mesmo se tivesse havido algum acidente, algum golpe, o gel não sairia da cápsula. Respondeu-me que não havia necessidade de pressa, que ele estava saindo de férias, voltaria em março e retiraria.
Em maio de 2010 consegui uma ordem da justiça para a operação de retirada da prótese, uma cirurgia que durou cinco horas.
O cirurgião "ficou apavorado na época porque eu estava cheia de silicone solto, no tórax; os resultados da ressonância e os laudos falavam de uma tempestade de silicone. Estava cheia de gotinhas espalhadas pelo tórax".
Mas as complicações não acabaram. Depois de vários exames, que "foram um horror para mim e para minha família", foram localizados resíduos de silicone em nódulos na axila, pelo que ela precisaria fazer uma nova cirurgia.
(...) Logo depois, soube da resolução da Anvisa, mandei um e-mail contando a minha história e me deram o número de um protocolo e a recomendação de voltar a entrar em contato com o médico.
O escândalo se intensificou em dezembro, quando foi divulgado que essas próteses continham um aditivo perigoso e o governo francês recomendou sua remoção.
"Os fatos que conhecemos indicam que tanto a prótese francesa, quanto a holandesa, podem causar ruptura precoce, com possibilidade de reação inflamatória, pelo que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) recomendou que as pacientes antecipassem a revisão, para comprovar ou não a integridade dos implantes", disse à AFP o presidente da entidade, José Horacio Aboudib, em recente entrevista.
Neste mês, a Anvisa ordenou ao serviço público encarregar-se das cirurgias das mulheres que precisarem.
O fundador da PIP, empresa que fechou as portas em 2010, foi detido nesta quinta-feira na França, como parte de uma investigação por "homicídio e ferimentos involuntários" relacionados às próteses.
Jany Simon entrou na justiça contra a importadora. "Mas não deixo de responsabilizar o governo brasileiro e o médico que me operou. Acho que todos deveriam responder pelo que estou passando eu, meu marido e meus filhos. Não há dinheiro que pague isso", assegurou, questionando "o fato de a agência responsável do governo ter deixado entrar a prótese no país sem a devida fiscalização".